Cláudia Ribeiro, colaboração para o blog
O ano era 2013, e Nina Collere sofreu ao deixar para trás a casa dos pais e uma “família” de quatro gatas, com quem convivia há uma década.
Mas ela não tardaria a cruzar com um felino novamente. E isso ocorreu em uma sexta-feira, 13 do fim daquele mesmo ano, em que os supersticiosos costumam afirmar ser um dia de azar. Para Nina, foi justamente um golpe de sorte. Ela foi surpreendida no corredor do lugar onde trabalhava na época por um serzinho preto, minúsculo e muito barulhento.
“Era um fiapinho preto que cabia dentro de uma caneca, de pouco mais de um mês de vida, no máximo, e que não parava de miar”, relembra.
Os colegas de trabalho logo se mobilizaram. Conseguiram uma caixa, um agasalho para aquecer o pequenino, que retribuía com lambidos, mais miados e escaladas inesperadas que iam do colo até o pescoço.
Nina imediatamente buscou as redes sociais para promover uma campanha de adoção. Ninguém apareceu. Levou o bichano para a casa dela, onde ele vive até hoje. O nome? “Escolhi Nankin, porque é a tinta preta utilizada nas histórias em quadrinhos que, além de simbolizar um novo roteiro, poderia suportar qualquer pronome”, prossegue a tutora, que não tinha ideia do sexo do pequeno.
Uma gatinha de nariz de chiclete – Três anos se passaram e naquele mesmo local, dois outros gatinhos foram abandonados. O macho foi adotado por uma colega de trabalho de Nina, que, mais uma vez, decidiu levar para casa a gatinha tricolor e bastante assustada que se aninhou no colo dela e dali não saiu mais.
“Aquele ano foi muito difícil. Eu havia perdido minha mãe e quando as coisas voltaram a ficar dentro de uma normalidade possível, Nankin passou a se sentir solitário e muito carente a ponto de sequer tocar na comida durante o dia e de se jogar no meu colo aos miados”, conta.
Quando a gatinha surgiu na frente dele, ocorreu o que Nina denomina de “amor à segunda vista”, já que num primeiro momento, ele só observava a filhote de longe:de um canto do sofá e com miados estridentes e contínuos. “Aquela coisinha miante, pouco tempo depois já estava dando banho de lambidas na recém chegada como se fosse seu próprio filhote”, lembra.
A gatinha tinha um nariz avermelhado, semelhante a cor de chiclete e parecia habitante de algum canto do Leste Europeu. Foi por essas características que foi batizada de Kalinka Malinka. Nome inspirado na canção típica russa que Nina explica o significado: “framboesa ou fruta vermelha”.
O número 3 e um gato doente – O número 3 estranhamente parece rondar os encontros de Nina com os bichanos, porque apenas três meses depois da chegada da pequena framboesa, totalmente adaptada ao novo lar, uma colega pediu ajuda para cuidar de um gatinho que ela acabara de resgatar no pátio de um supermercado.
Como boa “gateira” que é, lá foi Nina em busca de um veterinário. “O gatinho estava desnutrido e muito machucado. Depois de várias negativas, conseguimos deixá-lo internado. Ele mal andava e aparentava ter sido atropelado, porque tinha a coluna meio torta e arrastava as patinhas traseiras como se tivessem quebradas”, lembra.
Nina logo pensou que ele precisava de um nome para registro na clínica. “Ele tinha uma mancha preta que se parecia com uma peruca penteada para o lado. Chamei de “Piruquinha”. Hoje, muito pomposo, é o sr. José Peruca, mas este é um outro “causo”, brinca.
Alguns dias mais tarde, descobriu-se que o gato não havia sido atropelado, e sim, nascido com deformidades na coluna vertebral e nas patas traseiras. Já menos debilitado, começou a andar pelo consultório e pular como se fosse um sapo “o que se tornou seu charme quase secreto”.
Nina não planejava adotar mais um gato, mas diz que conhece vários casos em que animais saudáveis são adotados por impulso, comoção e depois acabam negligenciados e abandonados. Por isso, vieram vários questionamentos na cabeça da amante dos gatos: “Se com bichinhos saudáveis isso pode acontecer, imagine com um especial? Quem adotaria e cuidaria bem de um gatinho com necessidades especiais, precisando de cuidados especializados, medicamentos e de uma dose extra de amor?”
A essa altura da história, caro leitor do blog Papo Pet, não precisa nem ser adivinho para imaginar quem seria essa pessoa, não é?
“A clínica era perto da minha casa e fui buscá-la na véspera de um feriado prolongado. Apesar de estar com receio, meu coração já havia decidido que o Piruca seria o terceiro integrante felino da família” (Zero novidade).
Surineuza, mas pode chamar de Suri – Em 2019. oriunda from Boqueirão, bairro do local de trabalho de Nina, na capital paranaense (impressionante a quantidade de filhotes abandonados por lá!), surgiu no estacionamento, uma jovem “sialata”, à época, com seus seis meses de vida, mas já com um objetivo claro: encantar a todos e encontrar um lar para chamar de seu. Para tal, contava com um belo par de olhos azuis esbugalhados e quatro incansáveis patinhas ao redor de todos que lhe davam algum tipo de chamego temporário.
Virou mascote de todos, que levavam ração, mimos e providenciaram até uma casinha para ela se abrigar no fim do expediente. Mas nada de levar a gata pra casa, apesar dos esforços da bichinha de cercar os veículos na saída.
“Quase todos os dias, quando eu chegava ao trabalho, surgia a miante com seu inconfundível par de faróis de xenon detrás de algum arbusto. Entrava no carro, pedia para ficar…. até a minha sala de trabalho, que ficava no segundo andar, ela passou a visitar. Perseguição forte!”, conta Nina.
Quando o grupo soube que mudaria para outro local de trabalho, surgiu a preocupação do que fazer com a sedutora felina. Uma das funcionárias, apaixonada por animais, levou a gatinha para um fim de semana na casa dela, mas acabou não conseguindo adotar.
Mais um lar “temporário” – Nina, que não poderia sequer pensar em ter mais um felino no pequeno apartamento que dividia com outros três (olha o 3 de novo aí, gente!), resolveu levar a gatinha “junto com o último pedacinho do meu coração partido” para mais um “lar temporário”.
Lá chegando, a bichana amou cada cantinho do lugar, ao contrário dos outros três moradores, que demonstraram com todas as forças, detestar a presença da “intrusa”, na mesma proporção
Nina então manteve a gatinha isolada no escritório onde ficava o “castelinho” dos gatos, o que gerou ainda mais revolta no núcleo felino. “Eu fazendo campanha de adoção, sendo hostilizada e mordida sem aviso prévio, enquanto a hóspede se mantinha refestelada e totalmente à vontade em sua suíte master VIC (Very Important Cat)”, destaca a tutora.
Algumas pessoas até se interessaram por ela, mas Nina não percebeu empenho de nenhuma delas para assumir uma adoção responsável. Foi então que decidiu (jura?), com a cumplicidade do namorado, que ficaria com a pequena.
O próximo passo seria escolher um nome e a ideia veio dele, o namorado Beto (que também é gateiro (e da família dos gatos. Literalmente): “Suri”, já que a pequena (ainda magrinha e comprida) costumava ficar em uma posição peculiar parecida com um suricato. Em seguida, Nina completou a alcunha: Surineuza.
“Hoje, nossos quatro “kituxos” (kitty+gorduchos) alegram ainda mais nossa rotina e não imaginamos a vida sem eles, por mais apocalípticos e capazes de situações inimagináveis que sejam”, divaga a tutora.
São potes e mais caixas de areia para higienizar a casa diariamente numa rotina que começa geralmente às 5h da manhã, com o objetivo de deixar tudo confortável durante o dia. “E, quem sabe uma casa organizada para quando eu chegar do trabalho, pero no mucho, como uma vez em que chegamos e havia vários “presentes” pelo nosso quarto. O que nos obrigou a sair quase 9h da noite atrás de travesseiros novos”, conta.
Histórias, que, dariam um livro, mas que, enquanto não é publicado, são contadas por Nina no perfil do Instagram @zeh_piruca, onde também compartilha um pouco do dia a dia da vida ao lado dos quatro amores, que só quem mantém seres tão amados quanto caóticos, será capaz de compreender.