Deputados criticam ‘baixo nível’ de debates na Assembleia e defendem revisão do regimento

Ivan Santos

Romanelli: Assembleia virou um ambiente tóxico. (Orlando Kissner/Alep)

Vários deputados usaram a tribuna da Assembleia Legislativa na sessão de hoje para desabafar e criticar o que chamaram de “baixo nível” dos debates na Casa na atual legislatura. As críticas foram feitas após mais um discurso do deputado bolsonarista Ricardo Arruda (PL), que mais uma vez o espaço para chamar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de “ladrão” e “mentiroso”. Segundo ele, Lula teria dito que “aprendeu com a mãe dele que falar mentira é melhor” do que dizer a verdade.

Líder do PSD reagiu a bolsonarista que chamou Lula de “ladrão” e “mentiroso”

O primeiro a reagir foi o líder da bancada do PSD, maior da Casa, deputado Luiz Cláudio Romanelli, que fez uma questão de ordem apontando que o regimento interno da Assembleia proíbe o uso da tribuna para discursos com expressões injuriosas e descorteses.

“Não é possível que um parlamentar repetidamente vá a tribuna dessa Casa e impute de chamar o presidente de mentiroso. A Mesa tem que passar a ser escrava do regimento da Casa e da Constituição. Essas expressões não são permitidas com base no regimento”, rebateu Romanelli.

Regimento interno da Assembleia proíbe uso de expressões injuriosas na tribuna

O deputado Tercílio Turini (PSB), que presidia a sessão, confirmou a Arruda que o regimento proíbe esse tipo de expressão e pediu a compreensão do parlamentar. “Conheço muito bem o regimento da Casa. Falas injuriosas podem ter, mas falas verdadeiras podem”, respondeu Arruda, dizendo que Romanelli “tem paixão por Lula”.

O líder do PSD subiu então à tribuna para reclamar que a pauta da Assembleia tem sido discutir a guerra no Oriente Médio, Lula e Bolsonaro, e outros assuntos que não são da alçada do parlamento estadual. Ele lembrou que, enquanto isso, outras questões importantes para o Estado, como o impacto das chuvas, fica de lado.

Legislativo estadual se tornou um “ambiente tóxico”, diz deputado

Segundo Romanellli, a Assembleia tem se tornado um ambiente tóxico, com ataques pessoais entre parlamentares. “Nós não podemos normalizar o linguajar chulo. Não podemos pautar o debate do parlamento sempre pelos mesmos temas. A imensa maioria dos parlamentares acabam ficando intimidados. Porque o debate, lamentavelmente, está sendo nivelado por baixo”, apontou ele.

“Não podemos transformar quem quer fazer o mal debate em protagonista. Não é possível continuar aceitando esse nível baixo e transformar isso aqui em agressões e desrespeito. Briga não leva a lugar nenhum. A não ser para alguns que queiram ganhar likes nas redes sociais”, criticou Romanelli

“Não podemos continuar ouvindo vômitos de asneiras de ambos os lados”, diz Justus

Outros deputados concordaram. “É chegado o momento de nós deputados todos juntos revermos algumas situações que nós estamos passando nesse momento. É muito ruim. Para todos nós. Tem muita gente perdendo a razão de ambos os lados. Temos coisas importantíssimas para discutir aqui e estamos discutindo coisas que não vamos resolver nunca. Ou nós vamos resolver a guerra do Oriente Médio? Estamos perdendo nosso tempo”, avaliou o deputado Nelson Justus (União Brasil), que defendeu a revisão do regimento interno para coibir esse tipo de comportamento. “Não podemos continuar ouvindo vômitos de asneiras de ambos os lados. Tanto que o plenário esvazia-se quando se vai ouvir discursos
No entanto estamos discutindo aqui o aborto, o Hamas, se o Bolsonaro ganhou, perdeu a eleição, se o Lula foi preso”, reclamou.

“‘A bancada do click’ não tem ideologia”

Outro que se somou às críticas foi Denian Couto (Podemos). Ele afirmou que a Assembleia deveria estar discutindo temas de interesse do Estado, como a ponte de Guaratuba, mas perde tempo com a polarização política, por causa da “bancada do click”. “A bancada do click não tem ideologia. Ela é formada por parlamentares que usam esse espaço para postar vídeos na rede social e ganhar likes”, disse. “Quem paga a conta dessa Assembleia é a população lá de fora e nós custamos caro demais para o Paraná. Para que a gente ficar aqui gastando energia discutindo o que vai e não vem”, afirmou.

“Não podemos permitir que uma pequena minoria seja protagonista nesse plenário”, disse o deputado Reichembach.

Cristina Silvestri diz que não tem mais vontade de ir às sessões

A deputada Cristina Silvestri diz que os parlamentares não tem mais ânimo para participar das sessões por causa desse tipo de discurso. “Os deputados se sentem desanimados de você não ter mais vontade de vir à essa Assembleia. De pensar todo dia nos mesmos discursos. Discutir Bolsonaro e Lula. Como se nós fossemos resolver a guerra”, queixou-se. “Eu não vi comentários aqui (sobre as enchentes). Só vi falarem de coisas que a gente não mais aguenta”, disse.

“Eu também estou muito triste de ver essa legislatura tendo apequenado a Assembleia. Não podemos deixar de falar de coisas importantes do Paraná como a ponte de Guaratuba”, afirmou Marcel Micheletto (PSD).

No final da sessão, Romanelli pediu que a Mesa Diretora convoque uma reunião dos líderes para discutir mudanças no regimento interno da Casa.