Click do Sagrado: projeto recebe destaque nacional

Criatividade ajuda a transformar aulas de Cultura Religiosa

Ana Beatriz Dias Pinto

Modelo de Clique do Sagrado desenvolvido pela professora Edile, onde apresenta aos estudantes sua própria família. (Arquivo Pessoal)

Antes mesmo de entrar a pandemia e o frisson trazido pelas aulas remotas, usar a criatividade já era o carisma da professora Edile Fracaro Rodrigues, que leciona Cultura Religiosa há 7 anos na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Ela é a criadora do projeto “Clique do Sagrado”, que recentemente ganhou menção num dos periódicos científicos mais importantes de Teologia e Ciências da Religião do país, a Revista Horizonte. 

Envolta em ambientes religiosos desde jovem, o despertar de sua vocação para o ensino veio com a maturidade. “Casei nova, tive filhos, trabalhei como obreira voluntária na igreja. Depois, atuei como freelancer numa editora de materiais didáticos para escolas bíblicas do país inteiro”, conta. De acordo com Edile, foi só depois dos quarenta anos que teve a oportunidade de cursar uma faculdade.

E isso ela fez com maestria, demonstrando a realidade de muitas mulheres-mães-profissionais em nosso país: ingressou no curso de Formação de Professores para a Educação Infantil e Anos Iniciais, na PUCPR, formando-se como melhor aluna da turma e levando pra casa nada menos que o Prêmio Marcelino Champagnat, condecoração que lhe oportunizou cursar mestrado e doutorado gratuitamente. Dali pra frente, foi contratada para lecionar na instituição – algo que transformou completamente sua vida e a de muitos estudantes que frequentam suas aulas: desenvolveu um recurso didático altamente eficiente, o Clique do Sagrado, proposta que os incentiva a fotografar seu modo de enxergar a religiosidade.

Eixo Humanístico na formação dos filhos da PUC

Presbiteriana independente da 1a IPI de Curitiba, a professora Edile viu na sala de aula um espaço para dialogar com as mais diferentes expressões religiosas presentes no ambiente universitário e incluí-las no percurso de compreensão do Sagrado. Assim, incentivou os estudantes a produzirem fotografias sobre suas experiências religiosas, explicitando também em palavras, a conexão entre texto e imagem, revelando assim seus anseios, espiritualidade e dimensão cultural.

A atividade foi muito bem aceita pelos acadêmicos e se tornou a marca registrada da professora Edile! E atualmente, é experiência indispensável a todo filho da PUC antes de se formar. Aliás, a Cultura Religiosa é uma das quatro disciplinas que compõem o Eixo Humanístico da instituição paranaense, que visa preparar para o mercado de trabalho e para a vida em sociedade profissionais cientes de princípios e valores ensinados em aulas de ÉticaFilosofia e, também, que doem à comunidade algum talento, tempo e conhecimento por meio da realização de um Projeto Comunitário.

Proposta de metodologia ativa inovadora na Teologia

O uso de metodologias ativas têm revolucionado a educação no mundo todo, sendo um método amplo e que possui como principal característica a inserção do estudante como protagonista do processo de ensino-aprendizagem. A genialidade da proposta do “Clique do Sagrado” em aulas de Teologia é seu modo de, por meio de fotografias produzidas por estudantes em espaços religiosos ou registradas em momentos singulares de suas vidas, colaborar para a sistematização do conhecimento proposto em sala de aula.

Assim sendo, o Clique do Sagrado é inovador porquê faz de cada estudante, em sua singularidade, protagonista da construção do conhecimento e da percepção da realidade onde está inserido, sensibilizando-se em relação ao Sagrado presente em sua vida e de quem está ao seu redor. “Trata-se de uma proposta capaz de educar para o saber olhar o ser humano em sua diversidade de manifestações, espacialidade e dimensão cultural”, comenta a professora Edile.

Na atividade, o estudante pode falar sobre seus sonhos, projetos profissionais, valores familiares e, também, escrever uma carta para “seu eu do futuro”, algo que poderá ler depois de 10 anos. “Eles podem inclusive partilhar suas atividades com os colegas, algo que os enriquece mutuamente”, explica. 

Segundo a professora Edile, é por meio do encontro com a realidade do estudante em sua leitura social e espiritual, convidando-o a partilhar suas manifestações religiosas, que a sala de aula contribui para que esteja integrado ao seu cotidiano e à leitura do sentido da vida, aliando o uso de tecnologias educacionais à ação docente. “Fazemos uma avaliação por pares. É importante ressaltar que o sagrado não está em avaliação. Mas como ele é apresentado. Isso é o que propomos: coerência entre pensamento e ação. Eles comentam os cliques uns dos outros, buscando ressaltar pontos positivos e trabalhando a questão da alteridade (enxergar o outro). Agora na pandemia, foi uma maneira de se conhecerem em virtude das aulas remotas, diminuindo as distâncias e oportunizando o enxergar das diferenças”, conclui. 

Você também tem algum projeto na área de Teologia e Inclusão? Conte para nós! Escreva para nosso blog – anabeatrizjornalista[arroba]gmail.com! Enquanto isso, compartilhe esta notícia com seus colegas e amigos! Assim, mais pessoas poderão compreender a importância da acolhida às diferenças e do estudo do impacto das crenças religiosas em nossa sociedade!

Ana Beatriz Dias Pinto, é comentarista convidada do blog e nos traz reflexões sobre temas atuais e contextualizados sob a ótica do universo religioso, de maneira gratuíta e sem vínculo empregatício, oportunizando seu saber e experiência no tema de Teologia e Sociedade para alargar nossa compreensão do Sagrado e suas interseções.