
Hugh Jackman interpretou o mutante Wolverine em X-Men (2000), X2 (2003), X-Men – O Confronto Final (2006), X-Men Origens: Wolverine (2009), X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014) e Wolverine: Imortal (2013), além de pontas em X-Men: Primeira Classe (2011) e X-Men: Apocalipse (2016). E declarou: já deu. O ator já havia anunciado que Logan — que estreia nesta quinta-feira (2/3) em Curitiba — seria seu último filme na pele do mais mal-humorado mutante dos quadrinhos. A despedida é tal que o filme não tem cena pós-créditos, algo que se tornou habitual nos filmes com personagens Marvel. Quando acabar, acabou.
Em seu último filme como herói-mutante, Hugh Jackman entrega um personagem que pouco tem de herói e quase nada tem de mutante. E por isso mesmo é comovente. Wolverine, ou Logan, está numa decadência só. Deixou os dias de heroísmo no passado e seus poderes não funcionam direito. O fator de cura não é mais o mesmo, as garras doem para sair das mãos, a agilidade já era, até a perna anda falhando e o deixa meio manco… Aliás, Logan nem é Logan mais; em suas andanças pelo meio-oeste norte-americano, ele usa o nome de James Howlett — seu nome de batismo, como visto em X-Men Origens: Wolverine.
Esse Wolverine no ocaso está no ano de 2029, em que o filme é ambientado. Envelhecido, ele divide o tempo em duas tarefas. Numa delas, banca o motorista de aluguel de uma limusine, para ganhar uns trocados. Em outra, cuida do professor Charles Xavier (Patrick Stewart, também pela última vez no papel), agora um nonagenário que precisa de remédios para controlar o mal de Alzheimer — e também para não surtar.
Mas uma das características de Wolverine não o abandonou. Mesmo velho, ele é um para-raio de encrencas. Tudo começa quando uma mulher surge do nada e pede que ele cuide de uma menina de uns 11 anos (interpretada por Dafne Keen). Nada de mais, não fosse um bando de valentões suspeitos que está no encalço das duas. Para piorar, Logan descobre por que a menina está sendo caçada. Ela é uma mutante de nova geração, criada em laboratório, e com características que deixam Wolverine pasmo. Garras, fator de cura, adamantium… Logan certamente já viu isso em algum lugar. Fácil de farejar a encrenca. É hora de fugir. E o debilitado professor Xavier precisa ir junto. Parece até um faroeste — e a ambientação do filme ajuda a reforçar essa impressão.
Logan, o filme, se baseia em Velho Logan, um arco de histórias em quadrinhos que traz um Wolverine envelhecido. O filme, seguindo essa premissa, foge bastante do escopo normal de um enredo de heróis de HQs. Não que não haja cenas de luta e violência. Há, e a sanguinolência é grande. Mas Logan segue uma veia muito mais existencialista que o normal em longas do gênero. Jackman está certo quando afirmou, em visita ao Brasil, que “o filme é sobre envelhecer”.
O pecado de Logan é exatamente um efeito colateral da proposta do filme. Faltam explicações, principalmente considerando os longas anteriores do herói. No começo de Dias de um Futuro Esquecido, ambientado em 2023, o herói está com cabelo grisalho, mas ainda em forma. Em seu último filme-solo, que se passa em 2013, Wolverine ainda está inteiraço, mesmo já tendo 160 anos. Como foi envelhecer tanto assim em apenas 15 anos? E cadê os outros mutantes do universo dos X-Men? O filme apenas flerta com eventuais explicações. Deixa um monte de perguntas sem respostas concretas. E, na hora que acabar, acabou. Afinal, não há cena pós-créditos.