Tarifaço de Trump: no Paraná, políticos de esquerda condenam; de centro, silenciam; e ala bolsonarista põe culpa no governo

Martha Feldens
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Paulo Martins. Reprodução Instagram

As reações dos políticos paranaenses ao anúncio do tarifaço de Trump, feito na quarta-feira (9), variam de acordo com a cor partidária. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, comunicou ao governo Lula sua decisão de taxar em 50% todos os produtos brasileiros e as declarações que têm sido divulgadas não chegam a causar supresa. Afinal, como Trump usou como justificativa para sobretaxar o Brasil uma “perseguição” a Jair Bolsonaro (PL), os paranaenses totalmente alinhados com o ex-presidente saíram em defesa do gesto do presidente norte-americano. Do outro lado, a esquerda fez coro forte com as palavras do presidente Lula (PT), que diz que não aceita tutela e promete reciprocidade. Mas as muitas lideranças paranaenses ligadas ao centro, quase 24 horas depois do anúncio, ainda não se manifestaram.

Entre os bolsonaristas, o vice-prefeito de Curitiba, Paulo Martins (PL), reagiu logo depois do anúncio, na quarta-feira, no seu perfil no X, com uma publicação jogando toda a culpa no governo Lula e no STF (Supremo Tribunal Federal). “Parabéns ao consórcio Lula-STF. Por perseguição política, conseguiram inviabilizar o comércio com a maior potência econômica do planeta”, disse ele num primeiro momento.

Duas horas depois, porém, Paulo Martins mudou um pouco o tom. “Não é punindo o Brasil que trabalha e produz que se atinge o Brasil que namora o que há de pior no mundo. Afinal, machucar o primeiro é fortalecer o segundo.A medida dos EUA pode levar a uma pressão interna que faça com as forças que estão no poder no Brasil recuem e busquem um acordo com os EUA. Por outro lado, imagino que já há petista empolgado com a oportunidade para entregar o que resta do país para a China. A ver. O Congresso deve assumir o protagonismo e fazer o que deve ser feito”, disse em um fio no X.

Hoje (10), o vice-prefeito voltou ao tema, dizendo que Lula precisa negociar com o presidente norte-americano. “Em outros casos, Trump usou as tarifas para fazer com que os países sentassem à mesa de negociação. Assim, agora cabe a Lula sentar e negociar. Lula vai fazer aquilo que lhe der a melhor narrativa, que sempre é a verdadeira preocupação de Lula”.

Outro bolsonarista raiz, o deputado Filipe Barros, presidente da Comissão de Relações Exteriores na Câmara, que inclusive esteve nos Estados Unidos com Eduardo Bolsonaro para pressionar o governo Trump a agir em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro, não fala em negociação. Quer que o governo e o STF cedam às demandas do presidente Trump. “Lula anunciou que a sanção americana — custo-ditadura causado por seus atos antidemocráticos — será respondida com ‘reciprocidade econômica’. Ou seja: em vez de abandonar suas políticas persecutórias e, desta forma, acabar com a sanção sofrida, Lula preferiu piorar a situação TAXANDO OS BRASILEIROS que quiserem adquirir produtos americanos!”, disse Filipe Barros no X.

Antes disso, ele já tinha falado na Câmara sobre o assunto e inclusive citado uma suposta interferência dos ex-presidente Joe Biden na eleição de 2022, vencida por Lula contra Bolsonaro. NO X, ele replicou o assunto: “Lula ficou indignado porque @realDonaldTrump
se pronunciou em defesa de @jairbolsonaro. Aos olhos da esquerda, a declaração configurou uma terrível intervenção estrangeira. Mas os milhões de dólares do Governo Biden despejados a favor de @LulaOficial nas eleições de 2022, curiosamente, não foram nada de mais. A verdade é que Biden manipulou o processo democrático brasileiro por meio da USAID, agência do governo americano. Montou-se aqui uma complexa estrutura de manipulação e censura com financiamento de influenciadores, jornalistas, ONGs de extrema esquerda, entre outros setores da sociedade. Uma máquina de desinformação foi posta em marcha para enganar o eleitor, demonizar Bolsonaro e calar seus apoiadores”, disse.

Tarifaço de Trump: Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária pede resposta firme e estratégica

O deputado federal Pedro Lupion (PP), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, se manifestou sobre a decisão do presidente Donald Trump ainda na quarta-feira. Em publicação no X, em nome da FPA, ele disse que “a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) manifesta preocupação com a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifa de 50% sobre produtos brasileiros”.

Segundo a publicação de Lupion, “a medida, comunicada por meio de carta oficial enviada ao governo brasileiro, representa um alerta ao equilíbrio das relações comerciais e políticas entre os dois países. A nova alíquota produz reflexos diretos e atingem o agronegócio nacional, com impactos no câmbio, no consequente aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras”.

E continua: “Diante desse cenário, a FPA defende uma resposta firme e estratégica: é momento de cautela, diplomacia afiada e presença ativa do Brasil na mesa de negociações.
A FPA reitera a importância de fortalecer as tratativas bilaterais, sem isolar o Brasil perante as negociações. A diplomacia é o caminho mais estratégico para a retomada das tratativas”.

Moro diz que “anti-americanismo infantil” de Lula não ajuda

Sergio Moro (União) foi o único entre os três senadores do Paraná a se manifestar pelas redes sociais. No X, ainda na quarta, Moro disse o seguinte: “A imposição de tarifas de 50% pelos EUA contra produtos brasileiros é um grande erro, já que a balança comercial é equilibrada e até com vantagem para os EUA. Hora de atuar com diplomacia firme e serena para reverter. Lula não ajuda com seu antiamericanismo infantil. Deixe os diplomatas profissionais trabalharem.

Hoje, Moro voltou ao assunto do tarifaço de Trump publicando uma notícia do UOL com a opinião de Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, sobre o tema. Barbosa diz que Lula teria se precipitado em responder a Trump antes do anúncio das tarifas. “Declaração de Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, 1999-2004, insuspeito de ser bolsonarista. O momento é de negociação e de diplomacia para reduzir as tarifas que prejudicarão a economia brasileira e não de bravatas antiamericanas. A Presidente do México, mesmo de esquerda, foi mais hábil em lidar com a ameaça de elevação tarifária.”

Gleisi acusa bolsonaristas de aplaudir tarifaço de Trump

A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), fez duas publicações no X sobre o tarifaço de Trump. Na primeira delas, estabelece um paralelo entre a proposta do governo de taxar os mais ricos e o resultado das ações do governo Bolsonaro junto ao governo Trump. “O projeto do @LulaOficial é taxar os super ricos, o de Bolsonaro é taxar o Brasil! A subserviência de Bolsonaro aos EUA está custando caro ao país. As mentiras que ele e a família espalharam sobre o Brasil e o STF serviram de pretexto para Donald Trump taxar as exportações brasileiras. Trump nunca esteve preocupado com democracia em lugar nenhum, muito menos com o destino de Bolsonaro. O que ele teme é o fortalecimento das relações comercias e financeiras do Sul Global, que o Brasil ajuda a construir nos BRICS e outros fóruns globais. Não seremos reféns de Trump nem de Bolsonaro.”, disse ela ainda na quarta-feira.

Hoje, depois da manifestação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) culpando Lula e o STF pela decisão do presidente Trump, Gleisi voltou à carga. “Quem está colocando ideologia acima dos interesses do país é o governador Tarcísio e todos os cúmplices de Bolsonaro que aplaudem o tarifaço de Trump contra o Brasil. Pensam apenas no proveito político que esperam tirar da chantagem do presidente do EUA, porque nunca se importaram de verdade com o país e o povo. Estamos diante do maior ataque já feito ao Brasil em tempos de paz, visando a atingir não apenas nossa economia, mas a soberania nacional e a própria democracia. É a continuação do golpe pelo qual Bolsonaro responde no STF, agora usando tarifas de um país estrangeiro para impor seu projeto ditatorial. É nessa hora que uma nação distingue os patriotas dos traidores. O editorial do Estadão não deixa dúvidas: “É absolutamente deplorável que ainda haja no Brasil quem defenda Trump, como recentemente fez o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (…) Eis aí o mal que faz ao Brasil um irresponsável como Bolsonaro, com a ajuda de todos os que lhe dão sustentação política com vista a herdar seu patrimônio eleitoral.” disse.

Além de Gleisi, manifestaram-se sobre o assunto dos deputados petistas Zeca Dirceu, Tadeu Veneri, Carol Dartora, Welter e Lenir de Assis. Também condenou a atitude de Trump o deputado Aliel Machado (PV).

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