Peter Pan dá poucas respostas e suscita mais dúvidas

Redação Bem Paraná

Peter Pan já foi contado de todas as formas. Houve o divertido desenho da Disney, de 1953. Houve o sombrio – e mais próximo do livro de J. M. Barrie – filme de 2003. Houve um Peter Pan adulto (Hook: A Volta do Capitão Gancho, de 1991). Houve um filme sobre os “bastidores” da criação da obra (Em Busca da Terra do Nunca, de 2005).

Mas como Peter Pan chegou à Terra do Nunca? Opa, taí um gancho para mais um filme. E eis Peter Pan, de Joe Wright, que estreia nesta quinta-feira (8/10) nos cinemas. O longa reedita uma tendência de se contar acontecimentos anteriores de personagens marcantes. Como A Ameaça Fantasma ou O Hobbit, para citar exemplos mais clássicos.

Peter Pan merece um “filme de origem” porque sua história, por si só, suscita algumas perguntas. Quem ele é? De onde veio? Por que ele não cresce? Como ele consegue voar? Qual a ligação real dele com as fadas? Qual é a do Capitão Gancho? Como exatamente o capitão perdeu a mão?

Dito isso, o Peter Pan de Joe Wright soa promissor. Afinal, sua missão é contar a origem de Peter Pan. Eis que Peter, ainda bebê, é deixado na porta de um orfanato em Londres, com um bilhete e uma flautinha de pan como amuleto. Chama atenção o fato de a mãe dizer que não tem condição de criá-lo, embora seja suficientemente atlética para pular o alto portão do Kensington Gardens com se fosse uma cerquinha de brinquedo.

Passam-se 12 anos. Corta para os bombardeios que Londres sofre durante a Segunda Guerra Mundial – é bom esquecer a gritante incorreção história; o personagem data de 1904. Peter (Levi Miller) é um menino irrequieto, curioso, contestador e rebelde. Tanto que descobre que a freira-chefe do orfanato tem um tesouro e esconde para si a comida que era para ser racionada em tempos de guerra. Mas a freira é pior do que parece: ela vende meninos a piratas que saltam de um navio voador e os levam para… a Terra do Nunca.

Peter, assim como muitos outros meninos, é levado. Acaba virando escravo em uma mina, com a missão de achar pixum – pó de fada petrificado. Quem dá as ordens nessas minas é o pirata Barba Negra (Hugh Jackman, divertidamente irreconhecível).

Contestador que é, Peter se insurge contra ele. E, numa situação-limite, descobre que pode voar. Isso chama a atenção de um rapaz, James Gancho (Garrett Hedlund). Os dois se aliam, fogem das minas, encontram a princesa Tigrinha (Rooney Mara) e, então, Peter vai descobrir sua origem e seu destino – e vai virar Peter Pan, devido à flautinha-amuleto.

Visualmente, tudo parece correto em Peter Pan. Colorido, extravagante, mágico. Há drama, comédia, romance, aventura. E há sacadas diferentes, como transformar a chegada dos novos meninos-escravos em um evento com direito a corais cantando músicas do Nirvana e do Ramones. Ou a presença de um Smee (Adeel Akhtar) ainda sem cabelos brancos. Há também referências rápidas às sereias, à fada Sininho e ao Crocodilo.

Tudo ajuda a mascarar o fato que o filme não só fica devendo respostas, mas suscita ainda mais perguntas. Algumas podem ser respondidas por quem conhece a obra de Barrie ou o desenho da Disney – por exemplo, como os navios voam? Outras ficam sem resposta. De onde vem esse acordo entre a freira e o Barba Negra? Como exatamente Gancho virou pirata? E, principalmente, qual é exatamente a relação entre Peter e Gancho? Responder a essa pergunta é entregar o final do filme para quem não o viu. Não responder é a grande falha de Peter Pan. A menos que isso seja proposital, abrindo caminho para uma continuação.