Chico Nogueira/Divulgação

O artista curitibano sempre se debate contra o provincianismo que ronda sua arte, tema recorrente que já produziu pérolas. Uma delas é o livro “Como ser invisível em Curitiba”, de Jamil Snege (aí embaixo, nos comentários, o leitor poderá me ajudar com outros exemplos).

Em cartaz no Barracão Encena, a opereta musical “Janaína, não seja boba”, com texto original, fala um pouco sobre isso. A encenação traz um susto de comédia à cidade, e comédia cantada “come si deve”, diriam os italianos.

São italianos à frente da batuta: o diretor Roberto Innocente, que assina o libreto, e o maestro Alessandro Sangiorgi, que estreia na composição. Mas não são “brancos europeus”, tão fora de moda, a gritar com assustados tupiniquins.

A dupla criativa convocou para o elenco um time que manda muito bem. Juntos, propõem como tema essa realidade universal, a luta contra a mediocridade. Não apenas o nosso ódio ao provincianismo, mas também o deles, o vosso. O impulso de ir além, natural do ser humano.

Na trama de “Janaína, não seja boba”, uma atriz iniciante foge com o namorado para evitar a ira do pai dele, aristocrata e preconceituoso. Deixam a cidade grande, Niterói, para se esconder na vila de Angra. Ao chegar, encontram seres típicos da província, como o maestro Martins, que anda às voltas em seu cotidiano de cidade pequena sonhando com a fama, as donas do bar e da pensão, o prefeito (esse, mais curitibano, impossível).

Assim como o príncipe Hamlet provoca revelações na tragédia sobre o assassinato de seu pai usando a encenação de uma peça dentro da peça, Martins tem a oportunidade de usar os forasteiros que ali chegam como elenco para finalmente encenar sua “obra-prima”. Em meio ao canto, na opereta dentro da opereta, revela aos olhos da elite local que amar não faz mal.

Como é praxe na ópera e nos musicais, falar cantando surge de forma natural em meio ao enredo, o que pode incomodar quem não tenha familiaridade com um ou outro gênero. Mas a qualidade da música e da execução logo vence os mais empedernidos, com destaque para as atuações da cantora Luana Godin e dos atores Daniel Siwek, Tiago Luz, Gideão Ferreira e Tarciso Fialho.

Se Carlos Gomes foi à Itália, fez fama e voltou, esses italianos que entre nós habitam estão em nossa província há mais de uma década. Esperemos que abracem novos temas universais por aqui mesmo, com padrões cada vez mais exigentes e coração cada vez mais local-universal.

 

SERVIÇO

Opereta Musical “Janaína, Não Seja Boba”

Horários: De quarta a sábado, às 21hs. Domingos, às 19hs. Até 3 de março.

Valor: R$ 20 e R$ 10 (meia).

Venda: bilheteria do Teatro Barracão EnCena. Informações sobre o horário de funcionamento da bilheteria em (41) 3223-5517.

Local: Teatro Barracão EnCena (Rua Treze de Maio, 160 – Centro, Curitiba)