
Há quem diga que Curitiba é uma cidade difícil. Contudo, há de se concordar plenamente com a piada contada pelo Diogo Portugal de que o curitibano está mais para um bom vinho: seco. Palco da cultura da interpretação teatral, a cidade que recentemente completou 329 anos chama a atenção por colocar no mapa de forma perfeita e em alto e bom som o humor. Lá se vão 18 anos de Risorama, que em seu conjunto apresenta o melhor e, sim, o pior, de espetáculos de comédia no gênero Stand Up Comedy. O evento reúne nomes de destaque nacional e, nessa edição dos 30 anos do Festival de Curitiba, apresentou dia 1o de abril um line-up expressivo. Sem mentira nenhuma, o local, o Live, estava completamente lotado!
Em uma semana que se falou muito do tapa na cara do Oscar, fato que envolveu comediantes da cena internacional, o tema esteve lá, ao lado das homenagens à essência do teatro, afinal, os humoristas se assustaram com a agressão e estavam mais apavorados ainda sem o seu ganha pão. Então, vamos ao que cada um reservou para a noite.
É notável que Nanny People está vivendo um momento mágico na carreira, com pitadas de sarcasmos bem dosadas e alegorias familiares, a comediante agradou a gregos e troianos, bombeiros, militares, eventuais donas de casa e, quiçá, esquerdistas, sem entrar em temas partidários que poderiam dividir o público. Exercendo com maestria a habilidade da empatia, Nanny se destacou entre os demais comediantes com um humor maduro, divertido e que conta muita de sua vida, com uma cumplicidade com o público invejável.
Por sua vez, Marcelo Marrom pareceu aqueles comediantes de início de carreira, tentou várias vezes emplacar algumas saídas humorísticas, mas o riso emperrava. De qualquer forma, contou com uma participação especial e suas interações com a intérprete de libras foram os melhores momentos da sua esquente.
Temas familiares marcaram a interpretação de Sérgio Lacerda, contando as peripécias do filho Bento. Aliás, essa tem sido a tônica de seus stand ups: dramas como pai, percalços com a esposa, entre outras questões domésticas.
Diogo Portugal, que, se é para o Risorama ter um pai, sem precisar de teste algum, ele é o progenitor certeiro, apresentou um espetáculo bastante pautado na realidade. Nada mais justo, visto que é marcante que os comediantes de stand up curitibanos ou que se apresentam por aqui tem seguido uma linha liberal, visando agradar o público e garantir as suas gargalhadas. Sobrou ali para Lula, Bolsonaro, o mendigo famoso da temporada, etc. Foi um risco, mas ele se saiu bem.
Em um show mais nerd, Patrick Maia trouxe outra pegada para a noite, acompanhado pelo seu inseparável instrumento musical. O humorista, cujas longas madeixas e toquinha dão um tom jovial e, ao mesmo tempo, bicho grilo, passeou por piadas reclamonas, lembrando um adolescente em crise em pleno palco do Risorama. Em alguns casos, foi necessário ter paciência para entrar na onda do artista…
Em um show rápido, Nil Agra também optou por trazer cenas corriqueiras da realidade política, de forma mais agressiva e ácida, com uma imposição no palco diferenciada, cheio de caras e bocas, trejeitos e expressões salientes. Em outra linha, mais amena vamos dizer assim, Maurício Meirelles apresentou um show sólido, destacou-se pela simpatia e lembrou que o humor não tem limites, mas o comediante sim.
Serviço:
Risorama
De 29 de março a 10 de abril
Mais informações em https://festivaldecuritiba.com.br/eventos/risorama/