No Coritiba, o cobertor de Tcheco é curto

Silvio Rauth Filho

Reprodução/This11 - O 4-1-4-1 usado por Tcheco contra o Boa e o 4-3-1-2 utilizado contra o Criciúma

No futebol, o cobertor do técnico é sempre curto. Se deixar o time ofensivo, complica a defesa. Se exagerar na retranca, o ataque não produz. É um eterno dilema. Para outros, uma eterna busca pelo equilíbrio entre defesa e ataque. 

No Coritiba, o cobertor de Tcheco é ainda mais curto. Nem tanto pela qualidade do elenco, mas principalmente pelas lesões. 

A ausência de Carlos Eduardo e os desfalques nas laterais complicaram a vida do treinador.

O MEIA-ARMADOR
Carlos Eduardo não vive um bom momento na carreira, mas é o único do elenco do Coritiba com capacidade para jogar como um meia-armador. Yan Sasse tem outra característica. É um garoto com certa habilidade, mas ainda tem dificuldades na visão de jogo e na hora de tomar as decisões. Tornou-se um meia afoito, que tenta decidir rápido.

Jean Carlos ganha o rótulo de meia, mas também não se encaixou no esquema tático 4-2-3-1 – utilizado por Eduardo Baptista na maior parte do tempo. É um jogador que passou a jogar bem com Tcheco no 4-1-4-1, ao lado de Simião, centralizado na linha de quatro. Nesse sistema, pode receber a bola de frente para o gol, avançar e arriscar seus chutes de média distância – sua principal qualidade.

QUAL O ESQUEMA?
O esquema tático (4-2-3-1 ou 4-1-4-1) não é a discussão mais importante no futebol atual, mas ainda é importante. Esse formato básico da equipe continua como referência decisiva em boa parte do jogo. 

No caso do Coritiba, Tcheco tem um cobertor curto para os dois esquemas. No 4-2-3-1, precisa de dois volantes que saibam construir: uma pela esquerda e outro pela direita. No entanto, o treinador não tem nenhum jogador com essa característica. Vitor Carvalho e Uillian Correia são muito defensivos e estáticos. Simião é a peça que tem as melhores características para essa função, mas tem se mostrado um jogador muito irregular – sua curva de desempenho é uma montanha-russa. Já fez belas jogadas nessa Série B, mas sumiu em campo em grande parte da competição. 

A melhor opção mesmo seria Vinícius Kiss. No entanto, Tcheco não tem mais alternativas para a lateral-direita – Carlos César e Leandro Silva estão em recuperação. E Rodrigo Ramos vive uma fase tenebrosa. 

A escolha perfeita poderia ser aquele Julio Rusch do Campeonato Paranaense, aquele jogador vibrante, habilidoso e participativo. O técnico do Coxa, porém, só conta mesmo com o Julio Rusch da Série B, um jogador apático e sem mobilidade.

O PROBLEMA DO 4-1-4-1
Tcheco usou o 4-1-4-1 nos últimos dois jogos. Foram duas vitórias. Mesmo assim, o time teve problemas. O principal foi a apatia de Simião. Jean Carlos se encaixou muito bem nesse formato. Contra o Brasil-RS, os extremos (Parede e Pablo) conseguiram ser participativos. Contra o Boa, foram anulados pelo adversário. Falta maturidade tática para esses jogadores e maior mobilidade do resto da equipe, que precisa se aproximar para as triangulações. Estamos na 25ª rodada e o time ainda está inseguro, sem confiança para determinadas ações ofensivas.

A OPÇÃO OFENSIVA
O sistema defensivo não tem sido o principal problema do Coritiba nessa Série B. A crise mesmo é no setor ofensivo e a falta de criativade no meio-campo. Tcheco tentou solucionar isso com o esquema tático 4-3-1-2, contra o Criciúma – empate em 2 a 2. Foi uma das melhores atuações do Coxa no aspecto ofensivo. Sem a bola, porém, o time ficou completamente vulnerável. Nesse formato, o time não tem a proteção dos extremos na fase defensiva. Quando o Coritiba era atacado pela direita, Kiss fechava esse setor junto com Carlos Cesar. Na esquerda, William Matheus e Simião protegiam o lado do campo. Esse “balanço” funcionou em alguns momentos, mas caiu por terra quando o Criciúma conseguiu inverter rapidamente a bola de um lado para o outro. Nessas situações, pegou o centro aberto ou o lateral inverso completamente desprotegido. 

Não é por acaso que Tcheco desistiu desse modelo. Após aquele empate em Criciúma, o treinador teve que enfrentar mais uma fria noite de Série B com seu curto cobertor.