Para aqueles que não sabem, eu Luana Lôpo, do blog Viagem e Cura há 6 anos fui diagnosticada com fibromialgia, uma doença crônica que, dentre outros fatores, causa fortes dores musculares por todo o corpo. A princípio, você pode achar que essa é uma doença incapacitante e, às vezes, isso é verdade.

Por isso, respeitar a limitação do nosso corpo se faz necessário, mas isso não quer dizer que a gente não pode se reinventar e aprender a viver com essa doença.

Apesar da minha condição, continuo a explorar o mundo sozinha. E se você também é portadora dessa doença, saiba que isso é totalmente possível. Fibromialgia não é sinônimo de ser incapaz. Pelo contrário.

Temos grandes exemplos de celebridades que, mesmo com essa doença, desenvolvem seus trabalhos de forma primorosa, como Lady Gaga e até o inenarrável Morgan Freeman.

Falar sobre o que é fibromialgia, bem como viajar sozinha mesmo tendo uma doença crônica, é necessário para desmistificar algumas questões. E é isso que irei falar hoje.

Minhas primeiras lembranças de viagem

Dos meus 31 anos, tenho mais de 10 de experiência viajando sozinha. Então, acredite: eu tenho lugar de fala sobre o assunto.

Mas como tudo isso começou? Na verdade, isso está presente desde que eu era uma menina. Pode parecer inusitado e até incrível, mas vocês acreditam que minha primeira viagem de avião foi com apenas 1 ano de vida?

Por mais inacreditável que seja, a primeira vez que estive sozinha dentro de um avião eu tinha apenas 4 anos de idade. Foi um momento mágico, onde as aeromoças da Varig e da Transbrasil, com toda atenção, me mostraram o caminho que eu deveria seguir.

E, até hoje, sigo por esse caminho. Viajar para mim é, literalmente, a minha cura. Ter a oportunidade de compartilhar um pouco do que vivi é algo de grande importância para mim.

Minhas primeiras viagens sozinha

Hoje, digo com muito orgulho da minha trajetória que estive em mais de 14 estados do Brasil assim como 20 países. De início, como era tudo novo e eu estava no frenesi de viver o máximo de experiências possíveis, tinha um ritmo bem irrequieto, típico de uma baiana arretada.

Na época, com meus 20 e tantos anos, dormir em uma viagem era algo impensável. Afinal, eu queria aproveitar tudo o que o local tinha a me oferecer.

Recordo-me como se fosse hoje de uma viagem que fiz em meados de 2015, para Cuiabá. Quando a noite chegou, resolvi sair com uns amigos para uma simples social. Ledo engano. Na verdade, virou uma verdadeira noitada e cheguei próximo das 06h00 no hotel.

Como eu tinha de fazer uma trilha na Chapada dos Guimarães às 08h00, apenas resolvi tomar uma ducha, arrumar minha bolsa e descer para reerguer as forças com o café da manhã.

Reenergizada, tive fôlego para passar o dia todo na trilha, fazendo a bendita caminhada, tomando banho de cachoeira e vislumbrar aquela linda paisagem.

Da trilha fui direto para o aeroporto pegar meu voo que, detalhe, era de madrugada.

Como descobri e o que é a Fibromialgia?

Como você pôde notar pelo meu relato, eu tinha uma filosofia de vida que remete muito à máxima “Wanderlust”. E, acredite, a experiência que descrevi acima é apenas uma ínfima parte do ritmo que eu levava.

No entanto, no ano de 2016, tudo mudou. Foi quando eu recebi a notícia de que tinha uma doença incurável: a fibromialgia.

Sei que poucas pessoas sabem do que se trata, então vou dar um breve resumo. Em suma, é uma doença que age no nosso sistema nervoso central, o qual desregula as sinapses nervosas. Mas o que isso quer dizer, na prática?

Dor crônica generalizada e uma fadiga extrema. Algumas vezes, a dor é tão intensa que me sinto como se tivesse sido atropelada por um caminhão e saísse rolando ladeira abaixo. Sério.

Mas, por ser uma doença que ataca nosso sistema nervoso, desregula o nível hormonal. Por consequência, essa condição pode causar transtorno de ansiedade e depressão.

Aqui, um adendo: cerca de 5% da população mundial sofre dessa doença, mas muitas delas nem sequer sabem. Por isso, fique atento aos sinais que seu corpo dá.

Dicas para conviver com um paciente crônico

O fato de a fibromialgia não ter sintomas visíveis, contribui para a construção de alguns estigmas. Por muitas das vezes, somos vistos como preguiçosos, hipocondríacos ou até mentirosos.

No meu caso, por exemplo, muitos já chegaram a me questionar se eu realmente sentia “essa dor toda”, já que eu mantenho o costume de viajar sozinha.

Mas, de novo, ter fibromialgia não é sinal de ser incapaz de fazer as coisas. Nós temos que tirar forças e criar formas para aprender a conviver com essa doença. E, para mim, viajar é um ato terapêutico. Faz parte do meu processo de tratamento. Faz ser quem eu sou hoje.

Devido a minha doença, meus níveis de serotonina e dopamina são mais baixos, e isso impacta no meu humor, sem que eu queira. Então, fazer atividades que me dão prazer é uma questão de necessidade. E, dentre todas, viajar é a que me faz bem.

Então, a dica para viver com paciente com fibromialgia é mais do que ter empatia, é praticar a alteridade. Ou seja, desnudar-se do próprio “eu” e vestir a perspectiva do outro.

Como continuar viajando sozinha com Fibromialgia

Para mim, no momento que recebi meu diagnóstico, entrei em estado quase que catártico. Dentre as minhas introspecções, me perguntava: o que eu espero das minhas viagens rápidas? Faz sentido mudar de local a cada 2 dias, só para ver “tudo o que há para ver”?

A resposta era não. Esse estilo de vida não me cabia mais. Então, resolvi buscar mais sentido nas minhas trajetórias e, hoje, sou adepta do low travel. Entendi que eu precisava respeitar meu corpo. Precisava entender que ele começaria a ditar as regras. Aprendi a escutá-lo.

Hoje, se eu acordo com dor ou não me sinto bem, fico no hotel sem me sentir culpada. Isso não quer dizer que não estou aproveitando o lugar. Paro e reflito sobre como posso me conectar verdadeiramente com o local.

Por mais que sejamos fortes, prezar pela nossa saúde é indispensável e, portanto, abdicar de algumas coisas é fundamental. A própria Lady Gaga certa vez cancelou sua participação no Rock In Rio porque estava tendo uma crise de fibromialgia.

Dicas para viajar com uma doença crônica

Primeiro, a mais importante de todas: fale com seus médicos. Ele é o único que vai lhe garantir de que você está em condições para viajar.

Caso eles aprovem, o próximo passo é se certificar de que você tem todos os medicamentos necessários para os dias de viagem.

Se estiver com dúvida de qual levar, pergunte ao seu médico quais não podem faltar no seu kit de emergência. Não se esqueça de levar suas receitas, caso precise comprar algum no meio da viagem.

Faz uso de algum remédio controlado? Informe-se se ele é permitido no destino da viagem. Se sim, atente-se a como armazená-los.

Dentre os remédios que uso, um deles é o canabidiol. Por isso, em todas as minhas viagens é necessário carregar:

  • Relatório médico;

  • Receita médica;

  • Formulário da ANVISA assegurando a importação da medicação do Brasil.

Para finalizar, lembre-se: não deixe essa doença fazer você pensar que é incapaz. Frida Kahlo, Sinead O’Connor e Dani Valente são algumas mulheres que, apesar da fibromialgia, não deixavam de fazer aquilo que amavam.

Então, se você ama viajar e é o que lhe faz bem, não deixe ninguém pensar que você está errada em fazer algo que te deixa bem e a mantém saudável.