Hora de fazer um filme sobre Freddie Mercury

Redação Bem Paraná

No primeiro dia de Rock In Rio (em 18/9), o grande destaque foi a banda Queen. Ou, ao menos, o que restou dela, já que o baixista John Deacon se aposentou e o vocalista Freddie Mercury morreu em 1991. O guitarrista Brian May e o baterista Roger Taylor, os remanescentes, tentaram tocar a banda da maneira que era possível. E isso significa que precisavam de um vocalista. Chamaram Adam Lambert, que tem idade para ser filho de um dos dois.

Lambert se esforçou no show no Rio de Janeiro, mas a plateia o tratou com frieza e só relaxou com o passar dos hits. Não é culpa dele. Lambert tem um problema que acomete ele e todas as outras pessoas do planeta inteiro: ninguém consegue competir com Freddie Mercury no palco.

Mas, afinal, quem é esse Freddie Mercury que fez tanta falta no show do Queen? A resposta poderia estar… em um filme. Sua maior utilidade seria resgatar, para plateias mais jovens, quem era a verdadeira “Rainha” do Rock.

A vida de Freddie Mercury tem peculiaridades. Ele nasceu na Cidade de Pedra, em Zanzibar (hoje, Tanzânia), África. Era filho de pais parsis – iranianos que emigraram para a Índia. Morou na Índia e foi para Londres apenas adolescente. Tocava piano, cantava (muito acima da média) e tinha conhecimentos apurados de estética. No mais, a história é similar com a de outros roqueiros. De porte de seus talentos, ele um dia conheceu os caras certos – no caso, Brian May e Roger Taylor – e evoluíram juntos até estourar as paradas com o Queen.

Cinebiografias de artistas de rock não são incomuns. Houve, pode exemplo, Ray (sobre Ray Charles) e Johnny & June (sobre Johnny Cash), com os respectivos atores Jamie Foxx e Joaquin Phoenix indicados ao Oscar (Foxx ganhou).

 

Esses filmes têm coisas em comum: infâncias e adolescências com pontos trágicos, a descoberta do talento musical, a ascensão, o uso de drogas e a queda até chegar o momento de redenção.

A queda de Mercury, no caso, foi diante da Aids. Desde 1986 havia especulações sobre sua orientação sexual e sobre a doença – inclusive com papparazi em frente à sua casa para fazer uma foto dele com cara de debilitado. Segundo pessoas próximas, o diagnóstico com o vírus HIV surgiu apenas em 1987. O cantor só admitiu publicamente a doença em uma nota divulgada no dia 23 de novembro de 1991, um dia antes de morrer. Nesses quatro anos, o músico compôs e cantou até não ter mais forças. Tanto que o Queen lançou o disco Innuendo em 1991 e Mercury ainda deixou material gravado, posteriormente utilizado em Made in Heaven, de 1995.

Mas isso seria apenas um ponto a se explorar. A vida de Freddie Mercury tem mais. Ele compôs Bohemian Rhapsody, uma composição complexa em três atos, que quebrou paradigmas e é considerada por muitos a melhor música da história do rock. Gravou um disco de ópera-rock cantando de igual para a igual com a espanhola Montserrat Caballé. Um detalhe: ele era bissexual, não apenas homossexual. Chegou a ser casado com uma mulher, com Mary Austin, e sempre declarou que era a pessoa da vida dele.

Embora fosse uma pessoa alto-astral às raias da extravagância, algumas das músicas de Mercury invocavam alguém que o salvasse de algo. Tentavam exorcizar demônios interiores. Ou revelavam uma melancolia que não parecia combinar com aquela figura viril que tomava os palcos.

Sua presença de palco, aliás, fez história. Não apenas no Rock in Rio de 1985 – em que a presença pré-confirmada do Queen deu respaldo a bandas estrangeiras para virem ao Rio – mas também nos shows do Live Aid. A apresentação no Estádio de Wembley, em 1986, é considerada pela crítica a maior de um grupo de rock já feita.

Ou seja, há muito a se explorar num filme

Na verdade, uma produção sobre Freddie Mercury é especulada há pelo menos sete anos. Num primeiro momento, Johhny Depp foi cogitado para interpretá-lo. Depois, foi Sacha Baron Cohen, de Borat – os dois, aliás, guardam muitas semelhanças. Mas Cohen teria pulado fora…

Em 2013, Ben Wishaw foi cotado para o papel. Recentemente, o empresário do Queen, Jim Beach, deixou no ar que Cohen estaria de volta à produção, inclusive com funções de fazer o roteiro e dirigir. A resposta de Brian May foi enigmática. “temo dizer que as pessoas tenham levado a sério demais”. May, por sinal, também entra naquela categoria da qual Adam Lambert é o exemplo mais recente. Mesmo sendo um dos melhores guitarristas “de banda” da história do rock, ele também não conseguia competir com Freddie Mercury no palco.