
Em entrevista à Rádio Banda B, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou, nesta terça-feira (15), o vereador de Curitiba Renato Freitas (PT) por ter invadido uma igreja para protestar contra o racismo, em 5 de fevereiro. O caso ganhou repercussão nas redes sociais com vídeos dos grupo dentro do ingreja com bandeiras. A Arquidiocese de Curitiba informou a missa foi interrompida, mas o vereador nega. Lula disse que Freitas errou e precisa pedir desculpas. As declarações
“A primeira coisa que eu queria dizer ao povo do Paraná é que o nosso vereador tem o direito de fazer protesto contra o racismo. Agora, o que ele não tem direito é de invadir igreja. O que ele não tem direito é de entrar em uma casa religiosa pra fazer o seu protesto. Então, ele está errado. E se ele está errado, ele precisa humildemente entender que a palavra desculpa não é uma palavra que diminui a pessoa. A palavra desculpa engrandece quem tem a grandeza de pedir desculpas”, disse Lula, afirmando que havia outras maneiras de protestar, como solicitando ao padre uma missa em homenagem ao povo negro de Curitiba, ou enviar um ofício à arquidiocese pedindo a presença de um padre negro no local, que foi construído por escravos.
“O que não tem sentido é invadir a igreja. O que não tem sentido é transformar um templo religioso num lugar de protesto. Não foi correto, ele sabe que errou”, disse Lula, sendo, porém, contrário à cassação do mandato do parlamentar.
“Eu sei que tem muita gente que está falando: ‘ah, vamos cassar, vamos cassar, vamos degolar. Não. Esse menino, por ser jovem, ele cometeu um abuso. Ele, portanto, tem o direito de pedir desculpas, tem o direito de ser desculpado, tem o direito de ser perdoado e quem sabe isso tenha sido a grande lição da vida dele. Para ele perceber que o exercício da democracia que ele tem que fazer tem limite na hora que isso fere os interesses dos outros”, completou.
Lula chegou a mandar um recado direto a Renato Freitas, pedindo que ele reconheça o erro e levante a cabeça: “Renato, se você estiver me ouvindo, eu queria te dizer como um pai pode falar com o filho: ‘você errou. se você errou, não persista no erro. Humildemente, peça desculpas. Peça desculpas ao povo do Paraná, peça desculpas ao PT, peça desculpas aos padres, aos religiosos e nós vamos te defender. Nós não vamos querer que você seja cassado. Não vamos permitir que a direita conservadora da Câmara te casse.”
Freitas pediu perdão na sessão de 9 de fevereiro da Câmara Municipal de Curitiba, às pessoas que se sentiram ofendidas por sua participação em manifestação. Freitas afirmou que o ato não teve o objetivo de ofender a crença de ninguém, e que ele também é cristão. “Algumas pessoas se sentiram profundamente ofendidas (pela manifestação contra o racismo ter adentrado à igreja) e a elas eu peço perdão, pois não foi, de fato, a intenção de magoar ou ofender o credo de ninguém, até porque eu mesmo sou cristão”, disse Freitas.
Processo na Câmara
A corregedora-geral da Câmara, vereadora Amália Tortato (Novo), acatou nesta segunda-feira (14) quatro representações contra o vereador Renato Freitas (PT) por quebra de decoro pela participação em manifestação antirracista na Igreja do Rosário, em Curitiba, no último dia 5. Tortato encaminhou os pedidos ao Conselho de Ética da Casa, que agora terá 90 dias úteis, prorrogáveis por mais 90, para analisar o caso.
No parecer, a corregedora considerou haver “indícios suficientes de materialidade e de autoria pela prática de atos que podem ser enquadrados como procedimento incompatível com o decoro parlamentar”. Para Tortato, durante o ato contra o racismo que terminou com a entrada dos manifestantes no templo, houve “perturbação da prática de culto religioso e de sua liturgia”, “entrada não autorizada dos manifestantes na Igreja do Rosário” e “realização de ato político no interior da Igreja do Rosário”.