
Por Leonardo Dambiscki*
Uma prova de Iron Man consiste em nadar 3,8 kms, pedalar 180 kms e correr uma maratona (42 kms) em sequência. Na natação, o tempo máximo é de 2h20; o ciclismo precisa ser fechado em até 10h30 após a última onda de largada, com corte intermediário no km 146,5, às 16h10. E a duração máxima da prova é de 17 horas.
“Desde que comecei a praticar o Triathlon em 2008, meu sonho era realizar um Ironman. Em 2012, parei com o tri e voltei no final de 2017, justamente com a ideia de fazer o Iron em 2019. Foram quase 2 anos de treinamento para a prova. A preparação foi muito cansativa: quase dois anos em função desta prova, 7 dias por semana de treinos. Nos últimos três meses, a preparação se intensifica: são 1,2 mil kms de bicicleta, de 150 a 170 kms de corrida e em torno de 60 kms de natação a cada mês.
Além do treino em si, a nutrição é ajustada para a performance: ter a quantidade de energia necessária é a principal preocupação. Também fiz muita recuperação pós-treino, com banheira de gelo, bota compressiva, entre outros métodos. Quanto mais recuperasse, melhor seria para aguentar a intensidade dos treinos. O recovery e a nutrição são importantes para conseguir dar sequência aos treinos. Você pedalou 70 kms em um dia e tem mais 70 no dia seguinte ou a corrida e a natação.
O propósito era realizar a prova em Florianópolis, no último dia 26 de maio. A prova, em si, é surreal. Não falo só do dia, mas do clima e de tudo que ronda a cidade nos dias que antecedem a prova. Não tem explicação.
O grande dia
Eu dividi a prova em partes: a natação em duas pernas; o ciclismo e a corrida também (4 voltas de 10,5 kms), exatamente como eu fiz com os treinos. Aquela ansiedade na largada. Pretendia fazer a natação para 1h07 ou 1h10. Quando saí da água, tinha feito minha natação para 1 hora cravado. Fiquei muito feliz e isso me deu um gás para o pedal. Passei os primeiros 120 quilômetros muito bem, com média de velocidade de 35,5 km/h.
A partir daí, senti bastante. Cãibras e muito vento no ciclismo, fazendo com que tivesse que diminuir muito o meu ritmo, pois, ao terminar a bike, tinha nada mais nada menos do que uma maratona para correr. Nessa hora, vem à cabeça tudo o que passei: dois anos treinando embaixo de chuva, no frio. Isso fica muito forte na memória, e eu tive muita ajuda, muitas pessoas me acompanhando no aplicativo (que permite acompanhar em tempo real o desempenho).
Eu sabia que não dava para abandonar e coloquei na cabeça que estava treinado, ainda que com todos os altos e baixos da prova. Mesmo com as dificuldades, fiz um pedal muito bom, com 33,3 km/h de média.
Saí para a corrida: 42 quilômetros pela frente, já com as pernas cansadas. Eram 4 voltas de 10,5 quilômetros. Nas 2 primeiras, tudo muito bem, dentro do que tinha estipulado: média de 5’ de pace. Na terceira volta, tudo caiu. Senti muitas dores e cãibras.
Minha meta sempre foi terminar abaixo de 11 horas. Quando abri a última volta da corrida, mudei a configuração do meu relógio para o tempo total da prova. Se eu mantivesse o ritmo, não conseguiria atingir o meu objetivo. Decidi administrar: forçava o ritmo, se a sensação de cãibra viesse, eu reduzia. Foi muito na raça para fechar a prova em 10h56m56s. Uma realização pessoal e uma sensação indescritível de atingir o objetivo proposto.
Um ironman não tem explicação: só fazendo um para entender o que é!”
*Formado em educação física e sócio fundador da CF Trainer