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Tudo tem apresentação no Festival de Curitiba. foto: Annelizze Tozzeto. 

 

 


Três fábulas morais compõem o espetáculo “Tudo”, que traz o olhar do diretor Guilherme Weber para a obra  do dramaturgo  argentino Rafael Spregelburg. A peça faz sua pré estreia dentro da Mostra Lúcia Camargo, do 30.º Festival de Curitiba, com apresentações nos dias 1.º e 2 de abril às 21h, no Teatro da Reitoria.  As fábulas levadas à cena investigam o indivíduo em confronto com o poder: a primeira é presidida pelo absurdo das regras que definem um determinado grupo social; a segunda pela dissolução de palavras e valores do pós-modernismo ao neoliberalismo e a terceira pela ausência de Deus e a inexorável presença da morte. 

Os ingressos estão à venda pelo site oficial www.festivaldecuritiba.com.br e na bilheteria do evento, localizada no Shopping Mueller (Piso L2).  

Para Weber, Spregelburg é uma das vozes mais originais da dramaturgia contemporânea, atento às questões latino-americanas, mas com olhar profundamente universal e humano.  “Montá-lo no país é também uma compreensão de nossa identidade como latino-americanos, também atravessada pela história do continente. E também uma aproximação entre dois países vizinhos cujas produções teatrais parecem dialogar muito pouco. O Brasil, pelo seu tamanho e pluralidade, é uma espécie de lente de aumento dos impasses da problemática latino-americana; uma espécie de fantasma no qual todo o continente vê seus medos e desejos. Situar no Brasil estas fábulas morais é ressignificar, sob a ótica nacional, as contradições e o surrealismo da obra de Spregelburg”, observa Weber, que foi curador de cinco edições do Festival de Curitiba.

A escrita de “Tudo”, conta ele, foi comissionada por um festival de teatro na Alemanha cujo tema era ideologias em colapso e questionamento das identidades. A resposta de Spregelburg à ideia imposta de dissolução foi a de falar de totalidade, ou em suas palavras, “absolutamente tudo.” 

É perceptível no resultado final da montagem, comenta o diretor, muito do teatro épico da melhor tradição alemã na forma de contar o que é proposto: a descontinuidade da ação em quadros independentes, o narrador em off que interage com os personagens, mas também citações místicas, filosóficas e religiosas, a ruptura da ilusão teatral e o “Gestus” como uma técnica de atuação. A história se organiza em três quadros que são apresentados como respostas às perguntas sobre a transformação ideológica que qualquer sociedade passa: por que o estado se torna burocracia? Por que toda arte se transforma em negócio? Por que toda religião se torna superstição?

“Toda pergunta sobre ideologia implica uma estreita relação com o conceito de cidade/ comunidade. O que é que em um determinado momento torna-se a “identidade” de um povo? E o que a história faz aos povos? Acreditamos que nossa identidade é casual? Somos uma solidariedade partilhada perante o temor dos nossos colapsos coletivos?”, pontua o diretor. As questões levantadas têm a virtude de se renovarem na cena moderna e pós-moderna, articulando-as em uma terceira categoria, sem nome ainda, em um todo em que ainda vale a pena discutir sobre estado, arte e religião. “Nesse sentido “Tudo” adquire, às vezes, o valor de um manifesto, mas que visa efeitos sensoriais e ambíguos e em nenhum momento cai na armadilha da arte que faz do discurso e do didatismo sua meta explícita”, diz o diretor.

Cientes da função da comédia em espelhar este momento delicado da nossa sociedade, os personagens destas fábulas morais vão fazer rir, para castigar costumes. Para Weber, tão importante quanto o argumento da obra é seu procedimento. “O texto trabalha com a união de pólos opostos de sentido e significado: uma fusão da alta cultura com o pop, relatos absolutamente singulares com arquétipos reconhecíveis a todos. A cena pretende fazer um cruzamento de gêneros a princípios inconciliáveis, como o melodrama, o teatro psicológico e a comédia absurda de costumes”.

A Mostra Lúcia Camargo é apresentada por EBANX, Paraná Banco, Governo do Estado do Paraná e New Holland, com patrocínio de ClearCorrect, Vonder, SulAmérica e Novozymes.

Ficha Técnica:

De: Rafael Spregelburg  Direção: Guilherme Weber  Elenco: Julia Lemmertz, Vladimir Brichta, Dani Barros, Márcio Vito, Claudio Mendes Cenografia: Dina Salem Levy. Preparador corporal: Antonio Rodrigues. Direção assistente: Veronica Prates. Produção: Quintal Produções. Direção geral: Veronica Prates. Coordenação artística: Valencia Losada. Produtor executivo: Thiago Miyamoto.   

via assessoria