A Vida é Palco

Mãe, tô com um sentimento que eu não sei

Helena Carnieri

As crianças têm feito perguntas às quais não sei responder. “Mãe, tô com um sentimento que eu não gosto e não sei qual é. Qual é?”

Então.

É duro sair do lugar de herói e heroína e dizer “não sei, não sei e não sei”. Confesso que essa tem sido a saída mais fácil, apesar de aprendermos na escola de pais (escola + sociedade antenada + avós) que o certo é dizer “o que você acha que é?” Essa não tem colado mais, ficam irritados e querem respostas prontas. Que eu não tenho.

O Google ajuda muito, obviamente, quando a pergunta é “como uma baleia beluga se parece” ou “quantas patas tem uma aranha”. Já pormenores um pouco mais aprofundados em entomologia como “qual a diferença entre o grilo fêmea e o grilo macho” não resultam tão fáceis nas buscas. Acabaram deixando o novo pet sem nome mesmo.

Quando a pergunta envolve sentimentos, esses vilões, tudo que a gente quer é congelar a cena, ampliar a tela e enxergar dentro da cabeça do filho. Tirar de lá toda a dúvida, ansiedade, medos, e fechar de volta. Mas dizem que é o sofrimento que faz crescer… e agora? Como explicar isso a uma mãe?

Assim que as crianças nasceram passei a chorar mais. A imaginação voa longe e me leva para dentro de outras casas, e fico sem saber se toda a raiva e frustração que vieram junto com as coisas incríveis da maternidade são mais contidas por lá. Ou menos. O que é que rola por lá na hora da ira.

O rádio, esse terrível, insiste em nos confrontar com a natureza humana em toda a sua maldade, e as notícias de filhos acorrentados, torturados ou mortos são difíceis de aguentar. 

Acho que me perdi um pouco no trem dos pensamentos, então é hora de falar um pouco sobre isso.

 

Por que escrever em 2021?

A crônica já foi muito debatida, incensada como gênero legitimamente brasileiro, e quem sou eu para me incluir num rol que inclui Ruy Castro e Rubem Braga. O que eu sei desses 20 anos de prática é que ela requer um pouco de ingenuidade e egocentrismo na medida certa.

Tenho esse espaço generoso num portal que resiste no jornalismo paranaense (salve, Bem Paraná!); algum ímpeto que me move ao teclado de vez em quando, e, pasmem, descobri que tenho até leitores (oi Lúcia! oi Severo!).

É demais para um coração escritor.

O que falta é a lauda. Ai, que saudade do layout de jornal impresso me informando o número de caracteres disponíveis para meus pensamentos em devaneio. A exigência de conter-se e fazer um recorte só do melhor (se ficar grande eu corto pelo pé, dizia o Goiaba) era um antídoto para a digressão.

Resiste ainda o fator tempo, e imagino que seja ele quem dita hoje a qualidade dos melhores escritos. Não que a abundância leve a frases perfeitas, talvez até o contrário: a pressão do deadline (fala aí, Ju Girardi) faz agir, decidir, fechar um texto. Como dizia a grande Sandra Gonçalves: não fique aí trocando seis por meia dúzia.