A teologia é chamada a cumprir com o imperativo evangélico da “opção preferencial pelos pobres”, numa atitude de vivência ao lado do povo. (Imagem: Pixabay)

A prática da fé pode ser mensurada? A teologia como reflexão crítica da práxis histórica à luz da Palavra poderia substituir as demais funções da teologia como sabedoria e saber racional, uma vez que as supõe e necessita? Teria a relação fé-ciência um contexto presente na relação fé-sociedade e no da consequente ação libertadora da teologia, que Clodovis Boff enumera neste capítulo? A Teologia da Libertação é uma alternativa de prática da fé ainda pertinente para os dias de hoje?

A obra Teoria do Método Teológico, de Clodovis Boff expressa algumas opiniões sobre essas temáticas. De acordo com o autor, a Palavra é o princípio iluminador dominante da teologia, devendo a sua prática ser iluminada pela Fé. Contudo, a prática, como por um “retorno dialético”, pode também iluminar a fé e contribuir, com seu potencial epistemológico próprio, para o conhecimento teológico. Assim, a Revelação se constitui não só de palavras, mas também e, sobretudo, de eventos. Por isso a teologia, que tem na Revelação seu princípio determinante, encontra a fonte de seu conhecimento não só nas palavras da fé mas também, e enquanto iluminada por elas, na prática da fé, que atualiza e encarna a Palavra no hoje.

Ainda segundo Clodovis, o longo da caminhada na fé, a vida das pessoas e comunidades apresenta aspectos do mistério de Deus a que o teólogo não deve de modo algum ficar desatento. A liturgia e a vida dos santos são exemplo disso, pois possuem uma luz particular que a teologia deve acolher com todo cuidado. O mesmo ocorre com a História da humanidade.

Seus desafios à fé muito ensinaram à Igreja sobre a verdade divina, enquanto provocaram sua atenção para verdades escondidas ou esquecidas e enquanto levaram à retificação e também ao aprofundamento de tantas outras. O primado da prática se justifica apenas na ordem da prática da fé (caridade), não na da teologia da fé (teologia). Nesta última, o primado compete à Palavra de Deus (a menos que se entenda a Palavra de Deus como a Prática divina da Salvação, cuja narrativa se encontra nas Escrituras).

O encontro entre Fé e Prática ou, entre Evangelho e Vida deve, para o teólogo, se dar primeiro na vida real e depois na teoria teológica. Isso implica, como condição necessária, embora insuficiente, que o teólogo tenha uma vinculação real com a vida concreta da comunidade eclesial e não apenas uma vinculação teórica ou moral. Tal vinculação pode se dar em três níveis: causa, caminhada e condições de vida (os três “c” s).

E aqui o autor explica que a teologia é chamada a cumprir com o imperativo evangélico da “opção preferencial pelos pobres”, numa atitude de vivência ao lado do povo; para que o teólogo trilhe uma teologia efetivamente libertadora, ele deve participar de algum modo da vida dos pobres e pôr-se à sua escuta.

Como fundamento central dessa tese, Boff afirma que a prática ilumina a fé quando é prática de fé. Ilumina enquanto iluminada, como por um retorno dialético. A luz própria da prática para a teologia consiste nisto: que ela, por um lado, provoca o conhecimento teológico e, por outro, o verifica. Em outras palavras, interroga e reconhece a verdade teológica. Assim, o método teológico põe em confronto fé-vida, mostrando que não tem apenas uma estrutura dedutiva e nem apenas indutiva, mas sim dialética.

 

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Ana Beatriz Dias Pinto, é comentarista convidada do blog e nos traz reflexões sobre temas atuais e contextualizados sob a ótica do universo religioso, de maneira gratuíta e sem vínculo empregatício, oportunizando seu saber e experiência no tema de Teologia e Sociedade para alargar nossa compreensão do Sagrado e suas interseções. 

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BOFF, Clodovis. Teoria do método teológico. 6 ed. Petrópolis: Vozes, 2015. p.157-195.