Com a chegada das férias escolares de julho, pais e responsáveis enfrentam um desafio que vai além de entreter as crianças: lidar com mudanças na rotina e na dinâmica familiar. Esse período pode tanto gerar estresse quanto abrir espaço para fortalecer vínculos afetivos — tudo depende de como ele é vivido.
Para a psicóloga Cris Aguiar, especialista em Terapia Familiar e de Casais, o recesso deve ser visto como uma chance de desacelerar e se reconectar. “Fortalecer vínculos não exige grandes eventos, mas presença verdadeira. Cozinhar juntos, brincar, ver um filme com atenção e conversar sem pressa são gestos simples que criam memória afetiva e pertencimento”, afirma a autora do livro Ninguém quer ser Madrasta!.
Segundo ela, o chamado “tempo de qualidade” não está relacionado à quantidade de horas, mas à forma como o adulto se entrega ao momento. “É estar disponível emocionalmente: desligar o celular, escutar com interesse, validar sentimentos e participar da vida da criança. Um tempo breve, mas inteiro, pode ser mais valioso do que um dia inteiro com distrações”, reforça.
Convivência em famílias separadas ou mosaico
O período de férias exige ainda mais atenção em contextos de guarda compartilhada ou estruturas familiares complexas, como as chamadas “famílias mosaico” — com madrastas, padrastos e meio-irmãos. Para esses casos, o diálogo claro e o respeito mútuo entre os adultos são essenciais para o bem-estar das crianças.
“A cooperação entre os adultos é o que garante segurança emocional. A criança não deve ser mensageira, nem árbitra de conflitos. É preciso ter acordos bem definidos e um ambiente livre de disputas”, orienta a psicóloga.
Nas famílias mosaico, as férias se tornam um verdadeiro teste de adaptação. “Conversem antes, façam combinados e estejam abertos ao diálogo. Evitar conflitos desnecessários é essencial para preservar o espaço de convivência”, completa.
Viagens e divisão do tempo
Outro ponto delicado são as viagens. A decisão sobre com quem a criança irá viajar deve priorizar seu bem-estar emocional, e não a lógica da disputa.
“Quando os adultos se respeitam, a criança se sente mais livre e segura para aproveitar cada momento — seja com os pais, avós ou novos companheiros dos pais. O importante é que ela não sinta que sua presença gera ciúmes ou desconforto”, destaca Cris Aguiar.
Em meio à correria do dia a dia, as férias de julho podem ser uma oportunidade única para cultivar laços. Como lembra a especialista, “não é o extraordinário que constrói vínculos duradouros, e sim o afeto diário, genuíno e presente”.
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