Mauricio Vieira / Secom – Daniela Reinehr (sem partido): questionada sobre ideias negacionistas do pai

O Museu do Holocausto de Curitiba divulgou nota para “contestar e interpelar” a governadora interina de Santa Catarina, Daniela Reinehr (sem partido), que questionada durante coletiva de imprensa sobre os pensamentos neonazistas e negacionistas defendidos por seu pai, José Altair Reinehr, tratou como meras “diferenças de pensamento”, evitando condená-los enfaticamente.

Na nota, a entidade afirma que o negacionismo da Shoá “é o movimento que defende, apesar das incontáveis evidências histórias contra suas teses, que o extermínio planificado de seis milhões de judeus e de outros grupos perseguidos pelo regime nazista e seus colaboradores não teria ocorrido de fato ou estaria propositadamente superdimensionado”. De acordo com o museu, “afirmações como as de que as câmaras de gás seriam uma invenção das próprias vítimas ou de que a Alemanha nazista teria sido a verdadeira vítima da 2ª Guerra Mundial são comuns neste ilógico pensamento”.

“Um dos objetivos do negacionismo da Shoá é reabilitar o nazismo e apresentá-lo como uma opção política legítima no debate social. Trata-se, no entanto, de uma reivindicação inaceitável. O nazismo é uma ideologia genocida que prega relações de superioridade e inferioridade racial, bem como marginalização, expulsão e extermínio dos grupos considerados inferiores. Ao negar o direito de existência de outros indivíduos e o valor da pluralidade, o nazismo nega a própria política e, consequentemente, não pode ser um ator legítimo no debate político. Não por acaso, em diversos países, inclusive no Brasil, a apologia ao nazismo e seus símbolos é considerada crime de racismo”, lembra a nota.

Para o Museu do Holocausto, ao tratar o neonazismo e o negacionismo da Shoá como meras divergências que não poderiam ser publicamente condenadas em nome da manutenção da harmonia familiar, como declarou a governadora, “está-se a atender precisamente a tal objetivo do negacionismo do Holocausto: tratar o nazismo como uma opção política como outras, com as quais podemos concordar ou discordar, e não como algo cuja condenação inequívoca é obrigação de qualquer ser humano, sobretudo de uma figura pública”.

“Vossa Excelência tem o direito de ser julgada por suas próprias convicções, e não as de seu pai – mas, para tal, necessita manifestar-se de forma inequívoca, iniciando pela condenação ao negacionismo do Holocausto que ronda seu ambiente familiar. Agindo desta forma, Vossa Excelência cumpriria um de seus deveres como ente público ao demonstrar-se sensível e empática à dor dos milhares de sobreviventes do Holocausto que reconstruíram suas vidas em nosso país, incluindo em seu formoso estado, bem como os mais de 25 mil homens e mulheres que constituíram a Força Expedicionária Brasileira”, critica o texto.

O Museu do Holocausto de Curitiba afirma ainda que “soma-se a Confederação Israelita do Brasil – CONIB, a Aic Associação Israelita Catarinense e a diversas instituições que se posicionaram no sentido de conclamar com que a governadora interina Daniela Reinehr rechace abertamente qualquer ideia negacionista ou simpática ao nazismo”. “Para nós, é primordial a frase dita pela historiadora norte-americana Deborah Lipstadt: ‘Existem fatos, existem opiniões e existem mentiras’, diz a nota.