Em comunicado à imprensa, Vaticano diz que o presépio é uma ode à arte contemporânea (Imagem: Divulgação).
O Vaticano revelou seu presépio oficial na Praça de São Pedro na noite de sexta-feira (11), surpreendendo alguns com sua representação de um astronauta e outra figura usando um capacete estilo Darth Vader vindo adorar o menino Jesus.
O presépio foi feito entre 1965 e 1975 como parte de uma coleção de 54 estátuas criada por alunos e professores do Instituto de Arte “FA Grue” em Castelli, uma cidade na região de Abbruzo da Itália que era conhecida por suas cerâmicas já no século VIII a.C. Em um comunicado à imprensa feito pelo Vaticano, se explicou que o atual presépio é uma ode à arte contemporânea e à história cultural da região de Abruzzo.
“Presepe” é o termo italiano para a palavra presépio, que advém da palavra latina para manjedoura. Relatos medievais detalham que, em sua primeira idealização, criada por Francisco de Assis ainda no século XIII, a montagem do primeiro presépio o deixou tão comovido, a ponto de ter uma visão mística do verdadeiro menino Jesus deitado na manjedoura.
O fato é que, desde 2012, o cenário dos presépios do Vaticano têm destacado artistas e materiais de locais diferentes da Itália: nos últimos anos, incluiu um presépio de terracota e um feito de areia, por exemplo. Figuras culturais contemporâneas, como o astronauta desta última versão, têm sido frequentes em exibições na Praça de São Pedro desde 1982.
Ou seja, esta não é a primeira vez que alguém levanta sobrancelhas para um presépio “diferente” do convencional: em 2017, a proposta incluiu uma figura masculina nua, simbolizando uma obra de misericórdia presente no Evangelho – “dar de vestir a quem tem frio”. Por causa dos músculos esculpidos na terracota e do acabamento vitrificado, alguns a compararam a um “boneco Ken”, o namorado metrossexual da boneca Barbie.
Controvérsias entre arte, mensagem e tempos de pandemia
Em uma época em que a Igreja Católica tem lutado para evangelizar e transmitir novos valores, especialmente diante da grave crise de saúde mundial por conta da pandemia de coronavírus, montar um presépio que convida a uma reflexão distante da espiritualidade pode ser uma tentativa trágica de se estabelecer a relação entre a arte e a mensagem do nascimento de Cristo.
Ver o Vaticano exibir um presépio com uma estética diferente da tradicional, distante das figuras realistas usuais, pode abrir espaço para diferentes zombarias e interpretações – algo que têm acontecido bastante na internet, por meio das redes sociais. Além disso, especialistas em arte religiosa criticaram muito a escolha do Vaticano pois, segundo eles, o Natal celebra a Encarnação: Deus que vem ao mundo como carne, não totêmica.
Ao final deste ano extremamente difícil as pessoas procuram a beleza, algo que as eleva, inspira e une, e a cena que se oferece na Praça de São Pedro dá-lhes algo completamente diferente. Especialmente por vivermos um período em que as pessoas se sentem excluídas dos sacramentos e sem sinais de esperança por tantas intempéries, a Igreja precisa repensar seu modo de dialogar com a humanidade. Infelizmente, desta vez, a tentativa foi forçada demais.
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* Ana Beatriz Dias Pinto, é comentarista convidada do blog e nos traz reflexões sobre temas atuais e contextualizados sob a ótica do universo religioso, de maneira gratuíta e sem vínculo empregatício, oportunizando seu saber e experiência no tema de Teologia e Sociedade para alargar nossa compreensão do Sagrado e suas interseções.