Napoleão traz um imperador megalomaníaco e corno

Lycio Vellozo Ribas
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Joaquin Phoenix como Napoleão (foto: divulgação / Apple TV)

Napoleão era megalomaníaco? Sim. E era corno? Sim também, pelo menos na ótica do filme biográfico do líder militar francês que estreia nesta quinta-feira (23) em Curitiba. E essa é apenas uma das polêmicas do filme, dirigido por Ridley Scott.

No filme, Napoleão (Joaquin Phoenix) começa como um líder de artilharia que assume uma tarefa ingrata: expulsar os ingleses da cidade francesa de Toulon. Graças a uma estratégia surpreendente para a época, ele consegue. Ambicioso, ele vai galgando posições dentro das esferas de poder. Nisso, ele conhece Marie Josephine de Beauharnais (Vanessa Kirby), Josefina para os íntimos. Tem bastante “íntimos” dela. Napoleão casa com ela. Ama ela. Exige que ela lhe dê um herdeiro. Às vezes ele a trata como uma escrava (escrava sexual inclusive), às vezes ela o trata como um cachorrinho de madame. A megalomania de Napoleão é retroalimentada por essa relação. Ele não vê pudor em trair Josefina, mas não suporta quando ela faz o mesmo – a ponto de ser acusado de deserção quando larga uma campanha no Egito para tirar satisfações com ela. Quanto mais tensa a relação, mais ele quer invadir, mas ele quer conquistar, mais ele quer guerrear. E mais tensa fica a relação…

Josephine (Vanessa Kirby). Foto: divulgação / Apple TV

O lugar-comum de filmes de personalidades como Napoleão é mostrar uma história de ascensão, queda e eventual redenção em meio a fatos históricos, muitas vezes mostrando os fatores que o fizeram chegar lá. ‘Napoleão’, o filme, tenta mudar o enfoque. Divide as atenções entre as campanhas militares e a relação com Josefina. Um recorte histórico extenso, que vai desde a primeira vitória militar relevante até o exílio na ilha de Santa Helena. Plasticamente bem realizado em termos de fotografia, figurinos e direção de arte. Mas, ao tentar mostrar muita coisa ao mesmo tempo, o filme acaba se perdendo em diversos momentos. Alterna cenas bastante violentas – como a decapitação de Maria Antonieta, deposta na revolução francesa – com momentos até entediantes, como as repetitivas cenas de estouros de canhões com Napoleão tampando os ouvidos. Ficam em segundo plano as duas facetas mais proeminentes de Napoleão: o gênio estrategista e o tirano imperador. Fica em terceiro plano todo o xadrez político da Europa entre o fim do século 18 e o começo do século 19.

Scott tem larga experiência em filmes de época, mas não tem como hábito ser 100% fiel aos livros de história. Em ‘Cruzada’, de 2005, usou um personagem fictício em meio a acontecimentos reais. Em ‘Gladiador’, sugere que um gladiador matou um imperador romano (Commodus, que existiu mesmo) em um coliseu lotado, algo que não tem registro em livros de história. Em ‘Robin Hood’, subverteu a origem tradicionalmente conhecida do homem que rouba dos ricos e dá aos pobres. Em ‘Napoleão’, sua visão sobre o general irritou os franceses. Em boa parte pelo enfoque polêmico na persona de Napoleão, em boa parte pela questionável fidelidade histórica. A eles, o diretor deu respostas como “Você estava lá para saber? Não, né?” ou “Há dez mil livros sobre Napoleão. Não os li. Dei a tarefa para o cara que escreveu o roteiro”. Na pior das hipóteses, o filme indica que tem corno que fica perigoso e por causa disso inventa de guerrear com Deus e o mundo.

Cinco batalhas relevantes de Napoleão

Toulon (1793)

Austerlitz (1805)

Trafalgar (1805)

Campanha na Rússia (1812)

Waterloo (1815)