De 1937 até 1966, quando morreu, Walt Disney produziu dezenas de desenhos animados. A maior parte deles baseados em literatura infanto-juvenil. Nesse contexto, valia desde histórias de princesas (Branca de Neve, Bela Adormecida, Cinderela) até clássicos britânicos (Peter Pan, O Livro da Selva). Nos últimos cinco anos, a Disney passou o trator neles. Refilmou (Cinderela). Refilmou de maneira diferente (Bela Adormecida, sob o ponto de vista da bruxa Malévola. Distorceu (Branca de Neve). Explorou um ângulo inédito (a origem de Peter Pan). E refilmou de novo. Caso de Mogli: O Menino Lobo, que estreou nesta quinta-feira (14) em Curitiba.

THE JUNGLE BOOK

A marca da Disney nessas cinco obras são tão fortes que quase se esquece que um dia fora obras literárias. Isso vale tanto para o desenho animado clássico quanto para o filme que a Disney produziu nos últimos cinco anos. Há casos em que a distorção beira o inverossímil – por exemplo, imaginar uma delicada Branca de Neve liderando um exército medieval contra a Rainha Má. Há casos em que a refilmagem preenche lacunas deixadas no desenho original – a Cinderella de Kenneth Branagh explica por que a madrasta dela é má.

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Mogli se assemelha mais a este último exemplo. O filme dirigido por Jon Favreau explica, por exemplo, por que o tigre Shere Khan quer tanto matar o menino-lobo – algo que soa apenas como um “capricho” do felino no desenho da Disney. Também discorre melhor sobre a relação de Mogli com os lobos que o acolheram.

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De forma sintética, o novo filme do menino que vive na Jângal indiana procura se equilibrar entre o desenho de 1967 e a obra de Rudyard Kipling. Segue a linha narrativa do primeiro – Mogli é acolhido por lobos, ameaçado pelo tigre, passa apuros com a cobra Kaa, vai morar com Baloo, é raptado por macacos e confronta Shere Khan no fim. Mas reserva algumas surpresas que o desenho não traz, mas o livro sim: uma delas, a importante cena da pedra da paz – quando se descobre por que o tigre é detestado por todos. Há ainda uma referência à emboscada na ravina com os búfalos. E a opinião geral dos animais sobre os elefantes segue o livro.

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Como diferencial a seu favor, este novo Mogli: O Menino Lobo traz uma floresta deslumbrante.

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E, claro, e animais (todos gerados por computador) com muita personalidade. Aliás, a própria personalidade de seus dubladores. O mais carismático deles, o urso Baloo, traz os trejeitos engraçados e cínicos do ator Bill Murray – e Marcos Palmeira, que o dubla em português, capta bem o espírito da coisa. Assim como ele mesmo canta, o filme poderia ser Somente o Necessário. Mas o Extraordinário é demais.

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Curiosidade

Dias antes de Mogli estrear, a Disney já prometeu um Mogli 2. Não falta material. O Livro da Selva de Kipling tem oito histórias com o menino, das quais quatro abasteceram o filme de Jon Favreau. Aqui, um resumo sintético das outras quatro. Mogli se vinga de uma aldeia que tortura a mulher que pode ou não ser sua mãe biológica. Mogli encara a cobra branca (e ganha ajuda de Kaa). Mogli, para defender os lobos, confronta os cães vermelhos. Mogli cresce, aceita-se como homem e sai da Jângal.