Você já percebeu como a maioria das crianças é espontânea ao se comunicar? Livres, leves e soltas! Falam palavras erradas, fazem gracinhas, cantam e dançam, se exibem sem medo. Com o passar dos anos, muitas ficam retraídas. O que aconteceu com toda aquela espontaneidade? Onde foi parar toda aquela desinibição?
Vejo isso até dentro de casa! Tenho uma filha de nove anos, que até pouco tempo gravava vídeos nas redes sociais, inventava músicas e até fazia pequenos discursos e orações nos encontros familiares. Hoje ela ainda grava vídeos, mas só se ninguém estiver olhando… (olha o paradoxo: depois de prontos, os vídeos são compartilhados e todo mundo pode ver!)
Percebo o mesmo com filhos de amigos, que até pouco tempo apareciam falando e cantando nos perfis dos pais e mães – e aos poucos vão sumindo. Até as fotos vão ficando cada vez mais raras. Na medida em que crescem, cresce também o medo da exposição e do julgamento. A autocensura vai tomando conta e, com a adolescência, muitos se recolhem e se tornam monossilábicos.
Na adolescência, então, com a explosão de hormônios e de sentimentos contraditórios, a comunicação pode até se tornar agressiva… Quando chega uma visita, é normal que eles se fechem no quarto ou baixem a cabeça sem querer cumprimentar ninguém.
Quero falar da nossa responsabilidade, como adultos – pais, mães, avôs e avós, padrinhos e madrinhas, irmãos e vizinhos – nesse processo de minar a comunicação das crianças. Quantas vezes, talvez sem perceber, incutimos traumas nos pequenos?! Pense nos seguintes exemplos:
- A criança chega em casa animada porque aprendeu uma musiquinha nova na escola, mas nós estamos sem paciência pra ouvir;
- A criança faz uma pergunta e nós ignoramos seu questionamento
- Os adultos estão falando e, quando a criança tenta entrar na conversa, leva uma bronca…
- Uma das crianças da família demonstra mais desenvoltura e os adultos ressaltam isso o tempo todo, fazendo comparações injustas com aqueles que são mais quietos
Provavelmente, a criança que passa por essas situações vai acabar se fechando e tendo dificuldades para se comunicar na vida adulta. Tenho uma mentorada que conta que sempre foi um tanto tímida e raramente fazia perguntas em sala de aula. Um dia, esperou o intervalo para abordar a professora, para não se expor na frente dos colegas. Mas a reação da professora foi dizer: “Você deveria ter perguntado isso durante a aula! Agora não vou te responder!” Some esse trauma à personalidade introspectiva e você pode imaginar o que ela sofreu como universitária para vencer o medo de se comunicar!
Exemplos como este são inúmeros. Por isso, neste mês das crianças, meu apelo é para os adultos: pensemos no que estamos fazendo pela comunicação – e pela saúde emocional e mental – das nossas crianças. Que possamos incentivá-las, apoiá-las em seus talentos, reconhecê-las na sua individualidade.
Este espaço é sobre comunicação pessoal. Suas sugestões são sempre bem-vindas. Que temas você gostaria de ver abordados aqui? Entre em contato e vamos conversar… Quer se comunicar melhor? Fale comigo!