Arte: Cláudia Ribeiro

A Casa da Mulher Brasileira, em Curitiba, criada em 2016 para acolher de forma humanizada mulheres vítimas das mais variadas formas de violência, em um período de curta duração, também foi a primeira das sete que existem no Brasil a contar com um alojamento para receber os pets dessas vítimas. Já passaram pela instituição cerca de 50 animais de diferentes espécies. A maioria cães e gatos, mas o local já recebeu galo, pássaro, hamster, coelho e até uma ovelha.
 
Assim que a mulher e os filhos chegam à Casa e demonstram o desejo de ficar com o animal de estimação, uma equipe da Polícia Militar é acionada e faz a busca do bichinho. “Percebemos que as vítimas se sentem mais tranquilas com a presença do seu pet”, explica Sandra Prado, coordenadora geral da Casa da Mulher Brasileira.
 
Pioneirismo
A Instituição recebeu o primeiro pet no ano de 2017. Uma cachorra de grande porte, cuja família vivia em uma situação limite. Segundo representantes da OAB, a tutora não sairia da casa se não levasse a mascote. Por causa do tamanho da cachorra, foi necessário adaptar um local para recebê-la.
 
“Foi preciso improvisar uma acomodação, já que o alojamento tem apenas dois quartos e se destina apenas às mulheres e seus filhos. Nosso maior receio era que algumas das vítimas tivesse medo do animal ou até mesmo fosse alérgica”, relembra Sandra.
 
Quando percebeu que acolher os pets seria uma constante dali pra frente, a equipe da Casa buscou a prefeitura da capital paranaense, que criou um espaço pet externo para que os animais pudessem circular livres e outro coberto para dormirem, bem próximo ao alojamento das mulheres, facilitando o acesso aos animais.

Durante a noite, os pets vão para uma “cama” segura para não correr o risco de fugir – Foto: Sandra Prado


 Motivação
Além de toda a estrutura montada para acolher as famílias multiespécies, os funcionários da Casa também foram capacitados para esse tipo de acolhimento. “Desde a equipe da recepção, passando pelo apoio psicossocial, brinquedoteca, administração e coordenação. Eles se sentem gratificados por poder acolher os animais”, comenta a coordenadora.
 
 Dados
Uma pesquisa realizada por especialistas em Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR) com 100 mulheres vítimas frequentes de violência doméstica, revelou que 90% dos animais da família também sofriam maus-tratos do agressor. “Infelizmente, ficou constatado que o primeiro a sofrer a violência é o animal doméstico, porque ele vive dentro de casa. E sofre todo tipo de atrocidade, como chutes e cortes do rabo. Não podemos falar de atendimento humanizado, se não acolhermos todos os entes dessa situação decorrente desse relacionamento abusivo e convivendo com o agressor”, ressalta Sandra.
 
Como se isso não bastasse, em muitos casos, estas mulheres são forçadas a assistir seus agressores atacarem seus animais. Isso acontece com tanta frequência, que, depois de vários estudos, esse tipo de violência recebeu dos especialistas o nome de Teoria do Elo. Lembrando que quem maltrata animais, está cometendo um crime, previsto no artigo 32 da Lei 9.605/1998.
 
Ao identificar uma situação de violência contra mulheres ou animais é possível denunciar anonimamente pelos números 190 (Polícia Militar), 153 (Patrulha Maria da Penha e 181 (serviço nacional).