Após a Comissão de Corridas do Hipódromo da Gávea atender a um apelo da comunidade turfística carioca e, conceder um quilo a mais de descarga para as joquetas, as oportunidades de Victoria Mota aumentaram. Depois de sair da escola de aprendizes, a joqueta viu suas montarias se cessarem e claro, seus números caírem.
Mas eis que com esta resolução aos poucos começamos a ver mais vezes Victoria nas pistas. E é óbvio que uma profissional que contava com mais de 140 vitórias quando aprendiz, não havia perdido o talento. Faltavam apenas as "montarias boas".
Isso foi provado no último domingo, mais exatamente na última prova do programa. Montando uma égua que vinha de fracassar redundantemente na última, Victoria Mota deu uma aula de pilotagem, mostrando que além de talentosa já acumula experiência suficiente para os grandes páreos.
Com uma prova ligeira em 1.300 metros, o normal seria correr sua Merida Fada mais próxima das ponteiras, ainda mais quando se tinha seis metros de cerca móvel. Mas a joqueta correu sua pilotada acomodada, chegando a sumir do foco da câmera na entrada da grande curva.
E aí talvez esteja o grande segredo de Victoria quando corre um animal de trás, saber esperar. Fazendo a curva pelo lado de dentro, ganhou muito terreno antes da entrada da reta, contrariando a maioria dos pilotos que na curva já tiravam seus animais pelo externo da pista do numeroso páreo.
Victoria assistiu durante os primeiros 200 metros da reta final diversos animais duelarem pela primeira colocação, sempre por dentro, pela baliza quatro. Merida Fada parecia estar sem nenhuma ação, sem nenhuma chance de vencer, até que Victoria sacou a crioula do Haras Santa Camila pelo lado de fora e embalou a "pitiça" de 402 quilos, dando três "laçaços" de direita.
O final todos já sabem, a egua veio "voando" por fora, com a "sirene ligada" para "matar" as adversárias nos últimos metros. Uma vitória sensacional em um cálculo de percurso incrível. Se fosse pilotada de qualquer outra maneira, fica claro que Merida Fada não venceria a prova.
Após o disco muitos sorrisos, comemoração e demonstração que as mulheres precisam sim ser prestigiadas pelos proprietários e treinadores. Não por serem do sexo feminino, mas por terem talento.
Já comentamos aqui sobre Josiane Goulart no Hipódromo de Maroñas, onde teve que deixar o Brasil para ser mais valorizada. Seria uma pena termos que assistir mais uma profissional qualificada apenas pela televisão.
Parabéns a Daniel Peres e o Stud ACX. E parabéns a joqueta Victoria Mota pelo 176° vitória em pouco mais de dois anos de profissão.
*Foto: Site JCB por Sylvio Rondinelli.