Se existe algo que fomenta a imprensa e consequentemente o esporte são as boas histórias. Estas viram crônicas, que por sua vez se transformam em textos que acalentam a alma e mostram que determinado esporte está muito vivo.
E ontem um acontecimento deixou muitos, inclusive o jornalista que vos escreve reflexivos e esperançosos.
Confesso que o problema e a posterior preocupação com o partidor, passando por uma situação bem desagradável em outro âmbito estavam tornando minha tarde um desastre. Logo a tarde que eu havia trabalhado tanto para divulgar.
E aqui cabe uma menção em especial ao amigo Léo Friedberg, que percebeu que algo de errado estava acontecendo e veio conversar comigo. Em poucos minutos disse as palavras certas para me acalmar.
Até que no quinto páreo da programação tudo começou a mudar. Primeiro com a notícia de que, com grande trabalho da direção do clube e, em especial do Janquiel Makulia, o partidor estava arrumado.
Depois foi a hora de ver e conversar com um dos grandes turfistas do Paraná, que estava presente ontem no clube, Dr. Alexandre Frare. Ele fez questão de trazer para o Clássico que leva o nome de seu saudoso pai (Ciro Frare) sua melhor égua, Itaperuna, que acabara de ganhar uma prova de Grupo 3 no Hipódromo da Gávea.
Um pouco antes dos animais entrarem para o cânter, um amigo em especial surgiu para dar-me um abraço. Humilde como sempre, dentre tantas pessoas de terno, ele vestia uma uma jaqueta jeans. Proprietário de cerca de 15 cavalos, investindo forte no turfe, o amigo Athayde Lopes trazia um sorriso no rosto e a esperança da vitóra de Don Arlindo.
Assumo que a minha torcida até então era para Itaperuna. Alexandre Frare é um abnegado do turfe paranaense, ajuda muito o turfe. O contexto da prova somado a sua presença fariam total sentido para uma vitória de Itaperuna. Inclusive sua égua corria com a farda do Haras Cifra, mesmo pertencendo ao Stud Galope.
Dada a largada, Itaperuna assumiu a primeira colocação. Diversos animais tentaram ultrapassá-la sem sucesso. Até os 150 metros finais o Clássico Ciro Frare 2019 ela dela. Mas em uma atropelada fulminante, Don Arlindo alcançou-a no fim para uma grande vitória.
Confesso que a partir dali minha tarde mudou, surgindo um sorriso em meu rosto. Obvio que todos ali mereciam a vitória, contudo, na minha mente o Seu Athayde merecia mais. E acredito que muitos pensavam como eu.
Fui para o paddock e fiquei esperando o Seu Athayde para lhe dar aquele abraço. Entretanto, até o cavalo estava chegando para a foto da vitória e ele não. O motivo: ele estava literalmente “nos braços do povo”. Era algo lindo, mal se via ele no meio de tanta gente fazendo questão de lhe dar os parabéns pela vitória.
Para evitar que a foto acontecesse sem o proprietário presente, tive que ir até o Seu Athayde e pedir à todos que o abraçavam para que deixassem ele passar para poder tirar a foto da vitória. Foi algo emocionante.
Seu Athayde era abraçado por todos que estavam lá embaixo, turfistas que acompanham sempre as provas. Pessoas humildes, mas que amam o turfe, jogam suas poules e comemoram as vitórias dos amigos como se fossem a deles.
Estes turfistas que comemoravam com o Seu Athayde eram aqueles que o conheciam na década de 70, quando ele ainda tinha cavalos com a família Menegolo. Eles ali se sentiam tão vitoriosos como o dono de Don Arlindo.
Enfim, depois de um longo tempo, muitos abraços e comemorações, Seu Athayde Lopes chegou à foto da vitória, que estava lotada de amigos. Foi uma festa linda, que mostra o quanto o turfe é grande e vive muito mais das amizades que de qualquer outra coisa.
Após o burburinho eu consegui dar o abraço no amigo Athayde, que estava acompanhado da esposa na nossa grande festa. Meu colega de chope nos barzinhos da Orla de Botafogo me deu o seguinte recado: “Daqui a pouco é a sua vez”.
E foi. No décimo páreo o El Poker venceu. Antes de ir embora, esgotado física e emocionalmente após um Festival maravilhoso, voltei a encontrar o Seu Athayde. Ele, simples como sempre, me disse apenas: “Seu troféu é mais bonito que o meu”. Ali se findava minha noite, ao lado de um grande amigo. Mais que isso, uma grande inspiração!
*Fotos: Divulgação JCPR por Felipe Neves.