‘Relíquia do Destino’ faz Indiana Jones reviver

Filme estreia nesta quinta-feira e tem todos os ingredientes de uma aventure típica do herói — e mais alguns extras

Lycio Vellozo Ribas

Indiana Jones (Harrison Ford): mais uma avantura (Fotos: Divulgação / Lucasfilms)

‘Indiana Jones e a Relíquia do Destino’, que estreia nesta quinta-feira (29) em Curitiba, tem todos os ingredientes de uma aventura típica de Indiana Jones, e mais alguns extras. É uma boa notícia, já que o filme carrega certa desconfiança por três motivos: ‘A Caveira de Cristal’, Harrison Ford e James Mangold, nessa ordem.

Em 2008, ‘Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal’ trazia o herói já com seus sessenta e poucos anos, e sem lutar com nazistas – os adversários da vez são os russos. Ford já parecia velho demais para voltar a vestir o chapéu e a jaqueta de couro. Além disso, a inclusão de alienígenas na trama (esse spoiler prescreveu) destoa demais das aventuras anteriores. É verdade que o herói sempre esteve à caça de objetos com elementos fantásticos – a Arca da Aliança em ‘Caçadores da Arca Perdida’, as Pedras Sankara em ‘Indiana Jones e o Templo da Perdição’, o Santo Graal em ‘Indiana Jones e a Última Cruzada’ –, mas nunca em nível extraterrestre.

Se Harrison Ford já parecia velho demais em 2008, não estaria ainda mais velho agora, que está à beira de completar 81 anos (em 13 de julho)? Sim, mas o filme conta com isso. Um cálculo baseado na série ‘O Jovem Indiana Jones’, que passava na TV nos anos 90, permite deduzir que o personagem nasceu em 1897. Portanto, teria 72 anos em 1969, ano em que a trama principal de ‘Indiana Jones e a Relíquia do Destino’ é ambientada. O septuagenário Jones é chamado de “coroa” pelos vizinhos mais jovens, acha que as músicas dos Beatles são barulhentas demais e está prestes a se aposentar como professor de arqueologia da Universidade Hunter, em Nova YorJames Mangold, por sua vez, carrega a responsabilidade de substituir Steven Spielberg, diretor dos quatro filmes anteriores e um dos responsáveis por estabelecer Indiana Jones como um dos maiores (se não o maior) herói legítimo do cinema – lembrando que Batman, Superman, Homem-Aranha e toda a turma da Marvel veio originalmente dos quadrinhos e James Bond veio dos livros. Apesar da pressão, Mangold mostra que aprendeu direitinho a usar os planos, tomadas e movimentos de câmera característicos de Spielberg nos filmes anteriores.

Em linhas gerais, ‘Indiana Jones e a Relíquia do Destino’ traz o checklist obrigatório dos filmes do herói. Começa com uma aventura (geralmente envolvendo outra relíquia) que abre o caminho para a trama principal. Traz um amigo de Indy. Apresenta uma personagem feminina forte, capaz de compartilhar a ação com ele (aqui, ela é Helena Shaw, interpretada por Phoebe Waller-Bridge). Faz com que o herói viaje para diversos lugares diferentes do mundo. E, claro, traz uma alucinada caça ao tesouro com inimigos na cola. Tudo isso ao som da música-tema de John Williams, que está entre as cinco mais icônicas da história do cinema. No desenrolar da trama, Mangold ainda traz referências aos quatro filmes anteriores. Uma delas, talvez a mais divertida: “Fui baleado nove vezes, uma delas pelo seu pai”, diz Jones a Helena.

Só que os tempos são outros. ‘Indiana Jones e a Relíquia do Destino’ deixa bem claro que o verniz e as cores pastel da trilogia antiga – ‘Caçadores da Arca Perdida’ (1981), ‘Indiana Jones e o Templo da Perdição’ (1984) e ‘Indiana Jones e a Última Cruzada’ (1989) – são característicos dos anos 1930 e 1940 e devem ficar lá. O novo filme tem cores mais berrantes e mais vivas, bem de acordo com os anos 1960. Além disso, James Mangold conta com a percepção do público para apresentar um herói fora de seu tempo – que, ainda assim, aparece sem camisa em uma cena e mostra estar em relativa boa forma para uma última aventura. Mesmo que seu tempo tenha passado. Chega a ser poético o fato de o artefato da vez, a relíquia buscada por Indiana Jones, seus parceiros e seus inimigos, seja um objeto ligado ao tempo.

Todos os objetos buscados por Indiana Jones nos filmes