Sou, ou melhor, era, o tipo de mãe que não desgruda dos filhos. Nunca havia ficado mais que um dia longe de qualquer um dos três. Isso até outubro do ano passado, quando a mais velha viajou três dias com a turma da escola na viagem de formatura do fundamental. Confesso que mandei ela me dar notícias pelo menos três vezes ao dia, sob pena de eu aparecer de surpresa no hotel em Santa Catarina ( e ela sabe que sou capaz disse). A garota cumpriu o combinado e deu tudo certo. Fiquei aliviada, porque o tempo foi camarada e passou rápido.
Logo depois começamos os preparativos para a viagem de 15 anos da primogênita. Ela queria conhecer Londres e Liverpool e cumprir o périplo beatlemaníaco, banda amada em nossa família há quatro gerações. Se levasse os menores, de 10 e 2 anos, não poderíamos fazer tudo que planejamos e muito menos ir ao show do Paul — uma coincidência maravilhosa para coroar nossa viagem. Há tempos ensaiava sair uns dias sem as crianças, inspirada por muitas amigas que sempre viajam sem os filhos. Achei que já era tempo de experimentar.
Confesso que, de tanto nervoso, fiquei doente de um jeito que não ficava desde criança. Tive dor de garganta, dor no pé, fiquei mal do estômago, tive urticária, tudo durante os 20 dias que antecediam a viagem. “Tudo psicossomático”, sentenciou minha médica. Minha mãe se mudou para minha casa para ajudar meu marido no cuidado dos dois menores. Deixei uma lista de uns 50 telefones de “emergência”, a farmacinha pronta e a casa abastecida e na manhã de uma terça saí em direção ao aeroporto, chorando praticamente os 30 minutos de trajeto. Entre cochilos, filmes, devo ter chorado mais umas três horas no voo de 11 horas até Londres.
Chegando lá, pegamos o metrô, fomos para o hotel e logo em seguida saímos, pois o roteiro era grande nos nove dias de viagem. Cada vez que via uma criança que lembrava as minhas, um choro, eu tinha que segurar as lágrimas.
Toda noite, conversava com eles no skype e percebi que eles estavam muito bem com minha mãe e o pai. Pareciam animados com mudança de rotina. A partir do momento que percebi isso, me dei conta que o tempo era da mais velha, que estava ali pedindo a minha atenção.
Voltei a ser aquela mochileira de 1997, mas com a companhia da minha menina de 15 anos. Aproveitamos cada segundo e nos reaproximamos muito em uma cumplicidade. Nos perdemos no metrô, comemos sanduíche todos os dias, dançamos com uma DJ indiana, nos divertimos na exposição do Star Wars, gritamos no show do Paul, demos muitas, mas muitas risadas.
Quinze anos depois do primeiro dos três filhos descubro que de vez em quando posso me afastar uns dias sem que o mundo desabe. Tive muita saudade sim, tanto exagerei nas lembranças para os dois de tanto que pensava neles, mas voltei leve, com mais paciência e menos cansaço. Talvez, as mães também precisem de um pouco de férias.
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No última dia em Londres, enquanto eu e a minha filha fazíamos um lanche, tocou uma música da Katy Perry que os dois menores adoram e dançam sempre. A minha filha caiu no choro antes que eu. “Mãe, eu não aguento mais de saudade daqueles dois pestes”. “Irmãe” também sofre.