Steven Spielberg está em outra. Isso já era visível em Indiana Jones e a Caveira de Cristal (2008), sem o mesmo ritmo dos demais filmes de Indiana Jones. Não dá para exigir muito, pois o diretor está com 67 anos – faz 68 em 18 de dezembro – e o pique é outro. Ele não é mais um garoto prodígio. E sabe disso. Os filmes de fantasia transformaram Spielberg em Spielberg, mas, nos últimos 10 anos, ele só fez dois longas desse tipo: o quarto Indiana Jones e As Aventuras de Tintin (2011). O resto de seu currículo nesse tempo tem Munique (2005), Cavalo de Guerra (2011), Lincoln (2012) e o mais novo deles, Ponte de Espiões (2015), protagonizado por Tom Hanks e que estreia nesta quinta-feira (22/10) em Curitiba. Todos filmes “sérios”.

BRIDGE OF SPIES

Não que seja um problema. Spielberg tem um status em Hollywood que lhe permite escolher à vontade o que quer fazer. Até porque ele mesmo produz, se for o caso. Ponte de Espiões, ambientado em plena Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética, não é diferente.

O roteiro, escrito pelos irmãos Joel e Ethan Coen, mostra como um advogado de seguros, Jim Donovan (Hanks), tenta defender, nos tribunas, um suposto espião soviético (Mark Rylance) capturado pela CIA.

ST. JAMES PLACE

O filme se divide em dois atos. No primeiro, Hanks defende o sujeito, de nome Rudolf Abel, diante de Deus e o Mundo. Afinal, todos nos Estados Unidos querem ver o comunistinha queimar em uma cadeira elétrica, incluindo o juiz que julga o caso e a esposa de Donovan. Na Guerra Fria, um espião soviético capturado nos EUA e exposto na mídia vira o cara mais odiado do país. E o advogado dele nos tribunais ganha automaticamente o segundo lugar.

BRIDGE OF SPIES

O filme é de Spielberg. Então, o soviético não é executado.

Aí começa o segundo ato, de como Abel vira moeda de troca num momento conveniente, em que os comunistas têm em seu poder dois norte-americanos capturados em condições suspeitas. Quem vai tentar salvá-los em plena Berlim Oriental, bem na época em que o Muro de Berlim está sendo construído? Donovan, claro.

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O que seduziu Spielberg na hora de escolher essa história para contar é o fato de ter sido baseada em fatos reais (veja aqui). Na direção, ele mostra seu estilo bastante definido em seus filmes “sérios”: apresentação segura dos personagens, planos longos, movimentos de câmera com lente aberta, um certo maniqueísmo, tons escuros e bastante tensão em momentos-chave do filme – como a cena final, girada em torno de um telefonema. Pode ser que, apenas e tão somente por ser um filme de Spielberg, Ponte de Espiões acabe indo parar no Oscar. Mas não será daqueles filmes que irá marcar a carreira do cineasta. Na verdade, sua grande novidade é ter Thomas Newman, e não John Williams, assinando a trilha sonora. É algo que aconteceu apenas uma vez – em A Cor Púrpura, de 1985 – nos últimos 40 anos de cinegrafia Spielberguiana.

Curiosidade

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Ponte de Espiões é o quarto trabalho de Tom Hanks sob o comando de Steven Spielberg. Os outros foram O Resgate do Soldado Ryan (1998), Prenda-Me Se For Capaz (2002) e O Terminal (2004).