Blog da Martha Feldens Bem na Pauta

Marcelo Almeida deixa as portas do Republicanos abertas para Ratinho Junior e Alexandre Curi

Para o empresário e comunicador, partido poderia ser um 'plano B' para o governador e o presidente da Assembleia, caso decidam deixar o PSD

Rodolfo Luis Kowalski
ROBERTO REQUIAO ENTRA NA SEDE DO PMDB MARCELO ALMEIDA

Marcelo Almeida, presidente do Republicanos no Paraná: "daqui a quatro anos, seremos um partido tão interessante ou melhor do que o PSD", aposta ele (Foto: Franklin de Freitas)

As portas do Republicanos estão abertas para o governador Ratinho Junior e o presidente da Assembleia Legislativa, Alexandre Curi. Quem assegura isso é o presidente da sigla no Paraná, Marcelo Almeida. Ele, inclusive, revela já ter conversado com Ratinho sobre o assunto e faz ainda uma aposta ousada: “Acredito que o presidente da Assembleia [Curi] vai ser candidato a governador [do Paraná] pelo Republicanos.”

As declarações foram dadas em entrevista ao programa Bem na Pauta, comandado pela jornalista Martha Feldens. Na ocasião, Almeida, que é também empresário e comunicador, buscou analisar o cenário eleitoral no Paraná visando a disputa pelo governo do Estado em 2026. Para ele, nomes como Cristina Graeml, Sergio Moro, Ricardo Barros e Rafael Greca devem rivalizar com a turma de Ratinho Junior, especialmente Alexandre Curi e Guto Silva, os dois mais cotados neste momento para serem os ungidos à sucessão do atual governador e candidatos pelo PSD. Mais à esquerda, nomes como Ênio Verri, Gleisi Hoffmann, Zeca Dirceu e Requião Filho correriam por fora, com menos chances.

Mais que isso, ele aposta que o candidato apoiado por Ratinho Jr estará no segundo turno das eleições. Mas também aposta que Curi, com ou sem o atual governador ao seu lado, tem força política suficiente para se cacifar na disputa, especialmente se a corrida for contra alguém mais à direita do que ao centro, como Graeml ou Moro. Por outro lado, teme que as forças políticas mais ao centro possam se dividir, com tanto Curi como Guto saindo candidatos. Se isso ocorrer, vê as chances de um nome como Moro crescer na disputa.

Por isso, Almeida garante: embora trabalhe para que Curi seja o pré-candidato a governador, se até lá Guto Silva for o escolhido, ele também promete virar a chave e vestir a camisa. “Eu estou num grupo, estou num projeto. Num projeto de Ratinho presidente e Alexandre governador. Mas se for o Guto, é o Guto. Não tem o que fazer.”

Ratinho Junior no Republicanos? E Tarcísio Freitas, não sai a presidente?

Sobre a possibilidade de Ratinho Junior se juntar ao Republicanos, Almeida aponta que o governador precisa ter um ‘plano B’ caso acabe sendo rifado da disputa pela Presidência da República pelo presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. “Eu acho que o Kassab pode rifar o próprio Ratinho Júnior. O Ratinho tem que ter um partido, um segundo barco para pular se der tudo errado. Então, o Republicanos com certeza é um partido que gostaria de ter muito Ratinho Júnior. Ele sabe disso, ele conversou com o Marcos Pereira [presidente nacional do Republicanos]. As portas não estão fechadas. Alexandre Curi, mesma coisa. Eu acredito, é meu ponto de vista… Tô puxando a sardinha pra minha brasa, né? Acredito que o presidente da Assembleia vai ser candidato a governador pelo Republicanos”, aposta Almeida.

Já sobre Tarcísio de Freitas, atualmente governador de São Paulo e que tenta conseguir a benção dos Bolsonaro para se candidatar presidente do Brasil, Almeida afirma estar começando a acreditar que ele fala a verdade quando diz que não é candidato a presidente. Por outro lado, também aposta que, se Tarcísio for de fato um presidenciável, há uma chance de Ratinho Junior ficar de fora das eleições, não disputando qualquer cargo eletivo. “Se o Tarcísio sai presidente, eu acho que o Ratinho não vai [se candidatar a nada]. Do meu ponto de vista, não perguntei pra ele. Mas se o Tarcísio não vai, todos vão. Eu acho que vai [Romeu] Zema, que vai Eduardo Leite, que vai Ratinho Júnior e vai [Ronaldo] Caiado. Vão todos, né? Daí já não é uma campanha polarizada.”

Abaixo, você confere a entrevista completa, na qual Marcelo Almeida falou também sobre sua trajetória política (como os anos em Brasília, quando foi deputado federal) e empresarial (como dono de uma rede de padarias e o negócio envolvendo natação em mar aberto que está começando).

ENTREVISTA COMPLETA – BEM NA PAUTA COM MARCELO ALMEIDA

Martha Feldens: Você é presidente do Republicanos no Paraná. É um partido que está bem situado no Congresso, com 44 deputados e quatro senadores. Tem um deputado federal pelo Paraná, dois estaduais e um secretário de Estado. Além de um governador de São Paulo e um presidente da Câmara dos Deputados… Mas aqui, em termos de Paraná, como é que é a estrutura partidária, como é que é o número de filiados? Tem base eleitoral ou é só nome grande?
Marcelo Almeida: Primeiramente, e é uma das coisas que eu acho mais legais, é um partido que não tem chefe, não tem um cacique que manda, sabe? Falo com o Marcos Pereira [presidente nacional] direto, tenho uma relação muito boa com os dois deputados estaduais. Eu não sou evangélico, sou católico. A gente quer desmistificar essa história de Bíblia, de bala, boi, essas coisas de bancada. E o número 10 [número do partido] é um número muito bom, o nome Republicanos… Eu começo a sentir que é um partido para o qual todo mundo quer vir. É um partido forte em Brasília, mas que aqui no Paraná tem um fundo eleitoral pequeno porque só tem um deputado federal. Se a gente tivesse três deputados federais, nossa, já começa a mudar o jogo no Paraná. Mas mesmo assim, tem uma compensação, porque é um partido que fala muito da família. Se você é ético, é correto, se filie. Se você vem para fazer esquema de emenda, roubar, nem se filia. Nem seja candidato a vereador, não venha pro partido para ser prefeito, não me perturbe. É um partido que tem 16 prefeitos, 17 vice-prefeitos, 258 vereadores. É pequeno, mas é verdadeiro. Eu e o Lucas, que trabalha no partido, vamos de cidade em cidade, cinco cidades por dia, mais ou menos. Eu, agora em outubro, vou sair duas vezes, vou visitar umas 30. Vamos lá e conversamos com a vereadora, me apresento como presidente do partido, pergunto se vai querer se candidatar na próxima eleição, se não tinha que ter uma visão mais de águia e pensar numa eleição regional, para deputado estadual, nem que você faça só 12 mil votos e você se cacifa para ser vice na próxima ou prefeita? É uma delícia falar isso com as pessoas! Então é um partido que eu tenho ele muito bem mapeado. É um partido que faltam 75 cidades para completar as 399. De fato, quem me ajudou quando eu peguei o partido, que eu precisava de alguém que tivesse força política no Paraná, foi o presidente da Assembleia, o deputado Alexandre Curi. Ele falou, ‘ó, essas cidades tem muita gente que gosta de mim. Independentemente de eu estar no 55 [PSD], olha, Marcelo, o que tem de gente que confia, que é fiel…’ Você olha nos olhos das pessoas e é impressionante! As pessoas que eu passei o partido, que de alguma maneira são discípulos do Alexandre Curi, é impressionante a lealdade. Não tem mais ou menos, tem lado, e a gente está aqui. Eu acho que o Republicanos, daqui a quatro anos, será um partido tão interessante ou melhor do que o PSD. Ele vai ter um problema, ele vai inchar, ele vai inchar. E sabe por que ele vai inchar?

Martha: Por causa do Alexandre Curi?
Marcelo: Não, porque eu acho que ainda pode ser o ‘plano B’ do Ratinho Junior. Primeiro, para onde que o Kassab [presidente nacional do PSD] vai? Eu acho que o Kassab pode rifar o próprio Ratinho Júnior. O Ratinho tem que ter um partido, um segundo barco para pular se der tudo errado. Então, o Republicanos com certeza é um partido que gostaria de ter muito Ratinho Júnior. Ele sabe disso, ele conversou com o Marcos Pereira. As portas não estão fechadas. Alexandre Curi, mesma coisa. Eu acredito, é meu ponto de vista… Tô puxando a sardinha pra minha brasa, né? Acredito que o presidente da Assembleia vai ser candidato a governador pelo Republicanos.

Martha: Pelo Republicanos? Mas com o aval do Ratinho ou sem o aval do Ratinho?
Marcelo: Primeiro, quem que é o candidato do Ratinho? Ou melhor, vamos fazer o contrário. Quem é o nosso rival, o nosso arquirrival na próxima eleição? É tudo chutômetro meu, é meu feeling, meu sentimento. Vai ser, do lado de lá, a Cristina [Graeml]. Ela vai estar lá, Sergio Moro vai estar lá, Ricardo Barros, não sei se o Rafael Greca… Mas eu sinto que esses quatro nomes tem uma chance de estar do lado de lá. E do lado de cá, quem que está? Está o Marcelo Almeida, Guto Silva, Alexandre Curi, Ratinho Júnior… É isso aqui. E de outra turma, é o Enio Verri, a Gleisi Hoffmann, o Zeca Dirceu, filho do Zé Dirceu…

Martha: E o Requião Filho, fora disso tudo?
Marcelo: Eu acho que não tem esse espaço. Eu sou um homem de meio, eu sou um meio passo à frente. Tenho amigos maravilhosos no PT, mas tenho pavor dessa coisa de petismo e bolsonarismo. Desde o Bolsonaro, eu convivi com o Bolsonaro [quando foi deputado federal], eu tenho uma relação ótima na esquerda. Eu acho que é por isso que o Kassab se deu bem no Brasil. Eu sou um homem de meio, é. Eu sou um passo à frente, né? Eu sou um meio passo à frente. Eu tenho amigos maravilhosos no PT. Eu tenho pavor, assim, dessa coisa do petismo ou do Bolsonaro. Eu sou… Desde o Bolsonaro, eu convivi com o Bolsonaro, Eu tenho uma relação ótima na esquerda. Eu acho que é por isso que o Kassab se deu bem no Brasil. Para com esse negócio de odiar o outro, cara, vai no meio. Norberto Bobbio falava isso, o certo é você estar no meio, um passo à frente. Tudo que é extremismo é perigoso, tudo que é muito polarizado, torcida, é perigosa.

Martha: E você acha que ainda estamos nessa fase [de polarização política]?
Marcelo: Não, eu acho que a gente está começando a sair disso. E o Ratinho não pode decidir com quem ele vai. Ele é zero de ignorante, não é doido de dizer em 2025 com quem ele vai. Ele não pode dizer isso, ele tem de ficar quieto, assim como o Bolsonaro não pode dizer quem ele vai apoiar. Estrategicamente, eu acho que essa é uma saída. Aqui no Paraná, eu acho que tinham cinco candidatos. Eu acho que o governador fez uma coisa que, no meu entender, eu acho que foi interessante. Ele deu combustível e carro igual pra todos eles. Um virou presidente da Assembleia, outro virou secretário da Saúde, outro virou secretário da Infraestrutura, outro das Cidades, outro é vice-governador, e aí o Rafael veio pro final e foi lá pro Meio Ambiente… Então é quem tiver melhor. Eu acho que afunilou, meu ponto de vista.

Martha: Afunilou para quem?
Marcelo: Pra Guto [Silva] e pra Alexandre [Curi]. Se o Ratinho tiver um candidato, eu acho que é um desses dois. Eu acho que os outros já ficaram um pouquinho para trás. Quem que é escolhido? Um dia eu estava na padaria falando isso. Eu, se fosse governador, eu ia escolher pela pesquisa. O problema é o seguinte, a pesquisa não vai falar quem é melhor eleitoralmente, quem é melhor empresarialmente, quem conversa mais com o empresário, quem conversa mais com a cooperativa, quem que fala com a Frisia, quem fala com a Castrolana, quem que conversa de fato com o Danaduzi lá, com Toledo? Quem que fala com o Boticário? Quem que conversa com a Positivo Informática? Então é isso que temos que ver. Eu acho que eleitoralmente os dois podem ir muito bem se tiver o ‘sim’ do Ratinho. Tanto o Guto Silva, tanto o próprio Alexandre Curi. Eu, claro, trabalho pra que o Alexandre Curi seja o pré-candidato a governador. Se até lá der tudo errado e for de Guto Silva, eu também viro a chave e vou de Guto Silva, tá? Eu tô num grupo, eu tô num projeto. Num projeto de Ratinho presidente e Alexandre governador. Mas poderia, se for o Guto, é o Guto, né? Não tem o que fazer. Acho que é isso. Mas eu gostaria que fosse o Alexandre por uma outra visão que eu tenho.

Martha: Qual?
Marcelo: Por que o Eduardo Pimentel ganhou o segundo turno?

Martha: Porque ele inclusive juntou o pessoal que estava à esquerda e não tinha como votar no outro lado.
Marcelo: Vamos pensar racionalmente, vamos pensar pelo coração. Qual que é a chance das pessoas da esquerda, que tem um apreço pelo presidente da República, votar no Sergio Moro no segundo turno? Se o Sergio Moro é, de fato, o homem que foi o protagonista da prisão do presidente da República. Então, a gente tem que se desapaixonar na política. Tira o coração. Vamos colocar o coração aqui do lado. Agora vamos falar de política racionalmente. Eu sempre falo com o Alexandre. Alexandre, se você tem 237 mil votos no meio de 500 candidatos, no meio de 3 candidatos, você deve fazer vezes 5 isso. Você sai de casa com 1,5 milhão de votos. Se você tem 1 milhão e meio de votos… Uma vez eu li um livro do Barack Obama que falava isso. Quem tem 18% dos votos válidos, Martha, já está no segundo turno. Então, o Alexandre Curi, independentemente do governador querer ou não, acho que ele tá no segundo turno. E no segundo turno o que que ele vai ter?

Martha: Ele vai agregar os votos [da esquerda].
Marcelo: Sim, porque qual que é a chance do Enio Verri, do Tadeu Veneri, do Samek ou do Vanhoni votarem no Sergio Moro? Meu Deus, é zero. Eu não sei qual o número de eleitores de esquerda que tem no Paraná, mas que seja 20%. Dá uma eleição! Se você tem 18% dos votos válidos no primeiro turno, no segundo turno ainda tem mais 20% dos votos válidos que é da esquerda. Então a chance de alguém do Ratinho chegar é muito grande. Só que tem um problema: e se dividir a gente? E se o Alexandre quiser decidir sair já? Não sei… Isso eu não falo com ele, nem falei com o Guto. Se um decidir ‘oh, eu vou de qualquer jeito, governador…’

Martha: Eles têm dito que não, né?! Que se alguém apostar na divisão do PSD, vai se dar mal. Esse é o discurso.
Marcelo: Vamos supor, que dividam. Saem os dois [Guto e Alexandre candidatos a governador]. Ah, daí dá Moro… Aí que é o problema. Eu acho que o Ratinho Junior tem um bom problema. Eu acho que ele não vai deixar abrir, mas eu não sei como o Alexandre pensa, como o Guto Pensa, como o Greca pensa…

Martha: O Greca tem insistido que vai sair candidato de qualquer jeito…
Marcelo: Mas por onde, né? Por onde?

Martha: O Rafael também não quer ir pro Republicanos?
Marcelo: Eu não sei. Eu acho o Rafael muito forte, ele saiu das cinzas, né. Eu lembro quando ele perdeu para estadual. Eu tenho um respeito muito grande por ele, ele é muito forte. Não sei numa eleição para governador, mas acho que o mais forte no Paraná hoje, o mais forte politicamente, que tem mais prefeitos na mão do que o governador, eu acho que é o Alexandre. Mas o Guto é um cara, eu ouvi ele falando, ele fala muito bem. Mas não sei… Eu acho que o Alexandre é um cara que vai mais longe. Mas eu acho que o Guto Silva é da casa do Ratinho Júnior. É aí que tá. Eu falo isso porque eu gosto muito deles, eu não quero definir nada, não quero puxar pra lado nenhum. Mas eu tô fazendo muito mais um quadro, um filme. Não é só uma fotografia, é um filme. E amanhã pode mudar tudo. Mas é uma eleição interessante. E uma outra coisa interessante também: o pessoal da esquerda, Enio Verri, Vanhoni, o filho do Zé Dirceu, a Gleisi… Será que eles saem no primeiro turno juntos? Eles saem na campanha? Ou eles já saem agarrados a alguém que tem com o Ratinho, entendeu?

Martha: Você acha possível isso, que eles já num primeiro turno pudessem se associar a um candidato do Ratinho? Essa eu não vejo ninguém especulando.
Marcelo: É uma pergunta que eu sempre faço para mim mesmo. Põe essa no teu radar, hein?

Martha: Tá, bom saber. Quando você fala que ‘pessoas querem vir’ [para o partido], quem são? Por exemplo, eu soube outro dia que o deputado Pedro Lupion talvez viesse pro Republicano. Pedro Lupion é muito ligado ao Bolsonaro…
Marcelo: Eu acho que o Pedro Lupion vem e ele arrebenta, porque é um cara… Eu não sei se é bom para ele. Não por isso [ligação com Bolsonaro], eu acho que não combina com ele.

Eu acho que o Pedro ele se descaracteriza, ele se desconecta com o mundo dele. Pedro é um cara muito forte, é um homem do boi, é um cara que tem… Olha, eu consigo pegar uma coisa muito parecida com o pai, tenho muito respeito pelo Pedro. Eu, se fosse ele, eu seria o candidato a senador do boi. Assim, cooperativa, agronegócio… Qualquer tipo de cultura no Paraná, se pegar 30 produtos, soja, milho, tilápia, bicho da seda, meu Deus… O Paraná tá sempre em primeiro, segundo, terceiro no Brasil. Pensa, isso aqui é um estado muito produtor. Então ele tem uma bandeira que poucos têm. Mas eu acho que não combina.

Um dia eu tava falando com a Cristina, a Cristina foi na padaria. E isso que é legal na vida, a gente ter credibilidade pra falar com qualquer pessoa. Falei, ‘oh, Cristina, preciso ser bem honesto com você. Eu tô com o Eduardo Pimentel, vou ajudar, é meu amigo. Enfim, o Republicanos já tá com ele, eu sou um amigo, ele vem na minha casa, almoça comigo. Ele é meu amigo, não é meu prefeito’. E daí ela falou ‘o que você acha de eu vir pro Republicanos?’ Foi uma conversa muito bonita também. Eu falei ‘eu acho que você não combina com o Republicanos. Porque eu acho que você é mais, assim… Não sei, vocês têm mais cara de Lava Jato, assim. Vocês têm esse jeitão de polícia assim, sabe? Vocês brigam muito’. Eu falei do coração, ‘eu acho que você é uma mulher que pode ir muito longe, porque você’… Eu vi com o celular, ela só com a coragem dela. Um dia ela me deu até uma carona com um motorista voluntário. Cara, essa mulher é muito top. Olha o que ela fez, né? Olha o que ela fez em Curitiba. Então eu falei pra ela ‘não, você tem que estar perto do Dallagnol. Você tem um jeitão de Dallagnol, de Sergio Moro, sabe? Você tem uma coisa assim da… É uma coisa diferente, assim, uma coisa meio de juiz.’

Martha: Pelo jeito ela levou você a sério, né?
Marcelo: É [risos]. Eu gosto muito dela, a gente fala muito de natação. E eu falei para ela que achava que não deveria vir pro Republicanos. E ainda falei outra para ela: ‘vou te dar uma dica minha, porque vou fazer 60 anos em 2026. Vá a federal, garanta um mandato de federal. Você sabe falar, vai ser o que você quiser na vida. Não arrisque mais uma derrota’. Eu perdi para vereador, depois ganhei duas. Estadual, fui duas vezes como suplente. Senador, daí era contra o Álvaro Dias, no auge dele. Mas falei para ela ‘você não pode ter duas derrotas. Você tem que ganhar bem agora’. Mas eu acho que ela não vai me escutar nisso, né?

Martha: Acho que não, pelo jeito ela vai ser candidata ao Senado…
Marcelo: Eu acho que ela deveria ser a federal mais votada no Brasil. Eu acho que ela ia fazer um papel muito lindo. Mas tudo bem, né? Acho que às vezes as pessoas querem pular degrau. Eu acho que ela tá numa posição muito boa, mas não sei como é o convívio lá, né? Porque eu sou um homem que não tem mídias sociais. Não tenho Instagram, não tenho Facebook, não uso TikTok, eu não uso celular. Então eu estava vendo o jornal ontem, como é que ela vai se explicar para o Centrão? Ela falou muito durante a vida dela.

Martha: Sim, eles usaram muito os vídeos dela na época de campanha eleitoral no município.
Marcelo: Isso é um perigo, o que você disser fica. Mas é o custo de ter um lado muito radical também, esse é o preço.

Martha: E você, pensa em disputar a eleição de novo?
Marcelo: Eu acho que se eu fosse deputado estadual, deputado federal, eu acho que eu me descredencio como um líder partidário, porque daí tem concorrência, tem muita concorrência.

Martha: Você não gostou da experiência de deputado federal?
Marcelo: Nossa, eu amei. Foram meus melhores quatro anos. Mas eu fui um loser, né? Não fui um winner. Eu sou um homem que deu 85 mil votos, a outra 83 mil votos. Eu não cheguei nos 100 [mil votos]. Assim, eu acho que eu não sou muito bem entendido. Eu acho que ser o deputado do livro, por ser um homem rico, eu acho que essas coisas as pessoas te colocam um carimbo. A CR Almeida era uma empresa que tinha alguns pedágios no Paraná, então eles vão te colocando um carimbo de bandido. Parece que ser rico, trabalhar, é uma coisa às vezes meio negativa numa eleição. Eu acho que hoje, sim, eu seria um cara muito bom, ia fazer muito voto porque eu sou do meio, né? Eu não tenho problema com ninguém da esquerda e da direita.

Martha: Mas não existe essa possibilidade?
Marcelo: Ah, não. Ah, não. Eu, só se fosse senador. Mas não, não tem. Porque eu não queria ser deputado federal mais, né? Não, não. Estou tão feliz com o que eu faço na vida. Só se fosse um convite para vice-governador, senador da República… Mas neste momento, o mais importante é fazer o que eu estou fazendo, fazer o colchão para eles. Eu chamei agora todos os vereadores, prefeitos e vice-prefeitos para uma conversa de três horas, eu fiz um vídeo que o Paraná é um só, já colocando meu jeitão, né? Não tem direita, esquerda, norte, sul. Fui pra cima e daí eu falei ‘olha, cara, as coisas, vocês têm que aprender a dizer não, né? Vocês tem que ter visão de águia, vocês são obrigados a ler um pouco Jaime Lerner, Cidade pras Pessoas, Jane Jacob. Vocês têm que ler um pouco sobre urbanismo, ter um ponto crítico’. Esses dias eu vi que tavam falando lá na rádio de acabar com o IPVA de motocicleta. Mas pô, no Paraná, de cada 10 pessoas que morrem no trânsito, sete estão de bicicleta. Será que é bom baixar o IPVA? Mais carros nas ruas? A cota-parte do IPVA é com o que os prefeitos vivem. Será que o mundo não está mais quente? Então o que falta às vezes numa Câmara Federal, na própria Assembleia, é um contraponto. Podia ser o Ratinho, podia ser o Alvaro Dias, o Requião, qualquer um. Mas falta um contraponto. Eu gosto de gente que tá na contramão, sabe? Parece que quem tá na contramão é que tá certo.

Martha: Pois é, mas aí você apoia o Ratinho, você apoiou o Eduardo Pimentel. Eles não estão exatamente na contramão, né?
Marcelo: É que faz parte, né?! Eleitoralmente tudo é bom, é diferente. É que eu sou mais crítico.

Martha: Como é que você vê a administração do Eduardo Pimentel até aqui?
Marcelo: Eu acho que, primeiro, ele é muito bom como ser humano. Eu acho que ele é um político que tem baixíssima rejeição. Eu acho que é zero a chance desse cara não ser governador, sabia? Zero. Porque ele é um homem, assim, parece que ele é um conselheiro. Ele tem uma paz. Nessa eleição que ele ganhou, eu fiquei impressionado com ele na televisão, até chorei, porque achei tão lindo quando ele explicava com a mão. ‘O VRT vai ser assim, aí vai chegar no posto de saúde. Sabe aquela alça? Aquela alça vai sair e chegar atrás da estação tubo, aí aqui tem a regional do Boqueirão, que vai ter duas saídas paralelas…’ Eu falei ‘cara, esse cara viu a obra’. Eu falei pra min há mulher: ‘ele vai ganhar a eleição, ele viu a obra. Ele conhece o Boqueirão, ele conhece o Xaxim, ele sabe o rio que corta a cidade’. Queira ou não, ficar oito anos atrás do Rafael Greca foi muito bom. E ele ficou oito anos ali de pianinho, nunca brigou. Ficou quietinho, aguardando o seu tempo. Chegou a hora. Eu gosto muito dele, acho que é um homem muito ativo, muito sério. A capacidade, o sarrafo ético e moral dele é muito alto. É muito legal. Sabe a chance dele se envolver com corrupção qualquer? Zero. Só isso de a gente pensar, que uma capital como Curitiba tem um prefeito que é zero de esquema de corrupção… É só a gente dar uma ida pro Rio de Janeiro pra gente entender a diferença de homens públicos, né?

Martha: Voltando um pouquinho na questão do Ratinho, digamos que ele venha então pro Republicanos e seja candidato à presidência.
Marcelo: Ah, sim, tem que voltar. Porque assim, eu acho que o Tarcísio começa a falar, de fato, que não é candidato a presidente.

Martha: Você está levando a sério?
Marcelo: Começando. A minha dúvida – eu não perguntei para o governador, por favor. Também é a minha visão. Eu acho que se o Tarcísio for [candidato a presidente], a chance do Ratinho não querer ser nada é enorme. Eu acho que o Ratinho não vai a senador, não vai a vice-presidente, não vai a nada. Eu acho lindo da parte dele cuidar dos filhos, viver um pouco com o pai, eu acho lindo. Acho que ele é um grande líder se ele fizer isso. Se o Tarcísio sai presidente, eu acho que o Ratinho não vai [se candidatar a nada]. Do meu ponto de vista, não perguntei pra ele. Mas se o Tarcísio não vai, todos vão. Eu acho que vai [Romeu] Zema, que vai Eduardo Leite, que vai Ratinho Júnior e vai [Ronaldo] Caiado. Vão todos, né? Daí já não é uma campanha polarizada, e daí vai por onde? Eu não sei, é isso que eu digo. Eu não sei como e que esse Kassab, por onde vai, né?

Martha: E o Bolsonaro vai com um dos filhos dele nessa hora?
Marcelo: Eu acho que é perto de zero essa chance, dele ir com alguém da família. É zero a chance, faço uma aposta aqui. Ele ir com a mulher ou com o filho? É zero. Nós estamos aqui num programa agora, somos os donos daqui e vamos contratar alguém para ser o âncora com a gente. A gente só pode chamar alguém que a gente possa demitir depois. Como é que ele vai bater no filho? Como é que ele vai bater na esposa como presidente da República? Assim, ele é o chefe. Mesmo com todos os problemas, com o Supremo Tribunal Federal condenando… Ah, eu faço uma aposta aí. É zero a chance dele colocar um da família. É de fora.

Martha: Falando nisso, STF e tal, o que você acha, sua posição pessoal, sobre o PL da anistia ou dosimetria, ou seja o que for?
Marcelo: Eu acho que primeiro tem um acordão, assim. Eu sempre achei too much, sempre achei demais, muito forte as penas. Eu não sou advogado, mas achei muito legal ler sobre dosimetria, eu queria entender. Então, sempre tem cinco porquês das pessoas serem presas lá. Aquela turma grande lá, o general, ele… E assim, às vezes parece que tem uma bitributação. Eu leigo, lendo o Estadão, a Folha, o Valor Econômico, eu falei ‘tudo bem, tem que ir pra cadeia, mas é muita’. Eu falo em bitributação porque tem um crime e é uma pena. Tem outro, e soma. E tem coisa ali que se tirar um já melhora. Existe um consenso, acho que até na própria esquerda, que os anos de pena é muito grande. Mas o tiro pela culatra, a sem-vergonhice, foi o que o Congresso fez. Não se faz isso.

Martha: A história da Blindagem, que jogaram ali no meio da confusão?
Marcelo: Martha, eu fui deputado federal. O Congresso Nacional tem 110 caras de primeira qualidade. Eu fui deputado federal de primeira qualidade. Pode deixar carteira, não mexe com emenda, zero de corrupção, não está nem pensando na próxima eleição, está pensando muito mais na próxima geração. O grande problema é que o Congresso tem gente nova com a cabeça velha. Porque assim, é tão legal ser deputado, é um poder que você tem… Meu Deus, só o salário. Só o salário, só poder viajar o Brasil inteiro de graça. Aonde você vai, você é uma autoridade nacional. Num país de 203 milhões de cidadãos, os caras escolhem 500 só. Aí fica essa vergonheira… Por que eles não querem que o Supremo Tribunal Federal fiscalize? Porque é mais fácil você comprar a primeira instância, a segunda instância. O Supremo Tribunal Federal é pra salvaguardar a minha saúde mental, que eu posso falar um negócio e os caras quererem me cassar. Não, o Supremo que me segura. Você vai ser só julgado por quem é de primeira qualidade. As pessoas falam, o Flávio Dino é de primeira qualidade. O Fachin foi meu advogado, é de primeira qualidade. Isso é um presunto, o melhor presunto do mundo. Isso é um azeite sem acidez. Quem tá ali não é bobo, pra chegar e ser uma Cármen Lúcia, pra ser um Zanin, pra ser até o que o Bolsonaro pôs também lá, o Nunes Marques, seja quem for. Você não compra ministro do Supremo Tribunal Federal, e por isso que tá no Supremo Tribunal Federal. ‘Ah, não pode fiscalizar’. Como não pode fiscalizar? Eles [deputados] têm 50 bilhões de reais de emenda. Eu, quando fui deputado federal, eu acho que todos os deputados federais com os senadores tinham 15 bilhões. Eles têm 50 bi. É muito mais forte ser um deputado federal do que ser um ministro. E outra coisa.

Eu tenho um amigo meu que trabalha no Tribunal de Contas, trabalha no Supremo. Ele falou ‘não, eu acho que uns 10 bi não chega, Marcelo’. Falei ‘não, eu vou infartar’. ‘Não, é capaz que 20% do dinheiro não chegue’. Vocês estão de brincadeira. Nem chega lá! E fora o que chega e tem que dar comissão. Então essa coisa da blindagem, não poder fiscalizar, não. É o primeiro que tem que ser preso [se cometer crime]! Primeira coisa, deveria estar aberta a conta bancária, aberta todas as minhas contas bancárias, aberto o sigilo celular, aberto. Os 513 deputados não podem ter sigilo nenhum, porque você representa o povo. Cara, você já ganha 40 pau, 30 mil, você tem… Meu Deus! É que assim, eu amava muito o que eu fazia. Foi a melhor época da minha vida, mas disparado. E outra coisa: o Congresso funciona. A gente vai falar sobre mídias sociais, vamos falar sobre turbina do Airbus, hoje vai ter um cara para falar sobre bicho da seda, vai vir um homem da Inglaterra falar sobre o Canal da Mancha… Só tem gente boa. Você chega numa comissão… Você nasceu aonde?

Martha: Eu nasci em Pelotas.
Marcelo: Tá, então é o seguinte. Eu sou de Pelotas, sou deputado federal. Martha, você podia fazer para mim, eu queria uma história de Pelotas, desde o começo da cidade, as primeiras famílias. Você podia fazer para mim? Eu queria trazer um pessoal para falar do aniversário de Pelotas, queria entender mais sobre Pelotas. Vocês conseguem fazer um levantamento de Pelotas desde que ela foi desmembrada da cidade tal? Em 24 horas você tem na tua mesa, um relato. Coisa mais linda. Nós não entendemos nada de resíduo sólido, somos zero à esquerda. Aí acharam que a Martha e o Marcelo entendem de lixo e dão para nós a relatoria. Você vai lá, fala que precisa de um relatório, que vai fazer uma relatoria de um projeto de resíduos sólidos e queria entender melhor sobre coleta, destinação final, como que isso é feito nos consórcios, quanto pesa um litro de lixo, o que é densidade aparente… Você pode fazer um resumo para mim? E outra coisa: queria votar favoravelmente. Olha que mamão com açúcar! Eu quero votar favoravelmente, mas me dê poder para eu chegar na tribuna e falar ‘eu, deputada Martha, vim aqui defender o meu projeto’. Aí você vai para casa, é jornalista, estuda duas horas, vai lá e fala, debate e pronto.

Martha: Mas a sua posição em relação à anistia. De fato, anistia ampla, geral e irrestrita?
Marcelo: Meu Deus do céu, meu Deus do céu. Como é que eu vou falar isso? Eu sou deputado federal, eu não podia entrar no Congresso domingo. Deputado, você passa pelo… Imagina, pra mim aquilo é um templo. É como pôr fogo no padre. É como falar mal do papa. Eu fui deputado federal, eu tinha um orgulho. Eu vinha pro avião e chorava de alegria. ‘Cara, eu represento o Paraná’. Não, é que é zero pra mim, é zero de chance de ter anistia pra qualquer cara desse. Não importa se ele é um débil mental, se ele é analfabeto, se ele foi pago. Assim, isso é um princípio para mim. É que as pessoas não sabem o que é democracia. As pessoas não têm ideia do quanto vale poder falar o que quiser. As pessoas não têm ideia de como é legal poder ser vereador, ter eleição a cada quatro anos. As pessoas não têm ideia o quanto é importante trocar a cachorrada, que eu falo. Troca, troca, troca. Não dá tempo. Vai elegendo, vai… Não pode ter reeleição num país igual o Brasil. Porque as pessoas vão aprendendo a roubar. Então tem que ter gente nova que chega e não sabe nada. Eu prefiro um desavisado que não sabe nada do que alguém que tá há 20 anos no Congresso. Eu. Eu prefiro. Então assim, isso não existe.

Martha: E por consequência, as ações, por exemplo, do Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos…
Marcelo: Não, mas ele é um débil mental. Não pode falar dele.

Martha: Só que as ações dele trouxeram consequências, temos um tarifaço.
Marcelo: É porque o Brasil não consegue mostrar o que esse cara fez de mal. Eu tenho padaria. Eu que tô lá no meu mundo, com 150 funcionários, ele me ferrou. No café. Eu consumo 6 toneladas de café por ano. Eu sou desse tamanho, a pulga do rabo do cachorro do bandido num país igual o Brasil, que produz café, que tem todo mundo gerando, gente ganhando milhões de dólares, 10 mil funcionários. Eu, que tenho uma padaria, que não é nada tão sofisticado, quebrei a cara com esse cara. Você fica imaginando um cara na tua terra, que produz 10 mil calçados por dia. Um homem, um menino, um piá pançudo, falando com o presidente da república nos Estados Unidos, fez o que esse cara fez. Não, estamos falando… Imagina isso, num país produtor como é. Só que assim, as pessoas não percebem isso. As pessoas não alcançam isso, Martha, o mal que é isso, né? Então assim, abrir uma bandeira americana na Avenida Paulista?! Os cabras são macho. Isso é um troço enlouquecido. Mas enfim…

Martha: Você não se chocou no momento?
Marcelo: Não é… É que assim, o bom senso. Eu vou fazer 60 anos, sabe? Claro, pode ser que eu não esteja nesse mundo porque eu não tenho mídias sociais, eu não tenho Instagram, não abro nenhum vídeo que me mandam. Eu leio o jornal todos em papéis, eu leio o Estadão, eu leio O Globo, leio o Bem Paraná. Do Bem Paraná eu pego em digital, faço rádio, tenho 250 mil ouvintes. Então assim, eu acredito muito ainda que as coisas que valiam há 50 anos atrás continuam valendo. Fica quieto no velório, vai na missa, coloca uma roupa melhor, vai num casamento, vai num aniversário, vai num jantar, já leva um vinho pro casal que te convidou, põe uma barra de chocolate, penteia o cabelo, põe um perfume, escove os dentes. Sabe, tem coisas assim que não precisam mudar. É muito perigoso a modernidade, é muito perigoso a moda, né?

Martha: Bom, vou falar um pouquinho de você então, da sua atual atividade. Você trabalha com rádio, com comunicação, mas tem a padaria, que eu gostaria que você falasse rapidamente aí.
Marcelo: Eu comprei a padaria seis anos atrás, sempre quis comprar essa padaria, e o que eu consegui fazer na padaria é uma hospitalidade irracional. É tratar as pessoas como eu quero ser tratado. Graças a Deus todas elas têm muita fila. Eu consegui entender se você quer ser bom, seja diferente. Então, qual que é o melhor queijo branco? Wittmarsum, vamos lá! Qual que é a melhor farinha? Irati, vamos lá! As galinhas, as galinhas de ouro, Cruzeiro do Sul. Quem que faz a melhor manteiga no Paraná? Verê, no sudoeste, vamos em Verê! Quem que faz a melhor tilápia? A melhor tilápia tá lá, tudo em Toledo. Então, a única coisa que o Paraná não tem top é café. O nosso café não é top, não existe. Tem café bom. De cada 100 cafés, 90 são normais, seis são gourmets. Eu tomo gourmet em casa. Três Corações, Melita. Mas quatro é especial. Aí nem esses têm. O que é café especial? Café especial é pra cima de 87 de nota. Existe um cupping, existem maneiras do cara falar ‘esse café é nota 87, esse é 83. Não, esse aqui não, esse não é café especial, esse aqui é gourmet. Não, não. Extra forte, não. Esse é café comum’. Mas eu consegui fazer uma coisa que eu sempre gostei. Produtos muito bons, máquina, que chama-se bens de capital. Bens de capital é a máquina que faz o pão, a máquina que corta, fatiadora, a que extrai café, a laminadora que faz o croissant, a máquina…

Martha: Você cuida disso pessoalmente?
Marcelo: Sim. Que ultracongela. Essas máquinas são importadas. Forno é português, máquina de extrair café vem de Milão, máquina de mexer com croissant vem da Alemanha, máquina de tirar suco laranja é americana. Nada é nacional. A melhor nacional é pra esquentar pão de queijo, e é a melhor nacional. E gente com tesão. Se você tiver produto, insumo, máquina e gente, você faz uma alquimia. Que é água, levã, farinha e sal. Aí faz pão. E aí você tem que virar marca, é estratégia. O que é estratégia na vida? Estratégia é saber o que você não quer. Estratégia pra onde que eu não quero, o que que eu não vou fazer? Não vou fazer doguinho. Estratégia. Não vou vender panetone. Aqui não vai ter QR Code, aqui não vai ter delivery, aqui não pode fazer reserva, aqui não tem quindim. Pronto. Estratégia na vida é o que que você não quer, com quem você não quer andar, aonde você não quer trabalhar. Se você sabe o que você não quer, fica muito mais fácil saber o que você quer. Acho que essa que é a grande sacada das padarias, né? E eu me especializei em Viennoiserie. Viennoiserie é folhado, é croissant de amêndoa, croissant de pistache, que são os croissants que vai com uma farinha muito boa junto com manteiga. Meu croissant hoje tem 54 camadas. É um croissant que tem farinha, manteiga, farinha, manteiga… Por isso que quando você come, ele suja você. Croissant não é pão, né?

Martha: Mas você agora está entrando num outro empreendimento aí também, na área de natação em águas abertas.
Marcelo: Eu comecei a nadar há um tempo. Já nadava, sempre nadei, e daí comecei a fazer umas travessias. Ano passado fiz uma travessia, fui pra Montenegro. Era 22 quilômetros, não aguentei. No terceiro dia eu quebrei. Nada quatro dias, 22 quilômetros. Eu falei ‘não, em 2025 eu vou nadar na Croácia’. Fui lá e me inscrevi. 33,3 quilômetros, nada quatro dias. São 150 participantes de 25 países. A faixa etária é 50 a mais. Homens, mulheres.. 60% é mulher. E é uma prova dificílima. E um dia você nada há 4,5 quilômetros, para numa ilha, mais 4,5. Segundo dia nada 8, dificílimo, tinha um suel, vento. Terceiro dia 11 direto. Dá três horas e cinquenta e sete na água. E quarto dia mais cinco. E eu criei agora esse grupo chamado Open porque o Marcelo frouxo, o Marcelo bunda mole, o Marcelo que se atrasa, ficou no mar Adriático. Eu nunca imaginei que eu ia me tornar um homem antifrágil. Eu não sou resiliente, eu sou antifrágil, eu não quebro mais. Porque eu fiquei quatro dias conversando com a desistência. 90% é a cabeça, 10% é o físico. Eu falei ‘não, as pessoas têm que saber que elas podem mais’. Você pode ficar com mais sede, aguentar mais o frio, dormir mais tarde. O corpo humano aguenta muito mais do que a gente imagina. Eu falei, e lá eu ouvi o silêncio. Eu nunca tinha ouvido o silêncio. O silêncio é um negócio muito louco. Porque é só você, a água e Deus. Não tem mãe, não tem música, não tem nada. A imensidão azul. Se você vê a imensidão azul, você fala ‘meu Deus, o que eu tô fazendo aqui?’ Claro que é a melhor travessia do mundo, tem 50 caiaqueiros, tem barco. E eu ainda fui sem roupa, só de sunga.

Martha: E o que você tá fazendo aqui?
Marcelo: Estamos aqui criando um grupo de natação para as pessoas que querem nadar em lago, lagoa, no Passaúna comigo, na sua própria piscina. É assim, é ensinando as pessoas que querem nadar com a gente. Quer nadar no Passaúna? Venha comigo. Quer nadar em Matinhos? Venha comigo. Vamos nadar na praia? Venha com a gente. Eu acho que tem duas coisas que é importante para o ser humano, eu acho. Se eu pudesse dar uma dica para quem tem filho novo, teu filho e tua filha tem que saber falar inglês e nadar. Porque isso é sobrevivência no século XXI.

Martha: Antes de encerrar, é impossível falar com você e não falar sobre o seu pai, Cecílio do Rego Almeida, um dos maiores empreiteiros que esse país já teve e que certamente deixou um legado para você além do dinheiro. O que ele te deixou?
Marcelo: Ah, o Cecílio deixou para mim, assim… Primeiro, o maior lema que eu tenho na vida, e eu levo até hoje, é que só tem uma maneira de você ser respeitado. A coragem força o respeito. Não tem ‘eu acho’, nunca diga ‘eu acho’, ‘pode ser’, ‘vou ver se eu posso ir’. Não, fale ‘sim’ ou ‘não’. Não existe ‘acho’. Acho que isso é uma coisa legal. ‘A vida é feita de bifurcação’, ele falava. ‘Medíocre é aquele que fica na bifurcação e não decide’. Cecílio falava muito que tem o curto caminho longo e o longo caminho curto. E quem pega o curto caminho longo, se quebra. Porque o caminho é curto. Uma bifurcação, tem um menino, o cara fala: ‘como é que faz pra chegar na cidade?’ Meu pai falava. ‘Pega esse caminho’, o cara ia. Acabava o asfalto, começava lá um paralelepípedo, barro, canavial, e o cara não chegava na cidade, Martha. Via até a copa das árvores, a cruz da igreja, e voltou. Ele falou ‘mas peraí, você falou que tinha o curto caminho longo e o longo caminho curto’. ‘Sim, o senhor pegou errado. O senhor tinha que pegar o longo caminho curto, que é seis quilômetros asfaltado. O senhor não me ouviu’. Então não pegue atalho na vida. Eu tenho muitas saudades dele, eu sou muito parecido com ele em várias coisas. Eu acho que imaginar que um homem que era um carteiro com 14 anos, com 16 anos vendia fruta, com 18 anos não tinha dinheiro para fazer Federal. Os Correios do Brasil pagaram um cursinho para ele, ele fez voto de pobreza na Federal. Você tinha que fazer um voto de pobreza, senão você não poderia se inscrever. Passou em primeiro lugar em Engenharia. Imaginar que com 23 anos ele cuidava de 1.500 homens de Curitiba a Paranaguá. Com 27 anos ele era dono da CR Almeida. Pagou a família, que era nessa rua, Lysimaco Ferreira da Costa. Pagou por 30 anos e com 41 anos de idade ele derrubou um governador de Estado dentro da ditadura militar. Ele pode ter 100 mil defeitos, o Cecílio. Eu não conheço no mundo um homem mais corajoso que ele.

Martha: Agora vamos nos despedir do nosso convidado. Você tem um minuto para falar ao público.
Marcelo: Tomara que eu tenha ficado em você, eu sempre falo isso quando eu faço palestra. Amor é sair de si em direção ao outro. Tomara que eu tenha ficado em você com toda essa experiência que eu tenho. Nesse um minuto, que eu acho que vale, e deixo aqui para você uma dica: o que vale na vida é a viagem, não é o destino. A vida é muito curta pra gente ser pequeno, acho que isso é muito importante para todos nós. E aprenda a dizer ‘não’. Eu sempre acho que a vida da gente seria muito melhor se a gente soubesse falar sete ‘nãos’ e três ‘sims’. Porque o não desafoga, o não tira nó. E o importante mesmo é a gente sempre ter visão de águia e não visão de galinha. E, se possível, nunca usar o retrovisor. Falo para meus filhos, por que o para-brisa é grande e o retrovisor é pequeno? Porque a gente se olha para frente, não olha para trás.