A teologia serve-se dos recursos das ciências, respeitando sempre sua autonomia específica. (Imagem: Pixabay)

De acordo com Clodovis Boff, a teologia representa o saber mais elevado, a ciência soberana, a sabedoria absoluta. Sua excelência provém da Realidade absoluta, que é Deus – o objeto máximo do pensar humano que considera. O lugar da teologia entre as ciências, e por consequência na “casa das ciências”, se justifica por isto: o ser parcial de cada ciência do condicional é aberto à ciência do Incondicional. Desse modo, é possível afirmar que a teologia está aberta às demais ciências, pois precisa delas para se constituir como discurso concreto.

Assim, todas as ciências são consideradas por ela como instrumentos, ou melhor, como mediações (os medievais falavam em “servas”) no sentido de compreender mais plenamente as realidades da fé. Portanto, relação da teologia com as ciências não é de tipo ditatorial, mas democrático. Ou seja, a teologia serve-se dos recursos das ciências, respeitando sempre sua autonomia específica, mas também reservando-se ao direito de criticar as pretensões pseudofilosóficas ou pseudoteológicas da chamada “razão moderna”.

Em retorno, a teologia recebe dos outros saberes uma válida contribuição crítica: eles a ajudam a purificar, aprofundar e provocar a razão teológica. A teologia utiliza a filosofia e as ciências seguindo dois critérios básicos: assunção do que é positivo, a saber: os elementos bons e verdadeiros, enfim, tudo o que se compatibiliza com a fé; rejeição do que é negativo, ou seja: tudo o que é mau, falso, e que não pode se harmonizar com o conteúdo da fé revelada. As duas mediações teóricas a que recorre a teologia são a mediação filosófica e a mediação das ciências. Enquanto resposta humana à proposta divina, a fé pressupõe sempre uma filosofia, como postura existencial de buscar o sentido radical à vida. Nesse sentido, a filosofia é intrínseca à fé e tem um lugar estrutural na teologia.

Em linhas gerais, a teologia não precisa necessariamente incorporar uma filosofia enquanto este ou aquele sistema, especialmente hoje em que a filosofia se encontra numa situação de grande pluralismo e de extrema fragmentação. Mas precisa, sim, de um espírito ou postura filosófica realmente assumida e vigorosa. A função geral da filosofia na teologia é refletir o fundo ontológico dos conceitos teológicos. Como a graça supõe a natureza, assim a razão teológica supõe o trabalho da razão filosófica. Em particular, a filosofia, enquanto atitude, serve à teologia como parceira exigente do diálogo cultural visando adquirir a arte de pensar, além de elaborar criticamente o fundo filosófico implicado nas questões da teologia.

A teologia tem interesse pelas ciências como modo de mediação cultural. E sendo Clodovis Boff, o uso das ciências sociais é particularmente urgente pelo fato de a teologia hoje ter de se enfrentar com o drama da miséria das massas. Em função disso, talvez se possa dizer que as ciências sociais constituem hoje o interlocutor privilegiado, embora não exclusivo, da teologia. Este detalhe foi o que me levou, como profissional da área de jornalismo, a estudar teologia posteriormente à minha formação inicial, no intuito de complementar meu conhecimento prático-pastoral à ciência teológica e poder atuar na área da comunicação de maneira mais harmoniosa, sem incorrer em reportagens com “erros teológicos”, algo que acontece bastante no campo da imprensa aqui no Brasil e no mundo.

Diante disso, não seria urgente adotarmos em nossas universidades, um estudo teológico para a formação em quaisquer cursos formativos? Hoje em dia, temos cada vez mais profissionais lançados ao mercado de trabalho que não sabem “lidar com pessoas”, reflexo de um mundo cada vez mais líquido e fragmentado. Poderia então, disciplinas como a de Cultura Religiosa ou de Teologia e Sociedade contribuírem nesse sentido?

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Ana Beatriz Dias Pinto, é comentarista convidada do blog e nos traz reflexões sobre temas atuais e contextualizados sob a ótica do universo religioso, de maneira gratuíta e sem vínculo empregatício, oportunizando seu saber e experiência no tema de Teologia e Sociedade para alargar nossa compreensão do Sagrado e suas interseções.
 


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BOFF, Clodovis. Teoria do método teológico. 6 ed. Petrópolis: Vozes, 2015. p. 358-424.