Uma Itália toda diversa e deliciosa

Helena Carnieri

Divulgação - "Como um peixe fora d´água" diverte e ensina um pouco sobre a realidade social italiana.

Ainda que tenha durado poucos dias, a corrida para assistir ao 8 1/2 Festa do Cinema Italiano foi a oportunidade de ver o Bel Paese pelos olhos de diferentes cineastas. 

Em suas escolhas temáticas e de locação, foi quase possível sentir o gosto da pastasciutta das diferentes regiões, com seus ingredientes inigualáveis. Mas também foi a chance de ir além de ideias preconcebidas e verificar a existência de uma Itália muito “varia”, múltipla em suas diferenças de classe e opinião política.

Foi o caso em “Como um peixe fora d´água” (Riccardo Milani, 2017), em que um consultor da União Europeia que defende a integração social – mas a conhece apenas na teoria – tem a oportunidade de vivenciar sua prática na região metropolitana de Roma.

De minha parte, confesso que foi um pouco chocante ter contato com histórias como a de Davide, morto por policiais num bairro pobre de Nápoles ao ser confundido com um fugitivo. Fatos tão banais do noticiário brasileiro, que ganham corpos, rostos e cores de outra nação. Sua tragédia é retratada pelos olhos de dois garotos da mesma idade (16 anos) em “Selfie” (Agostino Ferrente, 2019). “Va visto.”

Foi curioso tomar contato com novas verdades do país de onde veio parte de meus antepassados naquele século 19, pouco após um incêndio acometer sua vila. Quando me propus a fazer o “gran ritorno”, já às portas do século 21, meu avô me alertou: “Fazer o que lá minha filha, só tem pobreza…”. Como é subjetiva a opinião, nossas ideias formadas por um caldo de experiências pessoais e memórias transmitidas entre  gerações.

A verdade na fronteira

Impossível não comparar a dezena de títulos que consegui assistir com os filmes da França a que tivemos mais tempo de acesso no Festival Varilux (do cardápio de quase 50 pude  acompanhar quase 40!). Percebi (mas pode ser um recorte por demais pessoal) uma recorrência de títulos franceses em que os problemas familiares dão a tônica, com destaque para a guarda de filhos após divórcios e o relacionamento entre pais e filhos. Já na mostra italiano acabei vendo mais filmes com tema social.

O ponto em comum nos longas franceses e italianos eram as refeições…fartas em sua divulgação das delícias da table e da tavola. Por mim ambos valem uma (duas, três) viagens só para comer.

Confesso que meu contato com a Itália passa muito pelo estômago. Hoje já não sei como sobreviveria no maravilhoso mundo de tortellini e rigatoni, agora que sou, como a personagem elitista do longa de Milani, celíaca.

Mas posso salivar ao ver um filme bem saboroso ou conhecer à distância essa incrível invenção que é a Academia do Tiramisù, braço cultural da Tiramisù World Cup. Criada em Treviso, no Vêneto, a instituição sem fins lucrativos busca resguardar a cultura gastronômica desse doce que leva queijo mascarpone e café, e que promove essa curiosa competição tão específica e divertida. No Brasil, infelizmente, o calendário ainda está indefinido por conta da pandemia.

Acompanhe tudo lá:

Tiramisù World Cup 2020 – https://tiramisuworldcup.com