Bebel, minha poodle única, meu amor de tantos anos não está mais aqui fisicamente já faz um ano, mas ela segue viva na minha lembrança e no meu coração e também no de muitas pessoas que conviveram e se apaixonaram por ela. O amor segue igualmente vivo em mim.
Cinco meses após o diagnóstico de um tumor maligno, raro, sem tratamento conhecido, ela se foi aos 14 anos. Para mim pouco tempo de vida. Afinal, ela era uma poodle e estava cheia de vitalidade. Infelizmente, mesmo fazendo tudo, da medicina veterinária tradicional às técnicas de medicina chinesa, sem poupar gastos, com todas as orações e preces, Reiki e bençãos dos capuchinhos, algumas situações são inevitáveis. Não controlamos nada. Vivi esse período intensamente, aproveitando cada minuto com ela. Um dia de cada vez.
Filha de pais separados, numa guarda compartilhada às avessas, mas bem-sucedida (melhor do que a de muito humaninhos por aí) viveu uma “vida dupla” por doze anos. De um lado cheia de aventuras (aqui entram as manifestações com o tutor, de esquerda, claro!), um tanto de feijão e outros petiscos inapropriados, e do outro lado cheia de mimos e poses pra fotos para seu perfil no insta @bebelcaiudoceu.
Lembro que diante da situação já irreversível quis tirá-la da clínica e tive o suporte necessário dos veterinários. Dormiu sua última noite em casa, tranquila, na sua caminha. Jamais quis dormir comigo ou ficar muito tempo no sofá. Improvisei um acampamento na sala e fui dormir a seu lado num colchão. Precisava respeitar a sua individualidade. Esteve nesta última noite cercada de carinho de quem a viu chegar na minha vida e de quem a amava tanto quanto eu. A casa estava cheia.
Se despediu no dia seguinte. Mais uma vez me mostrando que não é possível planejar tudo como queremos. Pela manhã manteve a rotina, passeou no colo e ficou um tempinho na grama sentindo o vento levantar as suas orelhas. Uma ida a mais à clínica para fazer curativo e ela decidiu que não queria mais retornar pra casa. Partiu com seus dois humanos a seu lado.
O primeiro ano sem a minha pequena me fez reviver agora os últimos dias ao seu lado e toda a nossa trajetória juntas. Lógico que a saudade dói. Mas eu nunca fui de cultivar tristeza. Vivi meu luto. Sofri, chorei e segui adiante. De um jeito um tanto diferente. Após três meses de sua partida, minha casa virou um lar temporário sem fim….
Primeiro veio a Lola. Me encantei com ela ao conhecer uma ninhada de seis filhotes, que uma amiga, protetora independente, resgatou. Pedi pra levá-la pra casa, “emprestada” junto com o irmão. É impossível ser triste convivendo com dois filhotes. Por sorte ou destino, consegui uma família maravilhosa para a Lola e a vejo sempre. Costumo dizer que ela é minha afilhada.
Logo em seguida veio a Blanca. Aos dois anos, vivia sem cuidados em uma casa onde o tutor sabiamente resolveu doá-la e pediu ajuda a uma protetora. Pra essa fiz lar temporário até a adoção. Foram quase dois meses. Blanca era um doce, mansa, querida. Cuidei como se fosse a minha que recém tinha partido. Melhor sensação que tive foi vê-la depois, já adotada, feliz com a família adotante. Me senti realizada.
E pra coroar a temporada de LT cuidei de uma ninhada de seis filhotes por dois meses! Do nascimento até a adoção. Posso dizer que foi uma doce loucura. Mas ao mesmo tempo a casa nunca foi tão feliz. E eu nunca fui tão ocupada. E acho que isso fez toda a diferença nesse processo de luto. Me senti útil. O amor incondicional que tive pela Bebel e que ainda vive em mim me fez manter o meu amor e proximidade com outros cães que precisavam de ajuda.
Minha história foi essa. O luto é algo muito particular, cada um lida de uma forma. E ele vem de diferentes situações seja a perda definitiva de humanos ou de animais. Não devemos julgar a dor do outro. Nem se sofre tempo demais ou de menos. E principalmente se é por causa de um cachorro, gato ou qualquer bicho que seja. Terapia costuma ajudar. A minha sempre esteve em dia. Talvez por isso tenha lidado melhor com essa imensa perda.
Nos pensamentos diários que me fazem recordar a Bebel, minha poodle disfarçada de bichon frisé, e de tantos momentos bons em que vivemos juntas me pego a sorrir. Às vezes a chorar, agora já posso. Como sempre ouvi que cães sentem a energia dos humanos, me mantive forte e sem derrubar uma lágrima na frente dela durante seu tratamento, quimioterapia, cirurgias e internação. A conversa com a pequena quando já não havia mais nada a fazer era: “eu vou ficar bem, pode ir se quiser, sua missão já foi cumprida”. Menti com a convicção que a situação pedia. E assim ela se foi.
Relato e fotos de Fabiana Ferreira (arquivo pessoal)