Para Clodovis Boff, a teologia não é uma atividade puramente privada, mas essencialmente eclesial. (Imagem: Pixabay)

Continuando nossa reflexão sobre a introdução ao estudo da Teologia, podemos encontrar a opinião de Clodovis Boff, de que a teologia existe direta e imediatamente em função do conhecimento de Deus. Ela quer saber, de imediato, a verdade sobre o Mistério. Sem respeitar esse primeiro momento, cai-se na funcionalização da teologia e da fé, e na miopia do ativismo. Já de maneira indireta e mediatamente, a teologia existe para amar e servir a Deus. Sua finalidade decisiva é: praticar a vontade de Deus. E esse deve ser também o primeiro objetivo intencional, o primum intentionis, de todo teólogo cristão.

E, para tanto, a vida das pessoas é um elemento integrante da teologia, de três maneiras: como origem concreta de conhecimento teológico, como pólo teórico da reflexão teológica e como finalidade da prática teológica. A partir daí, no conceito “vida” podemos distinguir vários níveis, como: estrutural (vida social, histórica, política), cotidiano (relações interpessoais) interior (vida subjetiva, seja emocional, seja espiritual).

A teologia é necessária: para a Igreja em seu conjunto, a fim de se desincumbir a contento de sua missão evangelizadora frente às exigências da racionalidade moderna e pós-moderna; para alguns cristãos individualmente, que encontram aí sua vocação de serviço e também sua auto-realização; para a sociedade: em nível absoluto, pois esta se acha sempre às voltas com as “questões eternas”, as relativas ao sentido da vida; para a sociedade moderna e pós-moderna, na medida em que esta sempre necessita do discernimento superior da Fé; para as sociedades periféricas, enquanto estas precisam, religiosa e culturalmente, da tematização libertadora da fé para poderem viver eficazmente esta fé em seu contexto de opressão e se libertarem na perspectiva do Evangelho.

A teologia deve estar a serviço da vida espiritual. E isso prestando os seguintes serviços particulares: discernir a experiência espiritual; introduzir mistagogicamente à mesma experiência; ceder o passo à devoção e à mística, para além do logos. Além do mais, a teologia é também serviço à Pastoral. É um serviço que visa a construção do Corpo de Cristo.

De acordo com Clodovis Boff, a teologia não é uma atividade puramente privada, mas essencialmente eclesial: a Igreja é o sujeito primário e o espaço vital de seu exercício. E o objeto da teologia, que a fé revelada, é uma realidade confiada a todo o Povo de Deus. Para o autor, a vinculação à fé da Igreja não tolhe a devida atenção para com outras confissões e religiões, porque é a própria fé cristã que busca dialogar com elas, com vistas a aprender e também a ensinar.  

Ainda segundo Clodovis, o primeiro e máximo magistério é o da Palavra de Deus. Depois, vem o magistério do Povo de Deus como um todo e por fim vem o magistério dos Pastores, no qual está incluído o do Sumo Pontífice (os 4 “P’S do magistério: Palavra, Povo, Pastores e Pontífice). Amanhã continuaremos a tratar desta temática.

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 * Ana Beatriz Dias Pinto, é comentarista convidada do blog e nos traz reflexões sobre temas atuais e contextualizados sob a ótica do universo religioso, de maneira gratuíta e sem vínculo empregatício, oportunizando seu saber e experiência no tema de Teologia e Sociedade para alargar nossa compreensão do Sagrado e suas interseções. 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOFF, Clodovis. Teoria do método teológico. 6 ed. Petrópolis: Vozes, 2015. p. 425-492.