Coritiba jogou alto no Atletiba, mas Kosloski não encontrou o ‘time ideal’

Silvio Rauth Filho

Slimani e Bento, em Coritiba x Athletico, Atletiba no Couto Pereira (Crédito: Robson Mafra)

O Coritiba venceu com méritos o Atletiba. Foi superior na maior parte do tempo e mereceu o placar.

A vitória, porém, pode criar a ilusão que Thiago Kosloski encontrou o chamado “time ideal”.

Na verdade, o futebol atual não permite mais esse tipo de fábula.

Não há time ideal. Nem no Manchester City de Pep Guardiola.

Cada jogo precisa de uma preparação especial por ter características especiais. É preciso analisar as peças à disposição, considerando o momento técnico, tático, físico e mental de cada uma. E fazer o raio-X do adversário.

Kosloski venceu o Athletico ao fazer melhor essa avaliação. Entendeu as fragilidades do adversário e adaptou seu time para jogar em cima dos pontos fracos.

O primeiro passo foi identificar a crise do jogo aéreo vivida pelo Athletico, iniciada no começo de 2022. Já são praticamente 20 meses de fragilidade nas bolas cruzadas e disputas pelo alto.

E o Coritiba tem peças para explorar esse tipo de jogo. Slimani (com 1,88 m de altura), Diogo Oliveira (com 1,94 m) e Matheus Bianqui (com 1,87) se destacaram no jogo aéreo e foram decisivos na vitória no Atletiba.

E não se trata apenas de jogar a bola para o alto e transformar o futebol em uma partida de vôlei. Nessa hora, é preciso precisão nos lançamentos e nos cruzamentos para fazer valer essa estratégia. E o Coritiba contou com a qualidade de Victor Luis e Marcelino Moreno nesse quesito.

Além do gol de Slimani pelo alto, o Coritiba conseguiu chegar ao ataque vencendo disputas desse tipo. Segundo o WhoScored, o Coxa ganhou 70% dos duelos aéreos na partida. Os líderes nesse quesito foram Slimani (com 6) e Diogo Oliveira (com 4). O melhor do Athletico nesse aspecto foi Thiago Heleno, com 3.

Wesley Carvalho
O técnico do Athletico ficou em situação complicada no Atletiba. Apostou no mesmo estilo de partidas anteriores, esperando envolver o adversário com boas trocas de passes. O jogo físico do Coritiba, baseado na força de Willian Farias, Sebá Gómez, Diogo Oliveira, Kuscevic & Cia, acabou desmontando o plano de Wesley. Era preciso reagir e se adaptar a essa realidade durante o jogo. Só que faltaram peças.

Pablo, por exemplo, seria importante para esse tipo de jogo. É o jogador com bom desempenho nos duelos físicos e na bola alta. Nem é preciso citar Vitor Roque, que tem técnica excepcional e força muscular para enfrentar qualquer grandalhão.

‘Espelho’
E se Wesley tentasse ‘espelhar’ o adversário, usando o mesmo jogo mais físico e direto do Coritiba? A impressão é que também faltariam peças. Para começo de conversa, essa estratégia levaria a escolha de Hugo Moura como titular. Torcida e imprensa compreenderiam?

O técnico interino do Athletico está pressionado e tomou a decisão de repetir o estilo que o manteve invicto por dez jogos. Com essa fórmula, o time fez bons jogos nessa série de invencibilidade e ainda vai render mais vitórias. No entanto, chama a atenção a falta de repertório da equipe para situações específicas de jogo. Carência que também relação com a montagem do elenco e não apenas com as decisões de Wesley Carvalho.

Silvio Rauth Filho, 48 anos, é jornalista, editor de Esportes do Bem Paraná