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‘Sankofa – A África que Te Habita’ – Série mostra afro-brasileiro percorrendo rotas atlânticas da escravidão em busca da memória de seus ancestrais

Produção da Prime Box Brazil estreia no dia 1º de maio, às 20h30

Felipe Almeida

No dia 1º de maio, às 20h30, a série “Sankofa – A África que Te Habita” estreia no canal de TV pago Prime Box Brasil. A obra apresenta contos mitológicos narrados pela atriz Zezé Motta e retrata a resistência de grupos regionais para manter a cultura ancestral incorporada à identidade, com registros do fotógrafo afro-brasileiro, César Fraga, e do Professor Doutor de História da UERJ, Maurício Barros de Castro, que percorreram locais de memória da África moderna, por onde cerca de cinco milhões de africanos escravizados atravessarem o Oceano Atlântico para movimentar a economia do Brasil Colônia e Império (1530-1888).

Partindo de Fortaleza, o projeto viajou por nove cidades das quatro rotas do tráfico transatlântico: Guiné (Cabo Verde, Guiné-Bissau e Senegal), Mina (Gana, Togo, Benim e Nigéria), Angola e Moçambique. A idealização do roteiro partiu da necessidade de César reencontrar suas raízes. “O que mais me incomodava é essa ausência de informações da África pré-período escravocrata no Brasil. Ficava me perguntando: e antes do navio negreiro, o que acontecia lá?”, questiona o carioca, neto de escrava. A cada destino, César registrou vestígios de monumentos, tradições locais e beleza de povos em fotografias, no seu primeiro trabalho profissional nesta linguagem, que virou exposição e ilustrou o livro Do Outro Lado, com pesquisa histórica escrita por Mauricio.

No primeiro episódio da série, César e Maurício explicam as dificuldades de viabilização da viagem, no momento em que o estudo da diáspora africana ganha progressiva relevância mundial. Maurício contextualiza a inscrição do sítio arqueológico do Cais do Valongo na lista de Patrimônio Mundial da Unesco, oficializada em 2018. Trata-se da maior porta de entrada de escravizados do mundo, localizado na zona portuária do Rio de Janeiro, por onde aproximados um milhão de pessoas passaram. A discussão também ganha profundidade com a análise dos Professores Doutores de História da África, Mônica Lima (UFRJ) e Paulo de Jesus (UFRB).

No Senegal (3º episódio), César e Maurício conhecem a África muçulmana da colorida e contemporânea capital Dakar. Se surpreendem com a beleza e tranquilidade da Ilha de Gorée, rota com menor número de escravos vindos ao Brasil, mas em sua maioria destinados ao Maranhão. Coordenadores do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFMA, Carlos Benedito e Kátia Regis defendem a necessidade de se aprender a herança africana, a exemplo do Tambor de Crioula, em escolas do ensino fundamental no Maranhão, o estado com maior concentração de afrodescendentes do país. A diversidade religiosa também é tema do episódio final. Os viajantes identificam a influência árabe em Moçambique, última rota do tráfico.

César e Maurício conhecem as afinidades entre Brasil e Nigéria (8º episódio) ao visitar templos em Ilê Ifé onde os orixás são cultuados. Exploram o intercâmbio cultural contrário ao assistir desfile de carnaval levado ao país africano por Agudás, como eram chamados os africanos livres e seus descendentes. O carnavalesco Milton Cunha explica a alegria que permeia a festa e une os dois povos. Em Angola (9º episódio), a dupla conhece a pegada da Rainha Ginga, símbolo da resistência feminina à colonização portuguesa. A Doutora em Línguas Africanas da Universidade do Zaire, no Congo, Yeda Pessoa explica como a babá de origem angolana influenciou vocabulário e formação cultural das famílias brasileiras. A jornalista de economia Flávia Oliveira contextualiza como as mulheres ajudaram a “viralizar” o orgulho afrodescendente no século XXI.

As fábulas inseridas em todos os episódios buscam valorizar a cultura oral, transmitida entre gerações como ensinamentos ancestrais que preservam o pensar africano. A história do maior guerreiro do mundo, Ogum, é uma delas. A falecida Tia Maria, guardiã do Jongo da Serrinha, a Iyalorixá de São João do Mereti, no Rio de Janeiro, Mãe Menininha de Oxum, o historiador membro da Academia Brasileia de Letras, Alberto da Costa e Silva, o antropólogo carioca Milton Guran e o sociólogo baiano Muniz Sodré são outros personagens entrevistados pela série. Sankofa – A África que Te Habita é uma produção da FBL Criação e Produção dirigida por Rozane Braga e roteirizada por Zil Ribas. ‘Volte e pegue’ é o significado de ‘Sankofa’, que em culturas nativas são simbolizadas por um pássaro com a cabeça voltada para trás, o que representa o retorno ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro.