
Conheça os terapeutas do luto
Até quem não se identifica com a causa animal já deve ter se sensibilizado com os casos de cães que esperam em portas de hospitais pelos tutores internados, os que acompanham os velórios, e ainda, sobre os que costumam permanecer próximos aos túmulos de quem cuidou deles pela vida…. Então, por que não tornar os cães presenças constantes em velórios, como uma forma de amenizar a dor do luto de parentes e amigos de quem se foi?
Em Curitiba, isso já acontece desde 2017 com o Projeto Terapeutas do Luto. Foi nesse mesmo ano, durante a ida de cães da raça Golden Retriever a um crematório, onde uma jovem que velava o pai, se comoveu ao observar a cadela Hanna no hall – os cachorros só entram nas salas de velório com autorização da família – Coincidência (ou não), o pai tinha sido o tutor de um cachorro da mesma raça.
“Eu me lembro quando a moça se aproximou da Hanna na primeira vez em que estivemos em um velório. Ela estava com o olhar perdido e foi marcante ver como ficou melhor, mais calma mesmo, depois de abraçar a minha cachorra”, conta Mariza Mastaler Ayres, auxiliar de veterinária e artesã, tutora de outros sete cães da raça Golden Retriever, que “trabalham” no crematório (voluntariamente e quando convidados): a Nala, a Chanel, o Shester, a Bárbara, a Cloe, a Penélope e a Mona. Todos adotados.

Aliás, Mariza também é voluntária no Projeto Amigo Bicho, que atua com Intervenção Assistida por Animais em visitas a hospitais e outras instituições. “Quando chegamos para a visita no velório, gera um certo espanto nas pessoas, mas, aos poucos elas vão se aproximando e fazendo carinho nos cães. Perguntam sobre eles, pedem para tirar fotos e começam a falar dos seus pets e mostrar os próprios registros. Assim, esquecem do luto por alguns momentos”, relata.
Aquela jovem, que tinha acabado de perder o pai, entendeu, naquele momento, “que a presença da cachorra Hanna era um sinal do próprio pai de que estava tudo bem”. E os especialistas dizem que esse tipo de comunicação não verbal pode significar até mais que palavras de consolo, afinal, o contato com cachorros libera substâncias como dopamina, endorfina e oxitocina, que provocam sensação de bem-estar e que são neurotransmissores importantes, tanto no dia a dia, como em um momento de estresse, como o do luto e em um ambiente de profunda tristeza.
Terapia
“Quando você passa por um processo de luto, fica tão dentro daquela dor que não vê possibilidade nenhuma de mudança do cenário. O fato de um cão tão dócil estar ali na sua frente, você mexer, passar a mão nele, vai gerando uma sensação boa, e ameniza um pouco aquela dor. Na hora, a gente não tem consciência, mas isso nos fortalece”, reforça a psicóloga Christina Barrichello, que também é tutora de um cão terapeuta.

Iniciativa
Os cachorros escolhidos para as visitas, que normalmente, são semanais, são dóceis e, claro, bem treinados. A presença deles na capela, em Curitiba, e no cemitério, em Almirante Tamandaré, só ocorre quando as famílias não se opõem. “Como lidamos com a morte todos os dias, percebemos que as pessoas enlutadas ficam muito fragilizadas, vulneráveis e sensíveis no momento da dor da perda. Foi por conta disso, que resolvemos trazer os cães para as estruturas do grupo, aqui no Paraná e em Santa Catarina. É notória a reação das pessoas nos velórios, porque sempre abrem um sorriso, passam a mão no pet, abraçam e são, de certa forma, consoladas por eles, que também movimentam o ambiente de maneira muito positiva”, conta Mylena Cooper, diretora do grupo Vaticano.
*Claudia Ribeiro, especial para o Blog Papo Pet. Jornalista, mãe da Ana Laura, e do Ninico, cachorro adotado.