Crítica: espetáculo “Juventude” aborda tema sensível e necessário

Helena Carnieri

Foto de Rafael Saes

Não é um tema que se veja com tanta frequência nos palcos atualmente. A passagem da adolescência para a vida adulta é cantada em “Eduardo e Mônica”, e como nós amamos acompanhar a trajetória desse casal em suas desventuras na voz de Renato Russo… A necessidade de falar sobre as dificuldades da adolescência é ainda matéria de projetos como a Mostra de Arte da Juventude, realizada de forma bienal pelo Sesc Ribeirão Preto (SP), entre outras iniciativas. Romances chamados de aprendizagem ou de formação trazem essa passagem de forma bem viva.

Agora, o espetáculo “Juventude”, da sol.te companhia, faz isso contando a história de Roberto Carlos, um rapaz a quem damos a mão para ir junto desde os tempos de escola até a formatura, anos tão importantes. A dramaturgia é da diretora Mariana Mello junto ao ator Nathan Milléo Gualda, que vive o personagem no monólogo. O espetáculo fica em cartaz no Teatro Novelas Curitibanas até 13 de agosto.

A busca por identidade própria, as relações sociais, o isolamento, as perspectivas de futuro e a relação com a família são todos enfoques que ganham roupagem ora cômica, ora reflexiva. (Certa vez, uma amiga especulou que a maturidade só vem quando retornamos à casa dos pais em espírito de gratidão….o que não costuma ocorrer antes dos 30 anos. Alerta de spoiler para “Juventude”.)

Com bastante interação junto à plateia, temos acesso à intimidade e medos do personagem. Figurinos, mesa de luz e som estão todos no palco para serem manuseados por ele e sua equipe, com um cenário que fala muito sobre nossos tempos. 

As identidades pré-fabricadas surgem como um caminho proposto aos jovens, incluindo algumas militâncias, e o espetáculo abre um diálogo sobre isso, com uma bem-vinda visão crítica. 

A duração um pouco mais longa que o habitual, com quase 2 horas, permite fazer esse tiro longo na vida do personagem. Por outro lado, alguns “solilóquios”, ainda que quebrem a intensidade da ação com propostas reflexivas, podem soar intermináveis para a geração “rola o feed”.

O teatro está de volta, que maravilha!