Adotado adulto, o felino é exemplo de que os gatos sabem o que querem Foto: Carol Paiva
Quem conta a história de adoção do gato Raposo é a tutora dele, a jornalista Carol Paiva.
Ter um gato não estava nos meus planos; resgatar um gato do telhado muito menos. Mas Raposo apareceu e ficou. Era feriado, fazia frio, chovia e aquele bichano não se mexia por nada, apenas emitia um gemido nada parecido com o barulho típico da espécie. Entre a dúvida do “não quero dor de cabeça” e “não posso deixar esse gato morrer ali”, resolvi encarar o desafio para tirá-lo de lá.
A pobre da humana não tinha ideia de como agir e, por ironia, usou um pedaço de queijo para atrair a atenção da pequena bola de pelos que praticamente não se mexia. Em menos de 10 minutos eu estava com um gato muito machucado no colo e uma grande dúvida: quanto tempo duraria esse lar temporário?
O primeiro pensamento era cuidar e depois doá-lo. Afinal, após perder a Gema, uma coelha que esteve ao meu lado por mais de oito anos, não estava pronta para abrir a porta e criar um novo vínculo com qualquer outro bicho… Mas dizem por aí que são os gatos que escolhem os tutores e esse resolveu vir assim, pelo telhado, pra me mostrar que sempre existe espaço para um novo amor.
Nossa relação de confiança teve início já na primeira hora de convivência: ele fugiu pela janela do banheiro. Mas voltou. Assim como voltou menos de um mês depois, quando conseguiu escapar por uma fresta da janela. Aos julgadores de plantão, não estava nos planos ficar com ele, mas estava no plano do Raposo estar com a gente.
Gosto de pensar que mesmo com a idade avançada – segundo o veterinário, ele está na casa dos 10 anos – Raposo se adaptou à nossa rotina e conquistou seu espaço. Primeiro, sua abertura em permitir ser cuidado: lembra que ele não se mexia quando estava no telhado? A justificativa era a anemia e duas costelas quebradas, além de pulgas e carrapatos do tamanho de bolinhas de gude. Depois, Raposo fazia questão de ser presente. Começou a dormir no nosso pé, conquistou o colo e, em menos de 10 dias, já estava roncando na cama durante toda a noite. Sim, ele ronca e muito provavelmente é por causa de um desvio de septo conquistado quando perdeu os dentinhos do lado direito da boca.
Raposo foi ficando. Quando menos percebi, agendei com a empresa para telar o apartamento e passava horas pesquisando comportamento felino e brinquedos que pudessem chamar a atenção dele. No começo, Raposo ficava inerte a toda e qualquer interação diferente que não envolvesse comida. Aos poucos, aprendeu a brincar, jogar bola, se esconder e conviver com pessoas. Virou a Maria Fifi do prédio, acompanhando a vida dos vizinhos e miando para estranhos que apareciam no portão.
Convivência harmoniosa entre gato e cachorra
O tempo passou. Quando Raposo completou pouco mais de seis meses em casa, ele ganhou uma irmã. Dessa vez a experiência seria mais desafiadora, com uma filhotinha canina, também adotada, explorando um mundo completamente diferente junto de um gato.
Após ler todas as dicas e assistir aos vídeos de inúmeros veterinários comportamentalistas, seguimos para o caminho que faria sentido para a nossa rotina: tentar a sorte e ver no que dá. A primeira noite da Lolita em casa foi inesquecível. Pelo stress, Raposo teve uma crise de asma e quase nos matou do coração, mas seguimos firmes. No segundo dia, a curiosidade dele e o atrevimento dela resultou em muitas risadas e menos apreensão. Após uma semana de convivência, Lolita ganhava lambeijos antes de dormir e tinha quem a abraçasse durante os pesadelos. Hoje, após três meses dividindo o mesmo cesto, brinquedos e pote de água, não consigo imaginá-los separados.
Os dois se completam. São parecidos no comportamento, parceiros de bagunças, defendem o outro das broncas dos humanos e têm, praticamente, a mesma pelagem. A cada dia que passa, Lolis aprende um pouco mais sobre como se espreguiçar como um gato ou apreciar o sol da manhã. Raposo, por sua vez, ficou ainda mais curioso e ativo, dando sustos na irmã e se exibindo quando ganha carinho.
Carol Paiva, jornalista, especial para o Blog Papo Pet. Tutora do gato Raposo e da cachorrinha Lolita, ambos adotados