O cientista político Emerson Cervi, pesquisador doutor da Universidade Federal do Paraná, fez uma análise, a pedido do blog, sobre o que levou à eleição, com relativa folga, do candidato Eduardo Pimentel (PSD) sobre a candidata Cristina Graeml (PMB). Em resumo, Cervi diz: “O Pimentel acabou sendo eleito no segundo turno, não com os votos do PL, não com os votos do bolsonarismo da direita radical, que esses votos foram para Cristina, mas com os votos progressistas, transferidos do Ducci (Luciano Ducci, PSB) para ele”.
Cervi fala com base nos dados já disponíveis de votação por zona eleitoral. No primeiro turno, Pimentel e Cristina ganharam em cinco zonas eleitorais. No segundo turno, Pimentel ganhou em todas, com índices muito parecidos, entre 54% e 57%. Com uma abstenção de mais de 432 mil no segundo turno – 40 mil eleitores a mais que no primeiro – a disputa dos finalistas foi conquistar os 300 mil votos que restariam dos candidatos derrotados do primeiro turno.
“Desses 300 mil, 200 mil foram para o Pimentel. Ele passa de 313 mil para mais de 530 mil votos. E 100 mil foram para a Cristina, que passa de 290 mil para 390 mil. Em áreas em que o Ducci tinha sido bem votado no primeiro turno, a diferença de votos para o Pimentel é muito positiva, ou seja, onde Ducci teve muito voto no primeiro turno, agora Pimentel cresceu mais”, diz o cientista político.
Ainda no mesmo raciocínio, ele acrescenta: “Para cada percentual de voto do Ducci, havia um crescimento de 1,5 ponto para o Pimentel no segundo turno. E para Cristina foi o contrário, a relação é negativa: onde Ducci teve mais votos no primeiro turno, Cristina cresceu menos no segundo turno. Porque isso é mais ou menos como um sinal trocado. Como só tem dois candidatos, se um vai crescer, o outro vai diminuir ou pode ficar estável. Então o efeito do Ducci foi positivo para o Pimentel e negativo para Cristina.
Já a influência dos votos de Ney Leprevost (União), majoritariamente migrados para Cristina, acabou sendo pequena porque ele fez uma votação menor. “No caso do Leprevost, que foi o quarto candidato, e ainda teve alguma relevância em pontos percentuais, foi menos forte. Não foi tão significativo quanto no caso do Ducci. E para Pimentel, foi negativo. Ou seja, onde Leprevost tinha sido bem votado no primeiro turno, Pimentel teve um crescimento menor. Não que ele não tenha crescido, mas ele teve um crescimento menor. E pra Cristina foi positivo. Onde Leprevost foi bem votado no primeiro turno, Cristina teve um crescimento maior”, explica.
Cervi não vê tanta importãncia do índice de abstenção. “Com relação às abstenção, não teve efeito nenhum na diferença de votos paro Pimentel. E teve um efeito positivo baixo, mas positivo, para a Cristina. Quer dizer: onde houve mais abstenção, Cristina tendeu a ter um crescimento maior de percentual de voto no segundo turno”,disse ele. “O que comprova aquela ideia de que o eleitor que se abstém e o eleitor que vota na candidatura radical de extrema direita é basicamente o mesmo. Ele está dando o mesmo recado. É nessas áreas que esse tipo de candidato cresce e onde também acontece a abstenção,” completa.
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