Quando analisamos as relações entre a imprensa e o catolicismo, encontramos vários pontos que necessitam de ajustes ( Imagem: Pixabay).
A expressão “comunicação de massa” pode ser conceituada como um instrumento de transmissão unidirecional de mensagens de um para muitos indivíduos ao mesmo tempo, através de um veículo de comunicação social massivo e à distância.
Desde a conclusão do Concílio Vaticano II até os dias atuais, a relação histórica entre a Igreja e a imprensa tem sido desafiante para ambas e, por vezes, cheia de conflito. Nas últimas décadas, nenhuma instituição religiosa recebeu tão prolongado e sondado escrutínio jornalístico como a Igreja Católica. E esse tipo de cobertura excessiva muitas vezes pode ser compreendida como nociva – mas ela pode ter uma dimensão positiva também: o potencial de amplitude de uma notícia é imensurável e, quando transmitida de maneira precisa, passa a ser um eficiente instrumento de evangelização.
Ao analisar tal cenário, é possível entender-se que existem dois pontos cruciais que geram tensão e desgaste à corda bamba onde se encontram Igreja e imprensa. De um lado, clérigos acusam jornalistas de sensacionalismo e de necessidade de cavar sempre mais manchetes bombásticas, muitas vezes preconceituosas e com interesse em audiência, visando a venda de suas publicações e os ganhos com espaços publicitários advindos de uma boa performance.
Já na outra ponta, jornalistas dizem que a Igreja faz sigilo demais sobre o que acontece em suas esferas, mantendo as mãos cerradas para o fornecimento de informações internas e também para explicações minuciosas de assuntos polêmicos, como questões envolvendo a crise instaurada pelos abusos sexuais cometidos por sacerdotes, a recusa em oferecer comunhão para casais em segunda união ou, ainda, a discussão sobre a aceitação de católicos homossexuais, dentre outros temas.
Jornalismo e Teologia buscam a verdade. Mas o que é a Verdade?
Compreendendo tais pontos de vista, é possível observar que ambas as instituições estejam expressando a “sua verdade”. Afinal, cada qual enxerga melhor a ponta da corda que lhe está mais próxima e, por isso, quem vê de longe nem sempre compreende os detalhes que estão contidos do outro lado. Há, contudo, uma possibilidade de atenuar esse “diz-que-me-disse”. Ao fazermos um zoom desse vai e vem de olhares, percepções, experiências e palavras, é possível constatar alguns dos obstáculos que impedem que o processo de comunicação seja efetivo na construção do diálogo entre a Igreja e a imprensa e vice-versa, a fim de superá-los.
No caso da Igreja, a causa fundamental para sua dificuldade se encontra na incapacidade de compreender que os jornalistas têm de ser céticos ao fazer a apuração de notícias. É tarefa deles investigar, incomodar, perguntar quantas vezes acharem necessário até compreender um tema e, sobretudo, denunciar o que não está de acordo com o que Igreja institucionaliza – afinal, se seus membros pregam uma postura fundamentada em valores, não podem reclamar se são descobertos sendo incoerentes ao vivenciá-los.
Quanto ao que visa comunicar, o clero precisa aprender a falar uma língua mais acessível ao jornalista, deixando de transmitir mensagens unilaterais, compreensíveis apenas aos seus membros ou a quem atua no campo teológico. Cabe à ela a tarefa de legitimar a existência de um canal de comunicação institucional (assessoria de imprensa), de modo a aperfeiçoar a linguagem com que se apresenta à mídia e, consequentemente, aos fiéis que são os consumidores finais das notícias divulgadas pelos veículos de comunicação.
Já por parte da imprensa, ela desgasta o diálogo com a Igreja quando não possui subsídios para compreender os elementos que compõe sua Doutrina. A Igreja é uma instituição milenar, que defende pensamentos e dogmas fundamentados nas Sagradas Escrituras, em estudos que têm como princípio a defesa da vida, da ética, da moral, do bem-comum e da natureza. Tudo o que vira polêmica terá uma postura firme e fundamentada em raízes profundas por parte da Igreja em especial porque ela se apresenta como uma instituição que vivencia uma fé. Por essa razão, seus apontamentos se baseiam no que toca não somente a relação do homem com o mundo, mas também com a transcendência.
Importância da formação teológica para a imprensa
Por essa razão, é necessário que os jornalistas estejam mais bem formados teologicamente ao redigir suas pautas, ao entrevistar membros do clero, ao aprofundar temáticas apresentadas em suas reportagens sobre a Igreja. São poucos os cursos de jornalismo, especialmente os de especialização, que formam o profissional de imprensa para ser capaz de compreender elementos teológicos ou a ser hábil em contextualizar suas esferas e, principalmente, a constatar a centralidade de uma mensagem proferida pela Igreja e conseguir transmiti-la com ética, isenção e responsabilidade com seu público.
Outro elemento que incorre contra a imprensa é o fato de que muitos veículos de comunicação não possuem editorias específicas para tratar de assuntos religiosos, destacando profissionais de outros setores para a cobertura de pautas eclesiais. Tal despreparo e incipiência tem como consequência a baixa profundidade com que muitas dessas reportagens são apuradas, ou mesmo, a distorção de informações por falhas de conhecimento e familiaridade com temas eclesiais.
No Brasil, ainda há a problemática das redações que “bebem da mesma fonte” ao copiar integralmente ou replicar com pequenas mudanças estruturais reportagens distribuídas por agências de notícias internacionais, não transmitindo em suas reportagens elementos que poderiam enriquecer e informar a sociedade acerca de assuntos religiosos.
Carecemos ainda um jornalismo feito com mais seriedade e comprometimento com a verdade e, sobretudo com o leitor. Temas de ordem religiosa precisam ser tratados com mais cuidado, especialmente reportagens que abordam temas polêmicos, que tocam nas estruturas mais tradicionais da Igreja como a pauta homossexual ou os casais em segunda união. A forma de propagar informações de modo mal aprofundado causa grande impacto social e pode gerar incompreensões diversas para o leitor, especialmente ao que se refere às manchetes de efeito, onde se promete um tipo de notícia que muitas vezes não é verdadeira.
Tenho assistido perplexa ao espetáculo que acontece no vai-e-vem dessa corda-bamba entre Igreja e imprensa. E a sociedade acaba ingerindo essas pseudo-verdades de maneira quase que passiva, ao invés de estar bem informada. No quesito teológico, fica com a sensação de estar à mercê da verdade. Já no campo comunicacional, é considerada só mais um número para audiência e venda de um produto polêmico. Quando acabaremos com isso?
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* Ana Beatriz Dias Pinto, é comentarista convidada do blog e nos traz reflexões sobre temas atuais e contextualizados sob a ótica do universo religioso, de maneira gratuíta e sem vínculo empregatício, oportunizando seu saber e experiência no tema de Teologia e Sociedade para alargar nossa compreensão do Sagrado e suas interseções.