
“Ennio, Ennio, Ennio. Ciao, Grazie”. Assim o mundo do cinema se manifestou nesta segunda-feira (6), diante de uma notícia triste: O compositor italiano Ennio Morricone, de 91 anos, havia morrido em Roma. “Ennio Morricone morreu em 6 de julho, consolado pela fé. Ele permaneceu “totalmente lúcido e com grande dignidade até o último momento”, disse o advogado e amigo da família Giorgio Assuma em comunicado, citado pela imprensa.
Aos 91 anos, Morricone estava bem de saúde até alguns dias atrás. Em 5 de junho, ele foi anunciado o vencedor, ao lado do também compositor John Williams, com o prêmio Princesa das Astúrias das Artes na Espanha. Contudo, há alguns dias sofreu um acidente doméstico e fraturou o fêmur. Foi internado em uma clínica em Roma, mas piorou e não resistiu.
Morricone é um dos intocáveis no panteão dos grandes músicos do cinema. Não apenas pelo trabalho prolífico – 520 trilhas sonoras para todos os tipos de filmes, segundo o site IMDB – mas também pela relevância. Milhões de pessoas, cinéfilas ou não, conhecem ou sabem cantarolar temas de filmes que eventualmente nem viram, como o assovio de ‘Três Homens em Conflito’ (1966), ou o solo de oboé de ‘A Missão’ (1986).
O músico nasceu em Roma em 10 de novembro de 1928 em Roma e começou a compor aos 6 anos. Aos 10, foi matriculado em um curso de trompete da Academia Nacional Santa Cecília de Roma. Também estudou composição, orquestra e órgão. Em 1961, aos 33 anos, estreou no cinema com a música de ‘O Fascista’, de Luciano Salce. Nos anos 60, ganhou fama com as trilhas sonoras de westerns-spaghetti, como ‘Por um Punhado de Dólares’ (1964), ‘Por uns Dólares a Mais’ (1965), ‘Três Homens em Conflito’ (1966) e ‘Era uma Vez no Oeste’ (1968). O gênero ajudou a consagrar o ator Clint Eastwood e o diretor Sergio Leone. Esses trabalhos o levaram a ser conhecido na Europa como o “Imperador das bandas sonoras”.
Alguns dos trabalhos mais revelantes do músico, contudo, ocorreram nos anos 80. O primeiro deles foi ‘Era Uma Vez na América’ (1984), em nova parceria com Sergio Leone. A partitura é uma das composições mais desafiadoras, complexas e importantes de sua carreira. Em 1986, fez ‘A Missão’ de Roland Joffé. Para o tema principal, inspirou-se ao ver o ator Jeremy Irons dedilhando o oboé. Com ‘A Missão’, Morricone era o favorito ao Oscar – que seria seu primeiro –, mas perdeu para ‘Por Volta da Meia-Noite’, de Herbie Hancock. Em 1987, assinou a trilha de ‘Os Intocáveis’, de Brian de Palma, que mistura suspense e jazz e leva o público à atmosfera da cidade de Chicago dos anos 1930. Em 1988, compôs a música de ‘Cinema Paradiso’, repleta de delicadeza e nostalgia, que ajudou Giuseppe Tornatore a conquistar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Apesar de tudo, Morricone demorou para ser consagrado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Em 2007, recebeu um Oscar honorário por sua abundante e elogiada carreira musical. Na ocasião, dedicou o prêmio à esposa Maria Travia, com quem era casado desde 1956 e considerava sua melhor crítica. Morricone só ganhou um Oscar mesmo em 2016, já aos 87 anos, com a trilha de ‘Os Oito Odiados’, de Quentin Tarantino. Antes, havia sido indicado (e preterido) por ‘Cinzas no Paraíso’ (1978), ‘A Missão’ (1986), ‘Os Intocáveis’ (1987), ‘Bugsy’ (1991) e ‘Malenà’ (1999). “O maior presente que eu ganhei fazendo esses filmes foi a amizade do maestro Morricone”, disse Tarantino, que afirma ter mais álbuns de música do italiano do que de Mozart ou Beethoven. Afinal, ninguém é chamado de “imperador” à toa.
Trinta trilhas famosas de Ennio Morricone
1964: ‘Por um Punhado de Dólares’, de Sergio Leone
1965: ‘Por uns Dólares a Mais’, de Sergio Leone
1966: ‘Três Homens em Conflito’, de Sergio Leone
1966: ‘A Batalha de Argel’, de Gillo Pontecorvo
1968: ‘Era uma Vez no Oeste’, de Sergio Leone
1969: ‘Os Sicilianos’, de Henri Verneuil
1970: ‘O Pássaro das Plumas de Cristal’, de Dario Argento
1971: ‘Quando Explode a Vingança’, de Sergio Leone
1971: ‘Decameron’, de Pier Paolo Pasolini
1971: ‘A Classe Operária vai para o Paraíso’, de Elio Petri
1971: ‘Sacco e Vanzetti’, de Guiliano Montaldo
1974: ‘Medo sobre a Cidade’, de Henri Verneuil
1975: ‘Saló ou os 120 Dias de Sodoma’, de Pier Paolo Pasolini
1976: ‘1900’, de Bernardo Bertolucci
1978: ‘Cinzas no Paraíso’, de Terrence Malick
1978: ‘A Gaiola das Loucas’, de Edouard Molinaro
1981: ‘O Profissional’, de Georges Lautner
1984: ‘Era uma Vez na América’, de Sergio Leone
1986: ‘A Missão’, de Roland Joffé
1987: ‘Os Intocáveis’, de Brian de Palma
1987: ‘Busca Frenética’, de Roman Polanski
1989: ‘Cinema Paradiso’, de Giuseppe Tornatore
1989: ‘Ata-me!’, de Pedro Almodóvar
1989: ‘Pecados de Guerra’, de Brian de Palma
1991: ‘Bugsy’, de Barry Levinson
1992: ‘A Cidade da Esperança’, de Roland Joffé
1998: ‘A Lenda do Pianista do Mar’, de Giuseppe Tornatore
2000: ‘Vatel, um Banquete para o Rei’, de Roland Joffé
2000: ‘Missão: Marte’, de Brian de Palma
2015: ‘Os Oito Odiados’, de Quentin Tarantino