JD Rodrigues: “Estamos vivendo um período dramático e contínuo” – Foto: Felipe de Souza.
Mal sabia o filho de portugueses, nascido em Travanca do Mondego, que ao desembarcar no Brasil com 10 anos de idade iria construir um dos mais importantes Grupos de Comunicação do país e um dos maiores da América Latina. Para ele, a trajetória na propaganda – mesmo ainda sem compreender aonde chegaria – começou atrás do balcão, ainda menino, atendendo fregueses e ajudando o pai Alexandre na contabilidade do Armazém Secos & Molhados em Araruna (interior do Paraná). Sorriso largo, uma gentileza sem medida, a comunicação era um caminho quase natural para trilhar. Primeiro como jornalista atuante, entre o final da década de 1960 e início de 1970. Depois, a convite do amigo Rafael de Lala Sobrinho, esteve à frente da ADM na área de Assessoria de Imprensa. E os desafios não pararam por aí: Em 1972 Rafael lhe fez outro convite: fundar a Soma Propaganda junto com Maurício Távora, Idelson Santos e Ademar de Sena. Com esse timaço de profissionais, essa soma só poderia… se multiplicar.
Os números fazem parte da sua trajetória, pois foi a habilidade de administrar, planejar e buscar a excelência que pontuaram as suas conquistas ao longo do caminho. Em 1974, a Soma passou a se chamar Opus Propaganda [Obra, em latim]. O trabalho e a inovação sempre estiveram impregnados no seu DNA. Foi em 1986 que realizou uma fusão pioneira no mercado regional, marco histórico para a época: A Opus se uniu à Múltipla Propaganda, da renomada dupla criativa Desidério Máximo Pansera (Diretor de Arte) e Gilberto Ricardo dos Santos (Redator) e, assim, surgiu a OpusMúltipla. Além de unir estratégia e criatividade com os novos sócios, José Dionísio Rodrigues mostrou ao mercado que boa propaganda se faz com Comunicação Integrada de Marketing. O conceito foi idealizado por Don Schultz, mas foi Rodrigues quem implantou e difundiu o CIM de forma pioneira em terras paranaenses, entregando aos seus clientes uma comunicação 360o.
Mais uma ousadia do português, filho da Dona Maria de Assunção, que se naturalizou brasileiro em 1975. Após quase 50 anos na labuta como publicitário, nem sonha em deixar o lado de trás do “balcão”. “Se eu me aposentar vou morrer, né?”, diz e logo sorri. O brilho no olhar – mesmo com a entrevista a distância por vídeo – é perceptível. Ou seja, o senhor Dionísio, como também é conhecido, ainda tem muito a realizar. Atualmente ocupa os cargos de Presidente do Conselho e Presidente do Grupo OM Marketing & Comunicação formado por seis empresas: OpusMúltipla Ideias que funcionam (agência de publicidade), Brainbox Design for Business (consultoria de branding e design), HouseCricket Digital Direct (empresa de engajamento especializada em programas de relacionamento, fidelidade, incentivo à força de vendas, comunicação digital e gestão de Redes Sociais), TailorMedia Inteligência de Mídia (especialista em regionalização de mídia), Senso Omnichannel Strategy (consultoria especializada em planejamento, implantação e gestão de canais de venda on e off line) e Air Promo (especialista em Marketing Promocional).
Na linha de frente do Grupo estão os três filhos: Rodrigo, Zeh Henrique e Camila. Para eles, além de exemplo, JD é fonte de inspiração constante. “Rodrigues e mais alguns pioneiros fundaram o Sinapro – Sindicato das Agências de Publicidade do Paraná. Essa entidade vem defendendo tanto a valorização da atividade, quanto o respeito à Lei da Propaganda e as Normas-padrão”, destaca Rodrigo Havro Rodrigues, VP Executivo do Grupo OM e atual Diretor-Presidente do Sindicato. Ele explica que José Dionísio, além de outros cargos que assumiu em entidades relevantes do mercado, sempre foi um entusiasta da importância da comunicação publicitária para o desenvolvimento econômico do país e construiu a carreira com coragem, foco e disciplina. “Como já comprovado por pesquisa, cada real investido em publicidade traz mais de dez reais para a economia. E ele levou essa visão ao mercado por meio de inúmeras palestras e campanhas”. Rodrigo revela que JD também se destaca pelas ações solidárias. “Sempre fez questão de utilizar os talentos e recursos próprios e das suas empresas em importantes trabalhos voluntários. Acredita que não há ninguém incapaz de ajudar a quem precisa. A última grande entrega voluntária das suas empresas foi a campanha dos 100 anos do Hospital Pequeno Príncipe”.
Para Zeh Henrique Rodrigues, VP de Operações, Pesquisa, Planejamento e Integração do Grupo OM, JD defendeu a bandeira da comunicação como ferramenta de geração de negócios, aumento de vendas e construção de marcas a longo prazo. “Em sua história, trabalhou realmente próximo aos clientes, buscando entender a realidade e necessidade de cada um. Sua visão de consultoria e até de coach pessoal e empresarial antecedeu em muitos anos o que vemos atualmente no mercado”. Zeh comenta que Rodrigues nunca parou de se reinventar, de estudar, de buscar, com humildade, informação atualizada dos maiores especialistas. “E somado a tudo isso, conduziu suas empresas com mão de ferro, buscando incansavelmente o contínuo aperfeiçoamento de todos os processos. Outra virtude foi saber colocar as pessoas em primeiro lugar, abrindo portas e dando oportunidades”.
“A valorização do ser humano” também é umas das muitas qualidades de José Dionísio. É o que ressalta Camila Rodrigues, Coordenadora de Comunicação Corporativa do Grupo OM. Ela comenta que em quase cinco décadas no mercado, JD colaborou com o desenvolvimento de muitos profissionais. “Tanto nos talentos que estão e já passaram pela agência, quanto os clientes e suas necessidades reais. O Rodrigues é um professor para os profissionais e um consultor para seus clientes”. E é assim, referindo-se ao pai pelo sobrenome que os filhos o tratam dentro da empresa. Cada um – a seu tempo – construiu e vem trilhando a própria história dentro do Grupo OM. E esse comportamento altamente profissional, que ocorre entre eles no trabalho, é defendido por Rodrigues desde o princípio: “No Grupo não tem pai e filho. Tem executivos trabalhando juntos, por acaso são filhos. A organização vem em primeiro lugar”.
Mais uma das qualidades desse profissional que já perdeu as contas de quantos prêmios recebeu ao longo da carreira. E não é por esnobar as honrarias, pelo contrário. São inúmeras: Foi eleito três vezes Publicitário do Ano (1983, 2001 e 2010), Publicitário da Década (1985) e Publicitário dos 30 anos (2006) pelo Prêmio Colunistas Paraná; Publicitário Latino-Americano do XIV Festival Mundial de Publicidade de Gramado (2003); Galo de Gramado Paris – Qualidade Total na Comunicação, concedido pela ALAP-Associação Latino-Americana de Publicidade; Prêmio Semeador da Propaganda do Paraná pelo Sinapro (2004) e Ícone da Propaganda Paranaense, troféu recebido da Redhook School. Só para registrar algumas.
Rodrigues afirma que os prêmios são uma consequência do trabalho, mas alerta que é preciso estar com os pés no chão e não perder o foco. “Prêmio faz bem. Mas se o ego da gente for inflado, ele pode até causar algumas sequelas. Para mim, que sempre soube administrar, fez bem… para a alma”. E como propagou seu conterrâneo, poeta e ilustre Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. E para o publicitário, cada passo e cada conquista valeram a pena porque recebeu apoio incondicional da esposa Marília durante a jornada. Estão casados há 50 anos. “Praticamente todos os dias eu chego em casa e digo para ela: Obrigado pela parceria e por termos divididos as tarefas tão bem. Ela tomou a decisão de cuidar dos filhos e eu sou muito grato. O apoio da família é extremamente importante”. Segundo Marília Helena Havro Rodrigues, o José sempre foi “esposo fiel, atencioso, pai presente e responsável”. Ela o define como “chefe de família protetor e sempre preocupado com o bem-estar dos filhos”.
“Com a quantidade de dados que temos disponíveis, a performance tem que ser cada vez maior”, diz. – Foto: Felipe de Souza.
Para Renato Cavalher, Head of Creative Strategy do Grupo OM, a grande contribuição de Rodrigues para o mercado “foi mostrar que é possível ser publicitário e empresário sério ao mesmo tempo”. Cavalher afirma que JD trabalhou com o objetivo de construir um Centro de Excelência em Comunicação Integrada a partir de Curitiba e conseguiu isso. E ao descrever Rodrigues, Cavalher enfatiza: “É o cacique da aldeia”. De local para global, ou vice-versa, essa aldeia se ramificou com o passar das décadas e, atualmente, apresenta um cenário de incertezas e, ao mesmo tempo, muitas possibilidades… dependendo do ponto de vista. Para o “cacique” que sempre antecipou tendências, o momento pandêmico é crítico e merece um mapa especial de navegação. “O primeiro passo foi manter nossos funcionários motivados, trabalhando em casa. Os casos foram bem resolvidos porque já tínhamos uma gestão da qualidade ISO. Esse sistema nos mostrou que funciona bem no presencial e no online. Isso foi um aprendizado importante”.
Rodrigues lembra que também ocorreram outras crises no passado e teve que enfrentá-las. Uma delas foi o Plano Collor (1990) que afetou violentamente a economia e congelou – por meses – os investimentos. “De repente clientes de todo o país foram impactados. Todos os contratos de comunicação, praticamente, foram cancelados e eu tive que reduzir a jornada de trabalho. Foi muito difícil superar aquele momento. Logo em seguida houve a liberação e as empresas voltaram a vida normal. Foi dramático, mas foi rápido. Hoje estamos vivendo um período dramático e contínuo. Exige muito mais de todos nós. Dos clientes, dos profissionais, dos gestores e dos parceiros de comunicação”.
Para quem está acostumado a planejar rotas e antever horizontes com serenidade e sabedoria, com certeza, a direção será mais segura. Apesar das incertezas do mercado e de mudanças tão mais velozes que antes, Rodrigues vislumbra um futuro promissor para o mercado. “Enquanto existir gente, vai existir comunicação. O que a comunicação vai exigir é ainda mais agilidade e rapidez nas decisões e na prestação de contas. Com a quantidade de dados que temos disponíveis, a performance tem que ser cada vez maior, exigindo alto investimento em tecnologia. Isso é um grande desafio”.
E quando pergunto como ele se autodefine, o propósito da “marca” Rodrigues é tão clara quanto suas ações: “Sou um profissional que gosta do que faz. Não aceito entregas desqualificadas. Me guio pela excelência”. O publicitário que faz parte da história da propaganda paranaense, independente das turbulências ou de águas calmas que virão, afirma que “é necessário seguir em frente, pois a carga se ajeita na viagem, desde que se tenha uma viagem”. Navegar é mesmo preciso, parafraseando o poeta, mas para o “Sr. Excelência” muito mais do que simplesmente “viver”… é criar.