Renato Freitas (PT) e Ricardo Arruda (PL): deputados vêm trocando acusações desde o início da legislatura. Foto: Orlando Kissner/Alep

O presidente da Assembleia Legislativa, deputado estadual Ademar Traiano (PSD), ameaçou na sessão de hoje “enquadrar” os parlamentares que abusarem de falas agressivas e ofensivas no plenário da Casa. Traiano não citou nomes, mas o recado claramente foi dirigido aos deputados Renato Freitas (PT) e Ricardo Arruda (PL) – que desde o início da atual legislatura – vêm trocando pesadas acusações e ataques verbais em seus discursos e manifestações.

“Nós temos presenciado aqui na Casa expressões que não condizem, muitas vezes, com o que este parlamento defende. Eu vou aqui dizer a todos os seus deputados que baseado no artigo 271, inciso 1º, 272, inciso 1º, e artigo 273, inciso 1º, todos do regimento interno dessa Casa, dependendo do grau das agressões, das palavras proferidas, esta presidência tem a prerrogativa de pena de censura verbal aos senhores deputados”, lembrou Traiano.

“Portanto, é importante que fique claro, e se necessário for nós vamos agir dentro do que preceituo o nosso regimento interno, que começa no artigo 272 com censura verbal, censura escrita, suspensão de prerrogativas regimentais, suspensão temporária do exercício do mandato e até perda de mandato. Nós vamos ser rígidos a partir de agora em relação a forma que se conduz as falas aqui na Casa”, avisou ele.

Arruda sinalizou que recebeu o recado, e questionou o presidente da Assembleia. “Eu concordo que a gente tem que ter cautela aqui ao falar, mas essa Casa não mudou do mandato anterior para esse. Continua igual o mesmo regimento. As palavras que a esquerda falava sobre o presidente Bolsonaro de genocida, de ladrão, de burro, nunca foram contestadas. Então esse tipo de palavra pode?”, questionou.

Traiano foi lacônico na resposta. “A partir de agora nós vamos exercer e agir de acordo com o regimento interno. Passado é passado”, disse.

Troca de acusações

Na semana passada, Freitas e Arruda protagonizaram um intenso embate no plenário da Assembleia, causando constrangimento entre os demais parlamentares. A discussão começou depois que Freitas acusou Arruda de responder processos por desvio de dinheiro público e tráfico de influência, em ação do Ministério Público do Paraná. O parlamentar do PL reagiu afirmando que o petista teria sido preso em flagrante por dezessete vezes, por acusações de desacato e porte de drogas, além de alegar que ele teria ligações com facções criminosas.

Na ocasião, a escalada de troca de farpas entre os dois levou o presidente da Assembleia a pedir novamente o fim das acusações entre os parlamentares, e a cobrar medidas da corregedoria da Casa para enquadrá-los. Traiano chegou a interromper a sessão por alguns minutos, depois que Freitas reagiu quando ele afirmou que o deputado do PT estaria se “vitimizando” em busca de espaço na mídia.

Arruda chegou a registrar um boletim de ocorrência na polícia alegando ter sido ameaçado por Freitas. O deputado do PT reagiu acusando o parlamentar do PL de denúncia sem provas e racismo. Diante disso, Traiano determinou e a Corregedoria da Assembleia abriu procedimento para avaliar a acusações contra os dois.

Outros deputados reclamaram dos constantes confrontos entre Freitas e Arruda. “Vamos parar com isso. Ninguém mais aguenta. Eu não quero mais assistir o que assisti hoje. Toda semana, todo dia. Hoje foi vergonhoso o que aconteceu aqui”, disse o líder do governo, deputado Hussein Bakri (PSD). “Quanto do nosso tempo nesses quatro anos nós vamos ficar vendo deputado acusar deputado de cometer crime ou de não cometer crime e os outros 52 deputados não aguentando mais o que está acontecendo na Assembleia Legislativa? Será que dois vão dominar 52? Quanto tempo os 52 estão gastando na discussão de projetos de interesse da sociedade paranaense enquanto dois estão discutindo coisas que não levam a absolutamente nada no nosso parlamento?”, afirmou o deputado Paulo Gomes (PP).