O Museu do Holocausto de Curitiba lamenta saída do Brasil de Aliança Internacional

Editado por Mario Akira
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Memória do Holocausto (Foto: Cassiano Rosário)

O Museu do Holocausto de Curitiba divulgou nota nesta sexta-feira (25) onde lamenta e expressa preocupação diante da saída do Brasil da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA). Leia na íntegra:

“A IHRA é um fórum multilateral criado em 1998 como uma resposta ao crescimento de ideias neonazistas e negacionistas. Ela é um pacto entre Estados, um compromisso global de encorajar o estudo do Holocausto em todas as suas dimensões. É como uma convenção democrática, um acordo em larga escala.

Em 2021, o Brasil foi aceito, por unanimidade, como membro-observador da IHRA. A inclusão nesse seleto grupo significava que o país selara definitivamente um compromisso em honrar a memória das vítimas, promover a educação sobre o Holocausto e o letramento antinazista, e combater o antissemitismo, não importem governos ou ideologias.

Na prática, o Brasil se comprometia a avançar em propostas pedagógicas, de pesquisa e de memória do Holocausto, reforçando os pactos firmados na Declaração de Estocolmo de 2000. Isso inclui a criação de pontes pedagógicas e a atualização das legislações ligadas aos temas do antissemitismo e do anticiganismo.

Ao abandonar a IHRA, o Estado brasileiro abandona sua tradição de multilateralismo e atuação em foros internacionais. A IHRA é um espaço estratégico de articulação internacional pautada num esforço conjunto de diálogo e diplomacia.

Nem todas as mais de 40 nações-membro estão de acordo com todas as diretrizes. Isso faz parte do jogo. No entanto, todos reconhecem a importância diplomática e simbólica da IHRA no enfrentamento ao antissemitismo e na construção da memória da Shoá. Por isso, debatem. Sempre.

A infeliz saída do Brasil da IHRA envergonha e abala seu prestígio diplomático construído desde os princípios moldados pelo Barão do Rio Branco, há mais de 100 anos. Um deles era o universalismo das relações exteriores: dialogar com todos os países, independentemente de ideologias ou blocos políticos.

Não procedem quaisquer justificativas para a saída do Brasil da IHRA que culpem a diretriz de definição sobre o antissemitismo, de 2016. Existem outros conceitos, como a do Projeto Nexus (2020) ou da Declaração de Jerusalém (2021), que agradam ou desagradam grupos diversos. A IHRA é muito mais do que sua definição de antissemitismo. Reduzi-la a isso é ignorar quase 30 anos de trabalho em educação,
memória e combate ao ódio.

O Museu do Holocausto de Curitiba lamenta e expressa profunda preocupação diante da saída do Brasil da IHRA. Tal decisão representa um grave retrocesso no compromisso histórico do país com a educação e os direitos humanos, ferindo inclusive a memória da da Força Expedicionária Brasileira.

Instamos as autoridades a reconsiderar essa medida que, em suma, vai contra a luta para gerar legados da tragédia cometida contra judeus, população roma e sinti, afro-alemães, pessoas com deficiências, testemunhas de Jeová, pessoas LGBTQIA+, opositores políticos e outros grupos perseguidos”.