
O “quebra-quebra” ocorrido ontem, no Centro Cívico, em Curitiba, após manifestação contra o racismo monopolizou os debates da sessão de hoje da Assembleia Legislativa. A maioria dos parlamentares criticou a queima da bandeira do Brasil retirada do mastro em frente ao Palácio Iguaçu, sede do governo estadual, pelos manifestantes já depois do final do ato antirracista. Parlamentares de oposição defenderam o ato antirracista, que segundo eles, foi legítimo e pacífico e culparam o clima de confronto, segundo eles, estimulado pelo comportamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e seus apoiadores.
Por volta das 18 horas, coletivos antirracistas promoveram uma manifestação na praça Santos Andrade, em frente ao prédio histórico da Universidade Federal do Paraná que reuniu cerca de 1,2 mil pessoas, sem registro de incidentes. O protesto foi inspirado nas manifestações que vêm sendo realizadas na Europa e nos Estados Unidos, após o assassinato de George Floyd pela polícia norte-americana. Quando o ato já havia sido encerrado, um grupo de participantes intitulados antifascistas decidiu sair em passeata até o Palácio Iguaçu, onde arrancaram a bandeira brasileira e a queimaram. O grupo saiu então em direção ao centro, quebrando portas e janelas de vidro, fachadas de bancos, do Fórum e da sede da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e do shopping Mueller. A PM reagiu com bombas de efeito moral e balas de borracha para dispersar os manifestantes. Oito pessoas foram detidas. Os organizadores do movimento original apontaram a suspeita de ação de “infiltrados”.
Bandeira – “Não se pode admitir que cenas como essa se repitam, e muito menos aceitável que queimem a nossa bandeira. Um crime de lesa-pátria”, disse o deputado Recalcati (PSD). Homero Marchese (PROS) culpou “radicais de esquerda” pelo vandalismo. “O comportamento dos manifestantes foi absolutamente fascista”, apontou. O deputado Alexandre Amaro (Repub), afirmou que o movimento é “ilegítimo”. “Acredito que a polícia tem que agir com mais rigor”, defendeu. “São tão machões que quando a polícia chega, eles não ficam”, disse o deputado Coronel Lee (PSL).
O deputado Luiz Cláudio Romanelli (PSB) afirmou que o movimento contra o racismo é legítimo, mas condenou a violência após o ato original. “Infelizmente um grupo se desgarrou dessa manifestação pacífica e veio ao Centro Cívico fazer baderna”, avaliou. “Pessoas que infelizmente são reativas a um discurso de ódio que permeia o nosso País”, considerou. “Quem faz discurso de ódio, para mim não diferencia se é de esquerda ou de direita. Eu os condeno”, disse. “A motivação do ato na Santos Andrade, se justifica. Agora os anarquistas, não satisfeitos com o ato se juntam a outros sem causa, quebram patrimônio público e privado. Para esses a lei”, concordou o deputado Michele Caputo (PSB).
O deputado Evandro Araújo (PSD) também defendeu os atos pacíficos contra o racismo, mas criticou os desdobramentos da manifestação de ontem. “No final da manifestação pessoas se sentiram no direito de aproveitar o momento para fazer barbárie. Isso, realmente é muito infeliz”, disse.
Grito – O deputado Requião Filho (MDB) defendeu o movimento e criticou o “discurso de ódio”, cultivado segundo ele, por Bolsonaro e seus apoiadores. “Não vi ninguém falar aqui dos neonazistas na Avenida Paulista (SP). Ou a senhora que foi na manifestação com um taco de beisebol”, lembrou, citando atos bolsonaristas do último domingo. “Teve quebra-quebra após o fim do ato. Alguns revoltados, excluídos ou infiltrados. É um grito de desespero contra o assassinato de negros e pobres na periferia”, considerou.
O deputado Arilson Chiorato (PT) negou que a violência no final do protesto tenha sido estimulada pela esquerda. “É lamentável que tenham pessoas que desviam o foco das manifestações e acabam tirando o foco da luta contra o racismo. Não tem black block na esquerda. Nós nunca fizemos uso disso. Essa desinformação é querer criminalizar a esquerda”, disse.
“Não tenho simpatia pelo Bolsonaro, mas todos os atos patrocinados pela direita, não vi violência”, afirmou o líder do governo, deputado Hussein Bakri (PSD), classificando de “intolerável” a queima da bandeira.