O desfecho que todos querem, mas ninguém sabe como começar

Carlos Augusto Vieira da Costa

Foto de divulgação

Em sua estada em Nova York, para participar e discursar na Assembleia Geral da ONU nessa semana, Lula terá a derradeira oportunidade de reparar uma gafe histórica. Refiro-me à sua fala em que, de modo indireto, culpou Zelensky pela invasão Russa.

Não que Lula estivesse errado. Também penso que o presidente ucraniano foi ingênuo ao cair no “conto do vigário” armado pelos EUA para que Zelensky enfrentasse as provocações de Putin a respeito do ingresso da Ucrânia na OTAN. E a razão é simples: os EUA adoram uma guerra, sobretudo quando ela acontece longe do seu território, pois a sua indústria bélica é politicamente muito forte, e precisa vender armas para faturar. E não há melhor oportunidade para desovar o seu estoque que uma guerra.

E se a guerra for contra a Rússia, seu oponente histórico, então os EUA gostam mais ainda, pois ninguém sai de um conflito armado fortalecido, e o desgaste do Kremlin tem sido mais do que evidente, tanto do ponto de vista econômico, quanto político. E tudo sem uma única baixa americana.

Por isso, Lula não está errado quanto Zelensky, pois o fato é que o presidente ucraniano se deixou empurrar  para o conflito sem computar em seus cálculos o sofrimento do seu povo, que em última análise é quem está pagando a conta.

O problema é que na política, como na vida em geral, a sinceridade deve ser evitada. Não por outra razão,  aliás, que a diplomacia é o carro chefe das relações internacionais.

Assim, ao se encontrar com Zelensky em NY, nessa quarta-feira, Lula poderá se redimir dizendo a verdade da forma como deve ser dita. Ou seja, que Zelensky não foi culpado pela guerra, mas pode ser o responsável pela reconstrução da paz, recuperando as justificativas do conflito e aceitando que a Ucrânia não ingressará na OTAN.

Alguém poderá dizer que isso seria capitulação. Talvez, mas seria uma capitulação para salvar milhares de vidas, e interromper a escaldada da dívida com o ocidente que já retirou da Ucrânia décadas de autonomia.

Talvez esteja aí o início do fim da guerra, que todos querem, mas ninguém sabe como começar.

Carlos Augusto Vieira da Costa é Procurador do Município de Curitiba