A Páscoa e seu Significado para o Ano de 2025: O Jubileu da Esperança

Especialista da PUCPR fala sobre o contexto da Páscoa no Jubileu da Esperança do ano 2025

Carlos Oliveira
Imagem de CrisG por Pixabay

Imagem de CrisG por Pixabay

A celebração da Páscoa, central tanto para o judaísmo quanto para o cristianismo, assume em 2025 um significado ainda mais profundo e simbólico. De acordo com a professora Ana Beatriz Dias Pinto, do Departamento de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), isso se deve ao contexto do Jubileu da Esperança, proclamado pelo Papa Francisco para este ano. “O período de preparação para a Páscoa é um tempo de reconciliação, perdão, fraternidade e renovação espiritual. Neste ano jubilar, a ressurreição de Cristo é celebrada não apenas como um evento litúrgico ou histórico, mas como um apelo à esperança concreta em um mundo marcado por incertezas, crises sociais e desafios existenciais”, explica a teóloga.

Com o lema Peregrinos da Esperança, o Jubileu de 2025 convida fiéis e povos de todas as nações a um novo olhar sobre a fé e a vida. A Páscoa, nesse contexto, torna-se o ponto culminante dessa peregrinação espiritual: a passagem da angústia para a esperança, da escuridão para a luz, da morte para a vida. Este texto busca aprofundar a compreensão da Páscoa em sua origem, significado teológico e atualizações para o tempo presente, articulando com os apelos jubilares do Papa Francisco e a realidade contemporânea, conforme explica a professora Ana Beatriz.


A Origem da Páscoa: Um Tempo de Travessia

A palavra “Páscoa” tem origem no hebraico Pessach, que significa “passagem”. No Antigo Testamento, refere-se à libertação dos hebreus da escravidão no Egito, narrada no livro do Êxodo. É o momento em que o povo de Israel, sob a liderança de Moisés, atravessa o Mar Vermelho e começa sua jornada rumo à Terra Prometida.

“A celebração do Pessach no judaísmo ainda hoje recorda essa travessia histórica e espiritual, marcada por símbolos como o cordeiro, o pão sem fermento – o matzá – e as ervas amargas. Cada um desses elementos remete à experiência da dor, da resistência e, sobretudo, da libertação desse povo”, revela a professora.

De acordo com a especialista da PUCPR, no cristianismo, a Páscoa ganha novo sentido: a ressurreição de Jesus Cristo, após sua crucificação. “Trata-se de outra travessia – não mais apenas geográfica ou política, mas existencial e salvífica, pois a teologia compreende que Jesus é o novo Cordeiro, aquele que vence a morte e inaugura uma nova vida. Sua ressurreição não apenas confirma sua divindade, mas inaugura um novo tempo, em que a esperança se torna um horizonte de vivências possíveis para toda a humanidade”, explica.


Jubileu da Esperança: Um Convite à Renovação

Os jubileus têm origem no Antigo Testamento, especialmente em Levítico 25, quando Deus ordena que, a cada cinquenta anos, fosse proclamado um “ano santo” com o perdão das dívidas, libertação dos escravos e descanso da terra. Essa prática expressava justiça, equidade e cuidado social.

No catolicismo, o Jubileu foi retomado no século XIV e institucionalizado como um tempo especial de graça e reconciliação. O Papa Francisco, em sua Bula de Convocação do Jubileu de 2025, aponta para a necessidade de reencontrar a esperança em tempos de guerras, desigualdades e exaustão espiritual ao qual estamos inseridos.

Segundo ele, “a esperança é audaciosa; sabe olhar para além do conforto pessoal e das pequenas seguranças que estreitam o horizonte, para se abrir aos grandes ideais”. A celebração da Páscoa nesse contexto torna-se uma profecia de esperança: Cristo vive, e isso muda tudo.

A Páscoa de 2025: Luz para os Tempos Sombrios

Vivemos uma era marcada por crises ecológicas, conflitos armados, exclusão social e uma pandemia cujas consequências ainda reverberam. Em muitos corações, a desesperança tomou o lugar da fé. Por isso, a Páscoa de 2025 é particularmente significativa.

De acordo com a professora Ana Beatriz, ela representa a vitória da vida sobre a morte, da solidariedade sobre o egoísmo, da fraternidade sobre o isolamento. O anúncio pascal – “Cristo ressuscitou!” – não é uma frase do passado, mas uma palavra viva para o presente. Ele ecoa com ainda mais força em um mundo sedento de sentido. Segundo a teóloga, o Papa Francisco tem insistido que a esperança cristã não é alienação nem otimismo vazio, mas como uma força ativa e transformadora. “Celebrar a Páscoa neste ano jubilar é renovar o compromisso com a justiça, com os pobres, com a paz e com a criação. É fazer da fé um gesto concreto de mudança”, complementa.


Celebrações em Diferentes Culturas

A Páscoa é celebrada em todo o mundo com diferentes ritos e tradições.

Nas Igrejas Ortodoxas, a Páscoa é celebrada em data distinta das igrejas ocidentais, pois seguem o calendário juliano. Uma das celebrações mais conhecidas é a do Fogo Santo, em Jerusalém, em que uma chama simbólica é acesa na escuridão da igreja, representando a luz de Cristo ressuscitado.

Na Grécia, a Semana Santa culmina com grandes vigílias, fogos de artifício e refeições comunitárias na madrugada da ressurreição, especialmente o prato tradicional chamado magiritsa, uma sopa servida após a Vigília Pascal.

Na Alemanha e na Áustria, há o costume de decorar árvores com ovos coloridos, chamados Ostereierbaum. As casas são adornadas com símbolos da primavera e muitas comunidades realizam procissões com tochas e encenações da Paixão de Cristo.

Nas Filipinas, a devoção popular se expressa em dramáticas encenações da paixão e crucificação, nas quais fiéis reencenam os sofrimentos de Cristo de forma literal. Milhares de pessoas acompanham as procissões com profunda emoção e fervor.

Na Itália e na Espanha, a Semana Santa é marcada por procissões noturnas, penitenciais, com imagens religiosas carregadas por confrarias em silêncio, acompanhadas por música sacra e manifestações de grande religiosidade popular.

No Brasil, além das celebrações litúrgicas, há tradições culturais como a encenação da Paixão de Cristo em Nova Jerusalém, em Pernambuco, considerada a maior do mundo, e as procissões com o Senhor Morto na sexta-feira da Paixão, e com Cristo Ressuscitado pelas ruas das cidades, no domingo de Páscoa.

Em 2025, o Vaticano espera receber milhões de peregrinos de diversas nações para atravessar as Portas Santas das basílicas e renovar sua fé. Será uma oportunidade única de vivência ecumênica e intercultural da esperança pascal. Como afirma o Papa: “O mundo precisa de sinais de esperança. E a ressurreição é o maior de todos eles. A celebração da Páscoa, portanto, não se esgota em sua dimensão litúrgica, mas se projeta como transformação social e ética”, finaliza a professora da PUCPR.