Hoje é 3 de dezembro e faço aniversário. Datas assim me trazem boas lembranças. Especialmente dos tempos de criança. Ao me levantar, recordei que meus avós maternos – Anair e José – eram uns dos primeiros a vir até nossa casa pra me dar um abraço e trazer um presentinho. Depois vinha a Tia Inês, Tia Maria, Tia Íria e quase sempre recebia um telefonema do Tio Armindo e do Tio Helio, que moravam longe. No fim do dia a casa ficava cheia de parentes e eu adorava brincar com meus irmãos, primos e vizinhos.
Geralmente a festança era 2 em 1, pois na semana anterior faz aniversário o meu irmão mais velho, Fabiano, e isso eu não podia mudar: a natureza se encarregou de me ensinar desde cedo a dividir o bolo.
O meu avô, que era um sujeito simples, R U D I M E N T A R, mas tinha um modo alargado de enxergar a vida, não perdia a oportunidade de criticar todo exagero; foi órfão de pai e mãe muito cedo – e isso o fez experimentar uma infância bem diferente da nossa. Certa vez, me repreendeu quando eu lhe disse que queria um brinquedo “da moda” de presente.
Eu sonhava em ter um pogobol; era algo como o hoverboard dos anos 80: você apoiava os dois pés numa base que circundava uma esfera e saia pulando por aí. A maioria dos meus amigos tinha e eu queria ter um, ué?! De pronto ele me disse: “você não tem que ficar pedindo nada. Tem mais é que agradecer! Tem família, tem comida. No máximo deve pedir por saúde e que nunca te falte ninguém”.
Exatos 30 anos se passaram. Meus avós já se foram e, por mais que a vida tenha lá seus presentes e suas doçuras, este aniversário é diferente e me fez recordar o quanto sou grata por minha família, pelo dom da vida e por ter saúde.
Nunca ganhei um pogobol e confesso, até rindo, que não me fez a mínima falta. Seja pela saudade eterna, seja pela COVID que impede um abraço, aniversariar em meio às ausências é a única frustração daquela menininha aqui no futuro.
Foi andando por minhas memórias que, hoje cedo, dei um pulinho com meu pogobol imaginário lá pro passado e entendi o quanto queria, ao menos por um instante, certas gentes-presente.
Meu pedido pra hoje: muita saúde pra todos nós e que venha logo a vacina. Seu José, lá no céu, deve estar pleníssimo de satisfação. Afinal, de que me adiantam as velas acessas, se as cadeiras estiverem vazias?
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* Ana Beatriz Dias Pinto, é comentarista convidada do blog e nos traz reflexões sobre temas atuais e contextualizados sob a ótica do universo religioso, de maneira gratuíta e sem vínculo empregatício, oportunizando seu saber e experiência no tema de Teologia e Sociedade para alargar nossa compreensão do Sagrado e suas interseções.