“No Compasso do Meu Tempo”

Angelita Lombarde Divino

Acordo com o barulho do mesmo relógio,
os passos da casa, o cheiro do café,
a rotina se desenha como um véu,
e eu… ainda estou me procurando.

O corpo sussurra em nova linguagem,
ondas de calor, silêncios no ventre,
um tempo que se despede
sem pedir licença, mas pedindo presença.

Carrego no colo memórias e filhos,
abraços dados com o coração exausto,
cuidados que me moldaram como argila,
gestos repetidos como orações silenciosas.

Eles crescem, partem, voltam
mas não mais precisam do meu colo inteiro.
E eu… me olho nas frestas da porta entreaberta
procurando o que ainda me cabe ser.

Há um medo sutil entre os lençóis,
um “será que ainda posso?”,
um “onde foi que me deixei?”,
enquanto a vida segue, apressada, pelas calçadas.

Expectativas de antes já não me cabem,
mas há uma força que nasce do cansaço,
uma fúria mansa, uma coragem terna
que aprende a se erguer, mesmo em dias turvos.

Menopausa — pausa?
Ou recomeço com nome de tempestade?
Sou lava e brisa,
Sou memória e criação.

Dentro de mim, ciclos se encerram em silêncio
flores que caem sem alarde,
rios que secam devagar,
sem nunca perder sua fonte.

A multidão me cerca, indiferente,
mas dentro, algo cintila.
um fogo discreto,
que me lembra: ainda sou luz.

E então, respiro.
ensaio um passo fora do roteiro.
Sorrio para mim
Reaprendendo a dançar no compasso do meu tempo.

Por todas as nossas relações!

Angelita Lombarde Divino
Escritora e Poetisa – Instrutora de Yoga e Terapeuta
@angelitalombarde_yoga_terapias / @fragmentosdereconexao

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REFERÊNCIAS
Inspiração nas minhas experiências como aprendiz aqui na terra; nos meus alunos e consultantes/consulentes; nas meditações e orações; nos meus professores internos e externos; na conexão com o sagrado que habita em mim, na vida, no universo, na terra, na natureza, em Deus!