
Nenhum técnico de futebol trabalha sozinho. As gigantescas comissões técnicas de hoje têm um peso enorme no futebol apresentado dentro de campo. É assim com Tiago Nunes no Atlético Paranaense.
O treinador lidera uma equipe de profissionais formados em diversas áreas e colhe melhores resultados por saber aproveitar o conhecimento da sua equipe. E também por saber utilizar a herança do técnico anterior.
Tiago Nunes recebeu um time que parecia perdido em campo, mas estava muito bem treinado para determinadas ações no gramado. O Atlético mudou da água para o vinho porque tinha boa água e boas uvas. Só faltava a “fermentação” correta.
OS MÉRITOS DE DINIZ
Fernando Diniz mostrou ter ideias interessantes e conseguiu colocá-las em prática em alguns jogos. O Atlético foi arrasador em abril, com bons resultados e desempenho brilhante dentro de campo. No entanto, a relação com os jogadores deteriorou e a equipe se perdeu. Difícil explicar como o Pinot Noir virou vinagre em pouco tempo.
Em todo caso, Diniz deixou um time muito bem treinado para triangulações, para trocas de passes rápidas e para movimentações inteligentes no ataque. A maneira como Pablo abre espaços para as infiltrações dos demais jogadores é um dos legados positivos do treinador.
Há ainda o preparo físico, que não depende apenas dos profissionais específicos dessa área, mas também da boa gestão do líder da comissão técnica. Diniz deixou para Tiago Nunes um grupo pronto para voar.
O atual técnico soube aproveitar todo esse legado e transformou o estilo de jogo da equipe. Não é um Atlético propositivo, nem reativo. O Furacão de Tiago Nunes consegue se adaptar às circunstâncias de cada jogo e tirar o que cada jogador tem de melhor.
NO PASSADO
Em 2001, o Atlético começou o Brasileirão sob o comando de Mário Sérgio Pontes de Paiva, treinador que tinha uma obsessão pela preparação física e pela organização tática defensiva. O time arrancou bem, com quatro vitórias e um empate. Em seguida, porém, os jogadores parecem ter perdido o interesse no estilo ou na liderança de Mário Sérgio. “Ou o Atlético acaba com a noite ou a noite acaba com o Atlético”. A histórica fase sobre as noitadas dos atletas pode ser a explicação para a ruptura entre boleiros e o “professor”.
Depois da boa arrancada, vieram quatro derrotas e mais um empate. O técnico deixou a equipe na 10ª rodada. Geninho assumiu um time com forte organização defensiva e um preparo físico invejável. O novo técnico mudou o estilo de jogo, deu mais liberdade ofensiva aos jogadores e o Furacão mudou da água para o vinho. O time voou em campo e conquistou o título brasileiro.
A própria diretoria do Atlético reconheceu o trabalho de Mário Sérgio na conquista e enviou uma faixa de campeão para o treinador.
AO MESTRE, COM CARINHO
Mário Sérgio Pontes de Paiva comandou o Atlético em 2001, 2003, 2004 e 2008. Como repórter do Bem Paraná, acompanhei de perto o trabalho do treinador. Era uma figura incrível. Tinha um conhecimento sobre o futebol muito acima dos profissionais da época, mas parecia não ter paciência para lidar com determinados vícios do futebol brasileiro. Mário Sérgio faleceu no acidente aéreo da Chapecoense em 2016 e deixou um grande legado como jogador e treinador no futebol brasileiro.
O BLOG
Esse é o primeiro texto do blog Entrelinhas do Jogo. O objetivo é fugir do óbvio e analisar nas entrelinhas os fatos do futebol paranaense. Os próximos posts serão sobre Coritiba e Paraná Clube.